TPA e TV Zimbo vão terminar o boicote às atividades do maior partido da oposição, a UNITA. As estações tinham anunciado a medida depois de vários dos seus profissionais terem sido intimidados.
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A Televisão Pública de Angola (TPA), a TV Zimbo e a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) chegaram a um acordo de cavalheiros. Os dois órgãos de comunicação social comprometeram-se a suspender o boicote às atividades do partido político e, em contrapartida, pediram garantias de que os seus jornalistas não serão intimidados.
Em declarações à imprensa, o secretário-geral da UNITA, Álvaro Chikwamanga Daniel, disse que não há razões para um pedido de desculpas, como exigido pelas televisões, porque o partido já repudiou as ameaças de sábado (11.09) protagonizadas por alegados militantes do maior partido da oposição.
"Continua válida a posição assumida pela direção do partido. O entendimento que há é que as televisões vão continuar a cobrir os nossos atos porque a televisão é pública e de todos nós. O entendimento que há é que vamos todos trabalhar para que, em casos de aglomerações, seja preservada a vida dos profissionais e dos não profissionais", afirmou Daniel.
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"Fim da guerra dos comunicados”
A TPA, a TV Zimbo e o maior partido da oposição encontraram-se esta quinta-feira (16.09) em Luanda, durante três horas, no Ministério das Telecomunicações, Tecnologia de Informação e Comunicação Social. A reunião ocorreu depois do Presidente da República, João Lourenço, apelar ao "fim da guerra dos comunicados".
Amílcar Xavier, diretor da TV Zimbo, afirmou que a decisão de boicotar as atividades da UNITA foi tomada em respeito à "liberdade de consciência" dos jornalistas do órgão, que alegaram não ter "condições psicológicas" para voltar a cobrir manifestações.
Para Amílcar Xavier, o "irritante" com a UNITA foi ultrapassado na reunião desta quinta-feira. "No âmbito do interesse público e daquilo que é a divisa da TV Zimbo, vamos naturalmente, dentro da nossa razoabilidade e bom senso, voltar à estrada", frisou.
"A TV Zimbo nasceu livre e independente há 13 anos, e continua como está. Não é pelo facto de termos passado para domínio público que haja desconfiança de que fazemos parte de qualquer laboratório para produzir matérias contra os interesses da UNITA e contra o interesse público", explicou Amílcar Xavier, sublinhado que a televisão que dirige continuará a fazer a diferença no jornalismo angolano.
Governo garante independência
O administrador para a área de conteúdos da Televisão Pública de Angola, Neto Júnior, também confirmou a independência da estação.
Segundo Neto Júnior, o líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior, não tem sido entrevistado na TPA apenas por "questões editoriais".
"Os critérios editoriais são definidos pela direção de informação e são esses que têm estado a nortear a Televisão Pública de Angola, independentemente da entidade que esteja em causa. Em relação ao nome que citou, não é facto que não tenha sido entrevistado pela TPA por uma questão que esteja relacionada por ordens superiores", assegurou.
O secretário de Estado da Comunicação Social, Nuno Caldas, que mediou o diálogo entre a UNITA e as duas estações televisivas, garante igualmente que não há interferência política nas redações dos órgãos de comunicação públicos.
"Penso que a comunicação social é um processo em construção e que a participação e a contribuição de todos é fundamental. Deixamos esta recomendação aos órgãos para que possam assegurar a concretização do direito constitucional de informar os cidadãos sem distinção dos partidos. Portanto, devem cobrir as atividades dos partidos, dar tratamento de informações aos partidos políticos, organizações da sociedade civil e, sobretudo, a programação institucional do Governo", referiu Nuno Caldas.
Na reunião desta quinta-feira estiveram também os responsáveis dos conselhos de administração da Rádio Nacional de Angola (RNA), Edições Novembro e Angop.
Países africanos que mais violam a liberdade de imprensa
Gana é o país africano mais bem classificado no "<i>Ranking</i> Mundial da Liberdade de Imprensa" dos Repórteres sem Fronteiras. A Eritreia é o pior em África e, a nível mundial, só é melhor que a Coreia do Norte.
Foto: Esdras Ndikumana/AFP/Getty Images
Eritreia - posição 179º lugar
A liberdade de imprensa é considerada "não existente". Em 2001, uma série de medidas repressivas contra <i>media</i> independentes levaram a uma onda de detenções. O Presidente Isaias Afeworki é visto como um “predador” da liberdade de imprensa e usa os meios de comunicação nacionais como seus porta-vozes. Escritores, locutores e artistas são censurados e a informação é escondida dos cidadãos.
Foto: picture-alliance
Sudão - 174º lugar
Na capital Cartum, pratica-se a chamada “censura pré-publicação". O Governo detém jornalistas arbitrariamente e interfere abertamente na produção de notícias. A "Lei da Liberdade de Informação de 2015" é vista como uma outra forma de exercer controlo governamental sobre a informação pública. Os jornalistas têm de passar por um teste e obter uma permissão para trabalhar.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Burundi - 159º lugar
Repressão estatal contra a liberdade de imprensa e intimidação de jornalistas é comum no país. <i>Media </i> controlados pelo Estado substituem cada vez mais estações de rádio independentes, depois de a maior parte delas ter sido forçada a fechar, após uma tentativa de golpe de estado há três anos. Centenas de jornalistas fugiram do país desde 2015. Na foto, protesto de jornalistas no país.
Foto: Esdras Ndikumana/AFP/Getty Images
República Democrática do Congo - 154º lugar
Defensores dos <i>media</i> falam em jornalistas mortos, agredidos, detidos e ameaçados desde que Joseph Kabila sucedeu ao pai na presidência do país em 2001. Orgãos de comunicação internacionais queixam-se que o Governo interfere nos sinais de rádio ou corta mesmo a transmissão. Protestos da oposição levaram as autoridades a interromper ou cortar o acesso à Internet.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
Suazilândia - 152º lugar
Esta monarquia absoluta tem a reputação de obstruir o acesso à informação e impedir os jornalistas de fazerem o seu trabalho. Os <i>media</i> estão sujeitos a leis restritivas e repórteres são frequentemente chamados a tribunal pelo seu trabalho. Auto-censura é comum. Um editor saiu recentemente do país depois de fazer uma reportagem sobre negócios obscuros ligados ao Rei Mswati III (na foto).
Foto: picture-alliance/dpa
Etiópia - 150º lugar
O Governo tem uma mordaça sobre os órgãos de comunicação e os jornalistas trabalham sobre condições muito restritivas. Com a Eritreia, este país tem uma das mais altas taxas de jornalistas detidos na África subsariana. Na foto, o jornalista etíope Getachew Shiferaw, que foi condenado a 18 meses de prisão por ter falado com um dissidente.
Foto: Blue Party Ethiopia
Sudão do Sul - 144º lugar
Os jornalistas são obrigados pelo Governo a evitar fazer cobertura do conflito. Órgãos de comunicação internacionais denuciaram casos de assédio e foram banidos deste jovem país, onde pelo menos 10 jornalistas foram mortos desde 2011. Na foto, dois jornalistas do Uganda que tinham sido detidos por autoridades no Sudão do Sul.
Foto: Getty Images/AFP/W. Wudu
Camarões - 129º lugar
O Governo chamou às redes sociais uma “nova forma de terrorismo”, e bloqueia frequentemente o acesso às mesmas. Emissões de rádio e televisão foram bloqueadas duas semanas em março, durante o período eleitoral. Jornais que publicam conteúdos que desagradam políticos no poder são banidos e jornalistas e editores são detidos.
Foto: picture alliance/abaca/E. Blondet
Chade - 123º lugar
Os jornalistas arriscam-se a detenções arbitrárias, agressões e intimidações. Nos últimos meses, o Governo tem vindo a reprimir plataformas de <i>social media</i> e ciber-ativistas. A Internet tem estado bloqueada no país desde 28 de março, no seguimento de um “apagão” da Internet devido a manifestações da sociedade civil e protestos dos órgãos de comunicação num chamado “dia sem imprensa”.
Foto: UImago/Xinhua/C. Yichen
Tanzânia - 93º lugar
Críticos dizem que o Presidente John Magufuli tem vindo a atacar a liberdade de expressão deliberadamente, desde que tomou posse em 2015. Jornalistas foram presos ou dados como desaparecidos. Orgãos de comunicação social foram fechados ou impedidos de publicar durante longos períodos de tempo. Leis que podem ser usadas contra os <i>media</i> foram apertadas.