Foi adiado para terça-feira (12.01) o julgamento de 11 ativistas detidos em protesto contra o novo administrador do Cazenga. Jovens acusam Tomás Bica de ordenar vandalização de mural que homenageia ativistas angolanos.
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Ainda não há uma acusação formal contra os 11 jovens detidos na passada sexta-feira (08.01), na sequência de um protesto contra Tomás Bica, administrador do município do Cazenga, mas especula-se que terão cometido crimes de arruaça. Esta segunda-feira (11.01), os ativistas ficaram apenas duas horas no tribunal e voltaram para as celas das esquadras policiais.
Aos advogados foi informado que o Ministério Público deverá fazer uma apreciação profunda do processo, diz Zola Bambi, membro da equipa da defesa. No entanto, o advogado dos ativistas considera que o adiamento poderá facilitar a "fabricação" de provas inexistentes.
"Não foi dito nada sobre acusação, simplesmente fomos informados de que a polícia os indiciou por crimes de arruaça", adianta Zola Bambi. "O que deveria ser qualificado dentro do nosso ordenamento penal não nos foi dito. Isso quer dizer que desconhecemos a razão da detenção e da possível audiência."
Em declarações à DW África, o advogado diz que os seus constituintes não cometeram crimes, porque foram detidos num ato de manifestação pacífica.
Com o adiantamento da sessão, o processo perdeu a essência de julgamento sumário, explica a defesa: "Foram detidos por uma situação e agora está-se a analisar, porque faltam elementos. Perdeu a essência. O que estão a fazer é fabricar provas contra os ativistas", afirma Zola Bambi.
Novas detenções
Esta segunda-feira, outros seis ativistas foram detidos junto ao Tribunal Provincial de Luanda pela Policia Nacional e postos posteriormente em liberdade. As autoridades policiais, que fizeram um cordão diante do tribunal, abandonaram os jovens nas proximidades da província do Kwanza Sul, a mais de 100 quilómetros da cidade de Luanda.
Adilson Manuel, um dos detidos, afirma que os agentes os deixaram descalços no meio da mata do Cabo Ledo. A DW África ouviu o ativista esta tarde, quando o grupo procurava boleia para chegar à cidade.
"Fomos detidos pela polícia às 13h00, quando nos concentrávamos no Tribunal Dona Ana Joaquina. De seguida, fomos levados para a esquadra da Ilha de Luanda e depois transportaram-nos até ao Cabo Ledo, próximo do Kwanza Sul. Puseram-nos nas matas e apontaram-nos uma arma de fogo, recolheram o nosso calçado, os telefones e foi assim que nos soltaram. Estamos agora a caminhar descalços sem água e com fome".
A DW procurou, sem sucesso, ouvir a versão da polícia.
Angola: Jovens desempregados marcham em Luanda
O elevado índice de desemprego levou os jovens angolanos novamente às ruas. Durante a caminhada de sábado (08.12) os "kunangas", nome atribuído aos desempregados, exigiram políticas para a criação de postos de trabalho.
Foto: DW/B. Ndomba
Caminhar por mais emprego
Onde estão os 500 mil empregos que o Presidente da República, João Lourenço, prometeu durante a campanha eleitoral de 2017? Foi uma das questões colocadas pelos jovens desempregados que marcharam nas ruas de Luanda. A marcha decorreu sob o lema "Emprego é um direito, desemprego marginaliza".
Foto: DW/B. Ndomba
Apoio popular
Populares e vendedores ambulantes apoiaram o protesto deste sábado, que foi também acompanhado pelas forças de segurança. Participaram na marcha algumas associações como o Movimento Estudantil de Angola (MEA) e a Associação Nova Aliança dos Taxistas. Os angolanos que exigem criação de mais postos de trabalho marcharam do Cemitério da Sant Ana até ao Largo das Heroínas, na Avenida Ho Chi Minh.
Foto: DW/B. Ndomba
Níveis alarmantes
O Governo angolano reconhece que o nível de desemprego é preocupante no país. 20% da população em idade ativa está desempregada, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgados no ano passado. Os jovens em Angola são os mais afetados - 46% não têm emprego.
Foto: DW/B. Ndomba
Palavras de ordem
Os manifestantes exibiram vários cartazes com mensagens dirigidas ao Presidente e ao Governo: "João Lourenço mentiroso, onde estão os 500 mil empregos?", "Ser cobrador de táxi não é minha vontade" e "Por kunangar perdi respeito em casa”, foram algumas das questões levantadas.
Foto: DW/B. Ndomba
Estágios, inclusão e subsídios
Além de empregos, os manifestantes exigem políticas de estágio - para que os recém formados tenham a experiência exigida pelas empresas – e programas que beneficiem pessoas com deficiência física. Este sábado, pediram também ao Governo que atribua subsídio de desemprego aos angolanos que não trabalham.
Foto: DW/B. Ndomba
Sem perspetivas de trabalho
O índice do desemprego piorou com a crise económica e financeira em Angola, desde 2015. O preço do crude caiu no mercado internacional, e, como o país está dependente das exportações de petróleo, entraram menos divisas. Muitas empresas foram obrigadas a fechar as portas e milhares de cidadãos ficaram desempregados.
Foto: DW/B. Ndomba
Formados e desempregados
Entre os manifestantes ouvidos pela DW África em Luanda, histórias como a de Joice Zau, técnica de refinação de petróleo, repetem-se. Concluiu a sua formação em 2015 e, desde então, não teve quaisquer oportunidades de emprego: "Já entreguei currículos em várias empresas no ramo petrolífero e nunca fui convocada", conta. Gostaria de continuar a estudar, mas, sem emprego, são muitas as dificuldades.
Foto: DW/B. Ndomba
É preciso fazer mais
Para a ativista Cecília Quitomebe, o Executivo está a "trabalhar pouco para aquilo que é o acesso ao emprego para os jovens". No final da marcha, a organização leu um "manifesto" lembrando que a contestação à política de João Lourenço começou a 21 de julho, quando o mesmo grupo de jovens exigiu mais políticas de emprego. Na altura, a marcha realizou-se em seis cidades. Este sábado, ocorreu em 12.