Mais de 9,3 milhões de angolanos são chamados a escolher, entre seis candidatos, o sucessor de José Eduardo dos Santos. Enviado especial da DW África descreve "tranquilidade e calma" antes da abertura das urnas.
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São as quartas eleições em Angola, as segundas nos moldes atuais, com eleição direta do Parlamento e indireta do Presidente da República, que será o cabeça-de-lista do partido mais votado. As urnas abrem às 7h00 e deverão ser encerradas às 18h00.
Segundo o enviado especial da DW África em Luanda, António Cascais, "desta vez, nota-se que as pessoas estão mesmo com vontade de mudança. Exprimem esse sentimento sempre que pedimos para dizerem o que pensam".
No entanto, "há muita gente que acredita que essa mudança poderá vir do candidato do MPLA, João Lourenço", acrescenta o enviado da DW. "Outros afirmam que precisam de reformas vindas dos partidos da oposição".
O comício de encerramento da UNITA, no Cazenga, em Luanda, "teve mais gente do que o último comício do MPLA", lembra António Cascais. "Abel Chivukuvuku, da CASA-CE, também tem atraído muita gente".
O enviado da DW sublinha, ainda assim, que "avaliando por aquilo que se vê na rua e na comunicação social, tudo está como nas últimas eleições: uma grande preponderância do partido no poder o MPLA".
Segurança reforçada
Os últimos dias da campanha eleitoral ficaram marcados por críticas da oposição à CNE, que acusam de falta de transparência, e queixas de eleitores obrigados a percorrer mais de mil quilómetros para poderem votar. Muitos delegados da oposição não foram acreditados para as mesas de voto. António Cascais fala em "problemas recorrentes", mas sublinha que se prevê que haja "menos problemas do que nas eleições anteriores".
Os principais candidatos votam em Luanda, durante a manhã, o mesmo acontecendo com José Eduardo dos Santos, que vota pela última vez ainda nas funções de Presidente da República. José Eduardo dos Santos vota, como habitualmente, na Cidade Alta. João Lourenço, candidato do MPLA, vota na Universidade Agostinho Neto. O líder da UNITA, Isaías Samakuva, também vai estar nos arredores da capital: vota na Universidade Óscar Ribas, em Talatona. Já Abel Chivukuvuku, da CASA-CE, vota na baixa de Luanda, e Benedito Daniel, do PRS e Quintino Moreira, da APN, vão estar em Viana.
De acordo com dados do Ministério do Interior, estas eleições serão vigiadas por mais de 100 mil agentes de segurança, tendo sido decretada tolerância de ponto em todo o país. Nas ruas de Luanda, diz o enviado especial da DW África, "o ambiente tem estado tranquilo".
Até ao dia de terça-feira estavam acreditados pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE) um total de mil 440 observadores, entre nacionais e internacionais.
Eleições em Angola: Do combate à corrupção ao "Dubai africano"
A DW África analisou os principais factos que marcaram a campanha eleitoral angolana e as promessas mais faladas de cada partido concorrente às eleições gerais de 23 de agosto. Um resumo fotográfico.
Foto: privat
Pouco espaço para a oposição
Na pré-campanha, a oposição afirmou que nas ruas de Luanda só se viam cartazes do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Segundo a Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), as agências publicitárias recusavam-se a divulgar materiais da oposição, sob risco de perderem as licenças e os espaços publicitários atribuídos pelo Governo Provincial de Luanda.
Foto: DW/N. Sul de Angola
Propostas na rádio e televisão
Após a pré-campanha, a Comissão Nacional Eleitoral estabeleceu o período de 23 de julho a 21 de agosto para a campanha eleitoral. Além dos atos de massa, os partidos puderam apresentar as suas propostas nos meios de comunicação social do país. A oposição voltou a dizer que não teve o mesmo espaço que o partido no poder.
Foto: DW/B.Ndomba
Combate à corrupção
Combater a corrupção foi uma das metas apresentadas pelo MPLA. O partido no poder, que tem João Lourenço (foto) como cabeça-de-lista, reconheceu durante a campanha que o país "não pode mais sofrer com a corrupção". A ausência do candidato à vice-presidência, Bornito de Sousa, e do Presidente cessante José Eduardo dos Santos, que supostamente estavam doentes, também marcou a campanha eleitoral.
Foto: DW/ A. Cascais
"Interesse nacional"
Entre as propostas da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) está a gratuidade da educação até o ensino secundário. O maior partido da oposição também prometeu um Governo em que o "interesse nacional" esteja acima de "interesses partidários, setoriais ou pessoais". O partido liderado por Isaías Samakuva encerrou sua campanha eleitoral no Cazenga (foto), em Luanda.
Foto: DW/A. Cascais
Mudança depois de 42 anos
A CASA-CE, segundo maior partido da oposição, reuniu ao longo da campanha milhares de apoiantes em diferentes atos de massa nas províncias (foto em Benguela, a 29 de julho). No ato de encerramento, em Luanda, o candidato Abel Chivukuvuku pediu confiança dos angolanos para pôr fim aos "42 anos de sofrimento e má governação".
Foto: DW/N. S. D´Angola
Estados federados
A campanha do Partido de Renovação Social (PRS) foi marcada pela proposta de implantar um sistema federalista no país. O cabeça-de-lista Benedito Daniel (ao centro da foto) defendeu que só através dessa reforma as províncias angolanas – convertidas em estados – teriam autonomia para governar.
Foto: DW/M. Luamba
Angolano no "centro da governação"
A campanha da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) deu especial atenção à pobreza, saúde, educação e emprego. Liderado por Lucas Ngonda, o partido diz que é a "única formação partidária que tem o angolano como centro da sua governação". A abertura da campanha eleitoral aconteceu no Bié (foto), berço do antigo braço armado do partido, a União Para a Libertação de Angola (UPA).
Foto: DW/J. Adalberto
"Dubai africano"
A Aliança Patriótica Nacional (APN) é o partido com o candidato à Presidência mais jovem. Durante a sua campanha eleitoral, o ex-deputado Quintino Moreira (à esquerda na foto) prometeu criar um milhão de empregos – o dobro do que o MPLA prometeu nestas eleições. Além disso, disse que transformaria a província do Namibe num "Dubai africano".