Angola pediu ajuda financeira ao FMI e o Governo entende que esta será uma forma de reduzir o rácio da dívida do país. Mas vários cidadãos questionam o volume do endividamento ao estrangeiro.
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A lista de Estados onde Angola foi pedir empréstimos é extensa. No rol, estão países como a China, a Rússia ou o Brasil, mas não só.
Ainda na semana passada, o Governo angolano assinou um acordo de financiamento de 431 milhões de euros com o banco alemão Commerzbank. Ao mesmo tempo, foi anunciado que Angola pediu ajuda financeira ao Fundo Monetário Internacional (FMI) no valor de 3,9 mil milhões de euros.
O Governo diz que os créditos servirão de "alavanca" ao investimento privado e, por isso, tem recebido elogios. Mas Agostinho Sicato, diretor do Centro de Debates e Estudos Académicos de Angola (CDEAA), critica o facto de Luanda não divulgar o valor total da dívida do país.
"Num país como Angola, desde que a guerra terminou, nunca foi explicada qual é a dívida real do Estado, qual é a dívida externa que temos, com quem é que nos endividámos e onde é que param os dinheiros", diz. "Nenhum angolano sabe quanto é que o país deve e a quem deve. Os próprios deputados não sabem. Passam aí a fazer 'show off' todas as semanas no Parlamento, e nem sequer sabem em concreto qual é a dívida do Estado."
China: o maior credor
Acredita-se, porém, que a China é o país com quem Angola tem mais dívida. Em maio deste ano, o jornal angolano Expansão noticiou que, até dezembro de 2017, cada angolano devia à China 754 dólares. A dívida total de Angola à China rondaria os 21,4 mil milhões de dólares.Na semana passada, o embaixador da China em Angola, Cui Aimin, disse em Luanda que a dívida que o Estado angolano contraiu ao seu país "é controlável, sustentável e não é muito má", mas não adiantou valores.
Angola: Um país hipotecado?
O economista Josué Chilundulu defende mais diálogo por parte do Executivo. "O Governo tem que dizer até onde vai o limite do seu endividamento. O Governo tem que dizer porque que se está a socorrer destes investimentos e tem que informar a população qual é a sua agenda de desenvolvimento real", afirmou.
"Estamos a hipotecar o país"
O analista angolano Agostinho Sicato teme que, com o acumular do endividamento, os cidadãos saiam prejudicados. "Estes países com quem nos endividámos, quando não soubermos como lhes pagar, vão apropriar-se dos cidadãos e das suas próprias terras", sublinhou. "Na verdade, estamos a hipotecar o país."
Em declarações à DW África em Luanda, o ativista Benedito Jeremias pede ao Presidente angolano, João Lourenço, que tenha cuidado nas negociações com o FMI, marcadas para outubro.
"É preciso que o Presidente João Lourenço use a inteligência, que negocie bem essas dívidas, que encontre ganhos nessas parcerias para que encontremos, também no futuro, facilidades no pagamento desses dinheiros", disse o ativista angolano.
"É necessário que o presidente João Lourenço no exercício das suas funções procure se ater aos princípios da transparência, aos princípios da ética na gestão dos patrimónios público", alerta Benedito Jeremias.
China em África: maldição ou benção?
A China quer mudar a sua imagem: de país explorador das matérias-primas africanas, para agente de desenvolvimento. Fazemos uma viagem pela história das relações sino-africanas.
Foto: AFP/Getty Images
Parceiros igualitários?
A China leva estradas asfaltadas, grandes estádios de futebol e internet de banda larga para África. Ao mesmo tempo, pede ao continente petróleo e outras matéria-primas. A China já é o maior parceiro comercial de África. Até 2020, o país pretende duplicar o volume de negócios para 400 mil milhões de dólares. Os críticos temem que haja apenas um vencedor nestes negócios: a China.
Foto: Getty Images
TAZARA: o primeiro grande projeto
A cooperação sino-africana começou nos anos 50 e 60. Como sinal da fraternidade socialista, a China financiou a construção de uma linha ferroviária que transportava o cobre da Zâmbia para a cidade portuária da Tanzânia, Dar es Salaam. O projeto baseava-se na amizade inter-étnica e no trabalho solidário. A ferrovia chamda TAZARA " Tanzania-Zambia Railway" funciona até aos dias de hoje.
Foto: cc-by-sa-Jon Harald Søby
Chegaram para fazer negócios
Com a estratégia "Go Global", na década de 90, o Governo chinês muda a sua política para África, começando a apoiar empresas do próprio país a fazerem negócios com o continente. O objetivo: proteger os recursos naturais estratégicos e promover o desenvolvimento económico da China. Ou seja, ter África como um parceiro de negócios e mercado para os bens de consumo chineses.
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Críticas do Ocidente
Com a nova política, a China garante para si campos de petróleo e as minas de metais preciosos, não tendo medo de trabalhar com regimes autoritários e corruptos. O país não é bem visto na Europa e nos Estados Unidos. A China só estaria interessada na exploração de recursos naturais, mas não no bem das pessoas, é a crítica do Ocidente.
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Infraestruturas como moeda de troca
A China também faz negócios com o Presidente do Sudão, Omar al-Bashir, procurado pelo Tribunal Penal Internacional por genocídio. O país está a tornar-se o mais importante investidor na indústria de petróleo sudanês. Além disso, a empresa chinesa de petróleo estatal financia a construção da barragem de Merowe, no norte do Sudão.
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Oferta de 150 milhões de euros à União Africana
As boas relações com a África são bem pagas pela China. Em 2012, o país financiou a construção da sede da União Africana, em Adis Abeba. "A China vai ajudar os países africanos a ampliar a sua força e independência", disse o chefe da delegação chinesa na cerimónia de abertura.
Foto: Imago
Líder do mercado de telecomunicações
Duas empresas chinesas dominam o mercado africano de telecomunicações: a ZTE e a Huawei. Foi a essas empresas que Governos de todo o continente fizeram as suas grandes encomendas. Na Etiópia, a Huawei e a ZTE constroem uma rede de 3G para todo o país por 1,7 mil milhões de dólares. Na Tanzânia, empresas chinesas instalaram cerca de 10 mil quilómetros de cabos de fibra ótica.
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Concorrentes desagradáveis
As esperanças de melhores oportunidades em África não atraem apenas as grandes empresas, mas também milhares de cidadãos comuns chineses . Eles abrem pequenas lojas onde vendem produtos chineses baratos: utensílios de cozinha, jóias, dispositivos elétricos. "Muitos comerciantes africanos não estão satisfeitos com a nova concorrência", diz o economista queniano David Owiro.
Foto: DW/J. Jaki
À espera de novos postos de trabalho
Seja no comércio de retalho ou na construção de estradas "os africanos raramente lucram com investimentos chineses. As empresas trazem os seus próprios trabalhadores", diz Owiro. Agora, na África do Sul, onde a China acaba de inaugurar uma fábrica de camiões, isso pode mudar. O Governo sul-africano elogia o projeto como um marco para a industrialização africana e espera novos postos de trabalho.
Foto: Imago
De exportador a agente de desenvolvimento?
O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, ofereceu dois mil milhões de dólares para um fundo de desenvolvimento para África durante a sua visita ao primeiro-ministro da Etiópia, Hailemariam Desalegn, em maio de 2014. A liderança chinesa quer abrir um novo capítulo nas relações China-África, passando de país explorador das matérias-primas para agente de um desenvolvimento sustentável.
Foto: Reuters
Medo pela reputação
"A China teme pela sua reputação no mundo", diz Sun Yun do centro de pesquisa norte-americano "Brookings". As alegações nos média de que a China só estaria interessada nas matérias-primas de África levaram a esta mudança. O Governo publicou recentemente uma lista dos programas de ajuda ao desenvolvimento, que inclui 30 hospitais, 150 escolas, 105 projetos de energia e água renováveis.
Foto: AFP/Getty Images
O charme chinês
Para promover a sua missão em África, a China lançou uma grande campanha mediática. Os meios de comunicação do Governo para o estrangeiro focam claramente os negócios, África é retratada como o continente próspero. Algo que contrasta com décadas de cobertura negativa dos meios de comunicação ocidentais.