Grande parte dos eleitores angolanos é jovem e vai às urnas pela primeira vez a 23 de agosto. Dificuldades do dia-a-dia podem influenciar o resultado da votação.
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Com uma das populações mais jovens do mundo, segundo o Censo Geral da População e Habitação, de 2013, o xadrez político em Angola poderá ser diferente depois das eleições de 23 de agosto, devido ao voto da juventude.
Muitos jovens que votarão pela primeira vez não sentiram o impacto da guerra que acabou há 15 anos, mas sentem no seu dia-a-dia as consequências da crise económica causada pela baixa do preço do petróleo no mercado internacional. Desta vez, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido no poder desde 1975, já não pode utilizar o argumento do crescimento económico, como fez no último pleito. Desde finais de 2015, vive-se a escassez de divisas e, consequentemente, a subida dos preços dos principais produtos básicos, como o arroz.
Adão da Silva Gomes, de 19 anos, é um desses jovens. Não tem emprego e não vai à escola, mas vai votar pela primeira vez no dia 23.
"A juventude de hoje em dia está a precisar muito de estudar e temos poucas escolas aqui no nosso país. Não temos empregos. Estamos a ver os estrangeiros que estão a vir aqui para Angola e estão a seguir o caminho. Deveríamos estudar", considera.
Segunda Ngunza, de 22 anos, é outra cidadã que vai às urnas pela primeira vez nas próximas eleições. Embora revele uma certa falta de conhecimento sobre as eleições, ela não tem dúvidas: "Votar é uma alegria", diz.
"Estamos a sentir alegria. Vamos votar! Em todo o partido que aparecer, vamos votar", afirma a jovem angolana.
Intenção de voto "não conta", diz ativista
Estas são as terceiras eleições em Angola desde que o país alcançou a paz em 2002 e as primeiras em tempo de crise económica e financeira. Ainda assim, segundo o ativista cívico angolano Mbanza Hamza, as intenções de voto dos eleitores não deverão "contar muito" nestas eleições - "essa intenção nunca foi respeitada nos pleitos que já aconteceram", considera.
"Eu acho que toda a nossa atenção, nessa fase, devia estar a ser focada nas violações [da lei] que vão sendo cometidas, na construção daquilo que mais tarde virá a ser chamado de fraude", avalia o ativista cívico.
A campanha eleitoral está na reta final. A 23 de agosto, os angolanos vão escolher nas urnas o novo Presidente da República e os seus representantes na Assembleia Nacional. Por isso, sublinha Hamza, deve-se prestar maior atenção à eventual "violação da lei".
Para o ativista, "a fraude não é o método nem a contagem, é um conjunto de coisas que vão acontecendo, e que vão sendo deixadas acontecer, que contribuem para a descredibilização do processo."
Angola: Um país jovem vai a votos
Sondagens contraditórias
O site "Maka Angola" do jornalista e ativista angolano Rafael Marques de Morais, noticiou, na última semana, que uma sondagem encomendada pela Presidência da República prevê uma vitória do MPLA com apenas 38% dos votos.
A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) obteria 32% das intenções de voto, enquanto a Convergência Ampla de Salvação de Angola-Coligação Eleitoral (CASA-CE) surgiria após a atual maior força da oposição, com 26%. Cerca de 90% dos cidadãos teriam sido inquiridos no estudo realizado pela empresa brasileira Sensus Pesquisa e Consultoria, nas 18 províncias do país, segundo o "Maka Angola".
No entanto, esta segunda-feira (14.08), o Jornal de Angola divulgou que o Consórcio Marketpoll Consulting, empresa angolana, e a Sensus Pesquisa e Consultoria desmentiram a sondagem eleitoral divulgada pelo "Maka Angola", afirmando que o estudo nunca foi realizado.
O jornal refere-se a um comunicado conjunto das duas empresas e escreve que "os dados das pesquisas, realizadas pela Marketpoll/Sensus diferem, radical e frontalmente, dos dados apresentados pelo site 'Maka Angola' e que a Marketpoll/Sensus nunca realizou qualquer sondagem de opinião, com uma base amostral de 9.155 entrevistas no país".
Uma sondagem sobre as eleições de 23 de agosto, realizada em julho pelo Instituto Superior Politécnico Jean Piaget de Benguela em parceria com o Instituto Superior Politécnico Sol Nascente do Huambo e o apoio da Universidade Católica Portuguesa, apontava para um cenário de maioria absoluta do MPLA, com mais de 60% das intenções de voto.
Segundo este estudo, a CASA-CE contava com cerca de 19% das intenções de voto e a UNITA com 15%. Carlos Pacatolo, coordenador do inquérito, considerou que "a margem de erro ronda os 1,3%."
Angola: Os contrastes de um gigante petrolífero
O "boom" do petróleo ainda não é para todos. Ao mesmo tempo que Angola oferece oportunidades de investimento a empresas nacionais e estrangeiras, mais de um terço da população vive com menos de um dólar por dia.
Foto: DW/R. Krieger
Lama no cotidiano
O bairro Cazenga é o mais populoso de Luanda – ali, vivem mais de 400 mil pessoas numa área de 40 quilômetros quadrados. Em outubro de 2012, chuvas fortes obrigaram muitos habitantes a andar na lama. Do Cazenga saíram muitos políticos do partido governista angolano MPLA. "Uma das prioridades de políticos pobres é a riqueza rápida", diz o economista angolano Fernando Heitor.
Foto: DW/R. Krieger
Dominância do MPLA
Euricleurival Vasco, 27, votou no MPLA nas eleições gerais de agosto de 2012: "É o partido do presidente. Desde a guerra civil, ele tenta deixar o poder, mas a população não deixa". Críticos dizem que José Eduardo dos Santos não cumpriu nenhuma promessa eleitoral, como acesso à água e à eletricidade. Mas o governo lançou um plano de desenvolvimento em novembro para dar esses direitos à população.
Foto: DW/R. Krieger
Economia informal em Angola
Muitos angolanos esperam riqueza do chamado "boom" do petróleo. Mas grande parte da população é ativa na economia informal, como estas vendedoras de bolachas na capital, Luanda. Segundo a ONU, 37% da população vivem com menos de um dólar por dia. Elias Isaac, da organização de defesa dos direitos humanos Open Society, considera este um "contrassenso" entre "crescimento e desenvolvimento".
Foto: DW/R. Krieger
Uma infraestrutura de fachada?
A capital angolana Luanda é considerada uma das cidades mais caras do mundo. Um prato de sopa pode custar cerca de 10 dólares num restaurante, o aluguel de um apartamento mais de cinco mil dólares por mês. A Baía de Luanda é testemunho constante do "boom" do petróleo: guindastes e arranha-céus disputam quem é mais alto.
Foto: DW/Renate Krieger
O "Capitólio" de Angola
Próximo à Baía de Luanda, surge a nova sede do parlamento angolano. O partido governista MPLA vai ocupar a maior parte dos 220 assentos: elegeu 175 deputados em agosto de 2012. Por outro lado, o MPLA perdeu 18 assentos em comparação à eleição de 2008. A UNITA, maior partido da oposição, ganhou 32 assentos em 2012 – mas tem pouco espaço...
Foto: DW/R. Krieger
O presidente no cotidiano de Luanda
…porque, segundo críticos, o presidente José Eduardo dos Santos (numa foto da campanha eleitoral) "domina tudo": o poder Executivo, o Judiciário e o Legislativo, diz o economista Fernando Heitor. José Eduardo dos Santos também parece dominar muitas ruas de Luanda: em novembro de 2012, quase todas as imagens eram da campanha do partido no poder, o MPLA.
Foto: DW/R. Krieger
Dormir nos carros
Os engarrafamentos são frequentes em Luanda. Por isso, muitos funcionários que moram em locais mais afastados já partem para a capital angolana de madrugada. Ao chegarem em Luanda, dormem nos carros até a hora de ir trabalhar – juntamente com as crianças que precisam ir à escola. A foto foi tirada às 06:00h da manhã perto do Palácio da Justiça em novembro de 2012.
Foto: DW/R. Krieger
A riqueza em recursos naturais de Angola
Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África, mas também tem potencial para se tornar um dos maiores exportadores de gás natural. A primeira unidade de produção de LNG – Gás Natural Liquefeito, em inglês – foi construída no Soyo, norte do país, mas ainda está em fase de testes. A fábrica tem uma capacidade de produção de 5,2 milhões de toneladas de LNG por ano.
Foto: DW/Renate Krieger
Para acabar com a dependência do petróleo...
A diversificação da economia poderia ser uma solução, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo angolano criou um fundo soberano do petróleo para investir no país e no estrangeiro, e para ter uma reserva caso haja oscilações no preço do chamado "ouro negro". Uma alternativa, segundo especialistas, poderia ser a agricultura, já que o petróleo só deve durar mais 20 ou 30 anos.
Foto: DW/R. Krieger
Angola atrai estrangeiros
Vêem-se muitas placas em chinês e empresas chinesas em Angola. Os chineses são a maior comunidade estrangeira no país. Em seguida, vêm os portugueses, que em parte fogem à crise económica europeia. Depois, os brasileiros, por causa da proximidade cultural. Todos querem uma parte da riqueza angolana ou investem na reconstrução do país.
Foto: DW/R. Krieger
Homem X Asfalto
Para o educador Fernando Pinto Ndondi, o governo angolano deveria investir "no homem e não no asfalto". Há cinco anos, Fernando e sua famíla foram desalojados da ilha de Luanda por causa da construção de uma estrada. Agora vivem nestas casas precárias. O governo constrói novas casas para a população. Porém, os preços, a partir de 90 mil dólares, são altos demais para a maior parte dos angolanos.
Foto: DW/Renate Krieger
Para onde vai o dinheiro?
O que aconteceu com 32 mil milhões de dólares lucrados pela empresa petrolífera estatal angolana Sonangol entre 2007 e 2011? Um relatório do FMI constatou, em 2011, que faltava essa soma nos cofres públicos. A Sonangol diz ter investido o dinheiro em infraestrutura. Elias Isaac, da Open Society, diz que o governo disponibiliza mais informações – o que "não é sinônimo de transparência".