Em Angola, a UNITA tem dificuldades financeiras para pagar as despesas do enterro do seu líder histórico, Jonas Savimbi, e lança petição para angariar fundos. Partido de oposição faz 53 anos nesta quarta-feira (13.3).
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A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) está a preparar o funeral do seu líder fundador, Jonas Savimbi, previsto para abril. O maior partido da oposição angolana lançou uma campanha de angariação de fundos, mas foi alvo de críticas nas redes sociais. Em entrevista à DW África, a UNITA garante que a resposta dos militantes está a ser satisfatória.
O maior partido de oposição em Angola assinala nesta quarta-feira o seu 53º aniversário, num ano que já está a mostrar-se especial para o partido, um vez que deverão ser realizadas as cerimónias fúnebres de Savimbi, 17 anos depois da sua morte.
Jonas Savimbi foi morto em combate a 22 de fevereiro de 2002 em Lucusse, província de Moxico, Angola. O líder da UNITA, inicialmente um grupo de guerrilha e hoje maior partido da oposição do país, enfrentava as forças governamentais.
"Consagração da memória
"Num comunicado, divulgado por ocasião do aniversário do partido, a UNITA diz tratar-se do "ano da consagração da memória" de Savimbi. Alcides Sakala, porta-voz do referido partido, diz que este é um momento de "reflexão" sobre a vida e a obra do seu líder fundador."A celebração dos 53 anos do nosso partido reveste-se de uma grande importância, particularmente no ano em que realizamos as exéquias do Dr. Savimbi. É um momento de reflexão sobre sua obra e ideais, sobre sua visão, numa altura em que o partido agiganta-se em todo o país", disse.
O funeral está previsto para o início de abril, na província angolana do Bié. O Governo disse que o funeral do antigo líder do "Galo Negro" não terá honras de Estado, por não pertencer à família governamental na altura da sua morte.
Há um mês, a UNITA lançou uma campanha de recolha de fundos. O partido pede 500 kwanzas (cerca de 1,4 euros) por militante para ajudar a custear as cerimónias fúnebres de Savimbi. A campanha foi alvo de várias críticas nas redes sociais. Há quem diga, por exemplo, que é uma "vergonha", que a UNITA peça "esmolas" aos seus membros.
"Recolha voluntária"
Angola: UNITA busca fundos para enterrar Jonas Savimbi e é alvo de críticas
Em entrevista à DW África, o porta-voz do maior partido da oposição em Angola justifica a realização da recolha de fundos como "voluntária". "O problema de recursos foi sempre o calcanhar de Aquiles das organizações políticas - sobretudo quando estão na oposição. Mas a direção do partido achou que se deveria fazer essa petição para angariar fundos e ajudar o trabalho relacionado ao processo das exéquias", explicou.
Sakala diz que a adesão dos cidadãos e militantes à recolha de fundos é satisfatória. "Os resultados são encorajadores. Há respostas positivas e penso que os militantes do partido estão sensibilizados para a importância deste grande ato, que vai culminar na exumação dos restos mortais do Dr. Savimbi na sua aldeia natal, localidade de Lopitanga, no município do Andulo".
O porta-voz da UNITA não adiantou, no entanto, quanto dinheiro já foi angariado. As exéquias de Savimbi começaram a ser planeadas em agosto do ano passado, quando o Presidente da República, João Lourenço, prometeu empenhar-se pessoalmente no processo, depois de reunir-se com o líder da UNITA, Isaías Samakuva, no palácio presidencial.
Entretanto, técnicos angolanos, sul-africanos e portugueses deslocaram-se à província de Moxico, onde Savimbi foi sepultado depois de ser morto em combate, e recolheram amostras para fazer testes de ADN.
Dez anos de paz em Angola
No dia 4 de Abril de a 2002 foi assinado o acordo de paz entre o governo do MPLA – Movimento Popular de Libertação de Angola - e a UNITA - União Nacional para a Independência Total de Angola - , as duas formações políticas que mais influência tinham e têm no país. Dez anos depois, o que como está o país em termos de democracia, desenvolvimento humano, económico e social?
Foto: AP
À terceira foi de vez
A 4 de abril de 2002, o chefe das forças armadas do governo do MPLA, General Armando da Cruz Neto (esq.), e o chefe do estado-maior da UNITA, General Abreu Muengo Ukwachitembo Kamorteiro, trocam o acordo de paz assinado na Assembleia Nacional, em Luanda. Foi o terceiro acordo entre estas duas frações da guerra civil em Angola depois de Bicesse (Portugal) em 1991 e Lusaka (Zâmbia) em 1994.
Foto: picture-alliance/dpa/dpaweb
Como tudo começou
A guerra começou com a luta contra o poder colonial. Em 1961 vários grupos lutaram contra os portugueses. O MPLA, apoiado pela ex-União Soviética e por Cuba foi um desses grupos, assim como a UNITA que, inicialmente, teve o apoio da China, e a FNLA que teve o apoio de Mobuto Sese Seko, na altura presidente do então Zaire. Na foto: soldados portugueses em Angola no ano de 1961.
Foto: AP
Guerra entre iguais
Após a saída dos portugueses e a independência formal, a 11 de novembro de 1975, os três movimentos de libertação MPLA, UNITA e FNLA entraram em conflito. O MPLA de orientação marxista contou com apoio soviético e cubano. A UNITA recebeu apoio dos Estados Unidos da América e de tropas sul-africanas.
Foto: picture-alliance/dpa
Refugiados de guerra
Segundo dados do ACNUR, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, mais de 600 mil angolanos refugiaram-se no estrangeiro e cerca de 4 milhões dispersaram-se pelas regiões do próprio país. Na fotografia: refugiados angolanos num acampamento próximo do Huambo no ano de 1999.
Foto: picture-alliance / dpa
Retirada dos soldados cubanos
O general cubano Samuel Rodiles, o general brasileiro Péricles Ferreira Gomes, chefe de um grupo de observadores da ONU e o general angolano Ciel Conceição, a 10 de janeiro de 1989 (da esq. a dt.). Dia em que os primeiros três mil soldados cubanos sairam do país. A retirada foi fixada num acordo assinado em 1988, entre a África do Sul, Cuba e Angola. Cuba orientava o MPLA militarmente desde 1975.
Foto: picture-alliance/dpa
Apoio da ex-República Democrática da Alemanha ao governo do MPLA
O Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, visitou no dia 14 de outubro de 1981 o Muro de Berlim do lado da Alemanha Oriental (RDA). Na Porta de Brandemburgo, recebeu as saudações das tropas de fronteira da República Democrática da Alemanha do Tenente-General Karl-Heinz Drews.
Foto: Bundesarchiv
Primeira tentativa falhada em 1991 e 1992
Depois do acordo de paz de Bicesse (Estoril, Portugal) de 1991, realizaram-se as primeiras eleições presidências do país em 1992. O candidato do MPLA, José Eduardo dos Santos, saiu vencedor, mas sem maioria absoluta na primeira volta. Jonas Savimbi, o líder da UNITA, não aceitou o resultado e nunca chegou a haver uma segunda volta das eleições. A guerra continuou.
Foto: dapd
Segunda tentativa falhada em 1994
Depois do acordo falhado de Bicesse (Portugal) de 1991, houve uma segunda tentativa em Lusaka, na Zâmbia, no ano de 1994. O presidente da Zâmbia, Frederick Chiluba (centro), levanta as mãos do presidente angolano, José Eduardo dos Santos (esq.), e do chefe do movimento de guerrilha UNITA, Jonas Savimbi. Eles celebram o protocolo de Lusaka, mas o país acabou por entrar novamente em guerra.
Foto: picture-alliance/dpa
A morte de Jonas Savimbi
Fevereiro de 2002: Jonas Savimbi, o líder da UNITA, é morto pelos soldados governamentais no leste de Angola. Com a morte da pessoa, que era considerada a mais carismática da oposição em Angola, abriu-se uma nova oportunidade para a paz.
Foto: AP
Paz sem satisfação
Desde 2011 jovens saem às ruas, um pouco por todo o país, para protestar contra os 32 anos de governo do MPLA. Exigem eleições livres e transparentes e o fim do governo de José Eduardo dos Santos. Na imagem: manifestantes em Benguela.
Foto: DW
Petróleo e pobreza
Após 10 anos de paz, petróleo e pobreza abundam no país. De acordo com as Nações Unidas, o petróleo representa 96% das exportações do país. No entanto, de acordo com o Banco Mundial, em 2010, uma em seis crianças morria nos primeiros cinco anos de vida e grande parte da população angolana continua a viver na pobreza. (Autora: Carla Fernandes; Edição: Johannes Beck)