Angola: Vítimas de incêndio esperam casas há cinco meses
Fernando Antunes (Luanda)
25 de janeiro de 2022
Famílias vítimas de um incêndio no município de Luanda foram alojadas num centro de acolhimento e esperam residências há cinco meses. O Governo prometeu novas casas, mas cidadãos continuam a viver em más condições.
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Mais de 100 famílias foram vítimas de um incêndio na zona do Povoado, no distrito urbano da Samba, município de Luanda e permanecem num centro de acolhimento em Caxicane.
De acordo com as vítimas, depois de serem evacuadas para o local em 2021, o governo de Luanda prometeu que em três meses cada um receberia a sua própria residência.
Mas já passaram cinco meses e a situação continua a mesma. E a vida torna-se cada vez mais dura, conta Ana Mambo, uma das vítimas do incêndio no Povoado, "estamos a viver tipo numa casa mortuária muito quente".
"Eu tenho um bebé de cinco meses. No dia em que nos tiraram da Samba foi operada. Até dia 7 vamos completar aqui seis meses. Será que não têm um sítio onde podem meter cada um na sua casa?", lamenta a cidadã.
A albergaria está dividida em duas alas, sendo uma para os homens e a outra para as mulheres. Há cerca de 15 compartimentos onde, em média, vivem sete famílias por quarto.
Alimentação escassa
Diariamente alimentam-se de papa de fubá de milho ao pequeno-almoço e para o jantar é servido arroz com feijão. Antónia Domingos, outra sinistrada, queixa-se da alimentação.
"Está péssima porque a cozinha é comum. Recebemos um apoio há dias e no mesmo apoio veio aquele feijão de que nós não nos estamos a conseguir alimentar", conta.
"Tenho vergonha de ser angolano a viver assim"
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"Não só isso, como também "estamos a sofrer mesmo porque as crianças não têm o que comer", explica Antónia.
Apesar do sofrimento, as crianças reservam sempre um tempo para uma partida de futebol num campo improvisado. Mas o que os pais mais querem é uma casa com dignidade para viverem com os seus filhos.
"Queremos mesmo uma casa. Porque quando temos casa para viver com os filhos, conseguimos educar, dar de comer, dar de vestir. Já aqui a educação está a ser diferente", conta Antónia Domingos.
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"Ainda não vimos nada"
Orlando dos Santos, o coordenador dos sinistrados, afirma que durante este período apenas 25 famílias beneficiaram de casas. Ficaram para trás mais de 100.
"Desde que nós estamos aqui que ainda não vimos nada. Só no dia 31 é que vimos aqui a comissão administrativa e a diretora da Ação Social. Tiraram daqui 25 famílias, essas foram até ao Bom Jesus onde foram instalados, cada um na sua casa. Aqui ficam 163 famílias," afirma o coordenador.
Em Luanda, a DW África contactou a administradora municipal, Humberta Paixão, para obter esclarecimentos sobre o processo de realojamento das famílias, mas até ao momento não foi possível obter uma reação das autoridades.
Luanda: Convivência diária com o lixo está de volta
Capital angolana voltou a ficar imunda, apesar da megacampanha de limpeza promovida pela comissão criada pelo Presidente João Lourenço.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Lixo deixou de ser notícia
Os amontoados de lixo continuam a crescer em diferentes bairros de Luanda e o assunto deixou de ser manchetes na imprensa Angola. Nos mercados informais, vias públicas e paragens de táxis, as pessoas têm de conviver com a imundice e o mau cheiro.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Megacampanha de limpeza fracassou
A campanha de limpeza encabeçada pela ministra de Estado para Área Social, Carolina Cerqueira, contou com a participação massiva de efetivos do Exército e da Polícia angolana, para além alguns funcionários públicos e cidadãos comuns. Entretanto, o lixo voltou a tomar conta da capital angolana.
Foto: Borralho Ndomba/DW
A crise do lixo já dura há meio ano
A então governadora de Luanda, que começou a enfrentar a crise do lixo no fim de 2020, disse à imprensa que a campanha não teria apenas dois ou três dias de duração, mas que se prolongaria até que a comissão "exterminasse" a sujeira em Luanda. A capital angolana é tida como uma das mais caras do mundo. Mas, nem com isso, o problema do lixo foi solucionado.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Concurso público polémico
Foram detetadas várias irregularidades nos contratos assinados a 31 de março com as empresas privadas Sambiente, Chay Chay, Multi Limpeza, Consórcio Dassala/Envirobac, Jump Business, ER-Sol e a pública Elisal.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Custos altos
Segundo o jornal angolano Expansão, várias operadoras deixaram cair a participação no concurso público após a aquisição do caderno de encargos, por entenderem que os valores máximos estipulados por município eram muito inferiores aos custos que teriam para realizar todas as exigências em termos contratuais.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Governadora exonerada no meio da crise
A crise do lixo na cidade de Luanda é apontada como a razão da exoneração de Joana Lina do cargo de governadora de Luanda, no passado dia 30. A exoneração ocorreu depois da polémica do concurso público de novas operadoras de gestão de resíduos. A agora ex-governadora é acusada de falta de transparência no processo de seleção de empresas que fariam a gestão do lixo.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Lixo + chuva = doença e mortes
O lixo em Luanda é apontado como a principal causa do surto de malária, febre tifóide e uma praga de mosca que assola a capital do país desde o princípio deste ano. Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde em junho, Angola registou mais três milhões de casos de malária que resultaram em cerca de 5.573 óbitos em todo o país, de janeiro a maio de 2021.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Recolha aleatória
Em alguns bairros, a DW constatou que algumas operadoras de limpeza fazem a recolha do lixo, mas com grande insuficiência. Os resíduos às vezes são recolhidos com intervalo de dois ou até mesmo uma semana.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Kilamba engolido pelo lixo
No Kilamba, que completou 11 anos de existência no passado dia 10 de julho, encontram-se diversos amontoados de lixo. O administrador da centralidade diz que, nos últimos meses, a fraca recolha do lixo contribuiu para o registo de mais casos doenças como a febre tifoide e a malária. Os números atuais nunca foram registados desde a fundação do Kilamba, disse Murtala Marta ao Jornal de Angola.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Dívida milionária com as antigas operadoras
Em dezembro do ano passado, a então governadora provincial, Joana Lina, suspendeu contratos com seis operadoras de limpeza e saneamento de Luanda, alegando incapacidade de liquidar a dívida avaliada em cerca de 308 milhões de euros.