27 de maio: Angola vai entregar ossadas de Nito Alves
Lusa
6 de junho de 2022
Governo angolano vai entregar, na quarta-feira (08.06), as ossadas de quatro vítimas do 27 de maio de 1977, entre as quais os restos mortais de Nito Alves, suposto líder de uma alegada tentativa de golpe de Estado.
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A informação foi avançada esta segunda-feira (06.06) pelo ministro da Justiça e dos Direitos Humanos de Angola, Francisco Queiroz, em declarações à imprensa no final da reunião da Comissão de Reconciliação e Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (Civicop), que analisou o ponto de situação dos exames de ADN e perspetiva de entrega dos ossos às famílias residentes no país e no exterior.
Francisco Queiroz anunciou a entrega também na quarta-feira dos restos mortais de Jacob João Caetano "Monstro Imortal", de Arsénio José Lourenço Mesquita "Sianuk" e de Ilídio Ramalhete, numa cerimónia, de caráter político, que vai decorrer no Quartel General do Exército.
Segundo o ministro, as ossadas destas quatro pessoas encontravam-se junto dos restos mortais de cerca de 20 outros indivíduos, estando ainda a decorrer o processo de análise genética para determinar o ADN.
27 de maio de 1977: Memórias de Carlos Taveira
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Registos concluídos
O governante angolano frisou que muitos deles já têm o registo concluído, faltando apenas cruzar os dados com as famílias, algumas delas a residir em Portugal.
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"O registo não veio com os técnicos de Portugal, porque as famílias indicaram especialistas em quem confiam para que fossem ser eles a trazer o sangue para Angola", disse Francisco Queiroz, citado pela agência noticiosa angolana, Angop.
O ministro adiantou também que foram já cadastrados outros lugares, a maioria na província de Luanda, capital de Angola, para início dos trabalhos.
De acordo com o ministro, as equipas de trabalho estão divididas em quatro subgrupos, o primeiro de micro localização e exumação dos ossos, o segundo de análise forense, o terceiro responsável pelas certidões de óbitos e o quarto da comunicação social.
Desde o início dos trabalhos foram já entregues mais de 2.000 certidões de óbito às famílias enlutadas, informou o ministro, que agradeceu a colaboração dos familiares para a execução desses processos.
Francisco Rasgado jamais esquecerá o 27 de maio de 1977
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27 de maio em Angola
O 27 de maio refere-se aos acontecimentos sangrentos que tiveram lugar, em 1977, após um alegado golpe falhado contra o primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto, que resultaram em milhares de mortos durante o combate ao chamado "fracionismo" dentro do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), segundo sobreviventes e analistas.
Em abril de 2019, o Presidente angolano, João Lourenço, ordenou a criação de uma comissão para elaborar um plano geral de homenagem às vítimas dos conflitos políticos que ocorreram em Angola, entre 11 de novembro de 1975, ano da independência de Angola, e 04 de abril de 2002, data que simboliza o fim de décadas de guerra no país.
O Plano de Reconciliação em Memória às Vítima de Conflitos Políticos prevê, entre outras questões, a emissão de certidão de óbito, a entrega dos restos mortais às famílias e a construção de um memorial único para todas as vítimas dos conflitos políticos registados no país.
Em 2021, nas vésperas da data do alegado golpe de Estado, a primeira vez em que foi feita uma homenagem às vítimas do evento e de outros conflitos políticos, João Lourenço pediu desculpas públicas em nome do Estado angolano pelas execuções sumárias levadas a cabo após o 27 de maio de 1977, salientando que era "um sincero arrependimento".
"Não é hora de nos apontarmos o dedo procurando os culpados. Importa que cada um assuma as suas responsabilidades na parte que lhe cabe. É assim que, imbuídos deste espírito, viemos junto das vítimas dos conflitos e dos angolanos em geral pedir humildemente, em nome do Estado angolano, as nossas desculpas públicas pelo grande mal que foram as execuções sumárias naquela altura e naquelas circunstâncias", disse, então, o chefe de Estado angolano.
Angola: Conheça o Mural da Resistência em Luanda
Uma nova intervenção urbana foi inaugurada em Luanda, com pinturas em homenagem a personalidades importantes da história recente de Angola. Veja o Mural da Resistência, do pintor Zbi de Andrade, nesta galeria de fotos.
Foto: Manuel Luamba/DW
Mural da Resistência
Este é o nome do novo mural localizado nos arredores de Luanda. O espaço pintado pelo artista Zbi de Andrade contém rostos de activistas, políticos e académicos que defendem um país cada vez mais democrático. Uma cerimonia organizada pelo site Observatório de Imprensa homenageou as pessoas retratadas.
Foto: Manuel Luamba/DW
Manuel Chivonda Nito Alves
Manuel Chivonda Nito Alves é um activista angolano que se notabilizou nos protestos de rua que começaram em 2011. Em 2013, com apenas 17 anos, foi acusado de difamar o ex-Presidente José Eduardo dos Santos. Foi espancado e detido por várias vezes pela polícia. É um dos activistas detidos em 2015 no caso conhecido como "Processo dos 15+2".
Foto: Manuel Luamba/DW
Laurinda Gouveia
Laurinda Gouveia é uma activista angolana que também se notabilizou por organizar e participar manifestações de rua, exigindo melhores condições de vida à população. Gouveia é integrante do Odjango Feminista e defende a igualdade de direitos. A sua veia reivindicativa acabou por levá-la à cadeia por inúmeras vezes. Também foi condenada no "Processo dos 15+2".
Foto: Manuel Luamba/DW
Rosa Conde
Rosa Conde também foi detida e julgada no âmbito do Caso 15+2 - quando 17 ativistas foram acusados de tentativa de golpe de Estado. Com "sangue" de Cabinda, foi um dos rostos que, em 2016, lideraram os protestos contra o assassinato de Rufino António - morto a tiros alegadamente por um militar do PCU durante as demolições no bairro do Zango.
Foto: Manuel Luamba/DW
Filomeno Vieira Lopes
Filomeno Vieira Lopes é um conhecido político e economista angolano. Já foi espancado por várias vezes em manifestações de rua. Atualmente é o presidente do Bloco Democrático, uma formação política derivada da Frente Para Democracia (FPD), associada a intelectuais angolanos. O BD é um dos integrantes da Frente Patriótica Unida, aliança de oposição que visa à alternância de poder em 2022.
Foto: Manuel Luamba/DW
William Tonet
William Tonet é um jornalista e jurista angolano. Um dos pioneiros do surgimento da imprensa privada em Angola. Com a institucionalização do multipartidarismo, Tonet surgiu com o bissemanário Folha 8, um jornal critico ao regime. "Chefe indígena", como é chamado, Tonet deve ser o jornalista angolano em atividade com mais processos judiciais.
Foto: Manuel Luamba/DW
Luís Nascimento
Luís Nascimento é um jurista e advogado angolano. Foi um dos cidadãos que exigiram a destituição de Isabel dos Santos da chefia da petrolífera estatal Sonangol em 2016. Foi o advogado da família de Rufino António, adolescente morto alegadamente pelas forças de segurança nas demolições no Zango. Nascimento foi um dos candidatos derrotados na última convenção do Bloco Democrático.
Foto: Manuel Luamba/DW
Nelson Pestana "Bona Vena"
Nelson Pestana "Bona Vena" é um académico e político angolano. Conhecido por ser um "homem das letras", Bona Vena é ligado ao Centro de Investigação Cientifica da Universidade Católica de Angola e ao Centro de Estudos Africanos. É político do Bloco Democrático.
Foto: Manuel Luamba/DW
Fernando Macedo
Fernando Macedo é um ativista e professor universitário angolano. Reconhecido por muitos pela integridade, Macedo é um dos fundadores da Associação Justiça Paz e Democracia. O ativista é profundamente critico ao antigo e ao actual regime angolano. Em 2018, Macedo foi um dos organizadores de um protesto contra a amnistia de cidadãos que desviaram fundos públicos para o estrangeiro.
Foto: Manuel Luamba/DW
Luís Araújo
Luís Araújo fundador e coordenador da SOS Habitat, uma ONG que defende e promove o direito à habitação em Angola. Em 2016, o ativista angolano teve projeção ao defender que a remoção do que chamou de "ditadura angolana" é uma necessidade. Em 2005, Araújo e mais dez pessoas foram julgados pelo Tribunal Provincial de Luanda, acusados de incitamento à violência. Vive há anos na Europa.