Angola: Vitória ainda longe no combate ao VIH/Sida
1 de dezembro de 2022De acordo com as últimas estatísticas do Programa das Nações Unidas de Combate ao VIH/SIDA (ONUSIDA), em todo o mundo há mais de 38 milhões de pessoas com o vírus da imunodeficiência humana que causa a SIDA. Em Angola, são 400 mil os infetados.
Fatores como extrema pobreza, grande mobilidade da população, início precoce da atividade sexual e ritos culturais contribuem para os elevados números em Angola, diz António Coelho.
O presidente da ANASO, a Rede Angolana das Organizações de Serviços de Sida e Grandes Endemias, defende que é preciso trabalhar contra o estigma e discriminação para acabar com a doença até 2030.
Combater o estigma
"Temos de reforçar as fontes de solidariedade, para que a esperança e autoestima se sobreponham aos traumas e estigmas que ainda prevalecem na nossa sociedade. Precisamos de mais financiamento para a saúde, melhorar os acessos aos cuidados primários da saúde e respeitar os direitos humanos", disse Coelho à DW África.
Em Angola, apenas cerca de 112 mil pessoas fazem terapia antirretroviral. António Coelho aponta vários desafios para os próximos anos, entre os quais a sustentabilidade da resposta nacional, a melhoria na qualidade de assistência de pessoas vivendo com VIH, a reeducação de estigma e descriminação, a redução de transmissão de mãe para filhos, e a mobilização de mais fundos adicionais para o combate à epidemia.
Coelho explica que o país está "também com dificuldade de gestão dos anti-retrovirais, preservativos e testes".
Números preocupantes
Segundo dados do departamento de saúde pública na província do Cuando Cubango, nos últimos dois anos a província contabilizou perto de 3500 novos casos.
Especialmente preocupantes são os mais de 400 novos casos registados em crianças e mulheres grávidas, disse à DW África Maria de Fátima Mbanco Matias, supervisora provincial do VIH/SIDA.
"Temos passado nas unidades (militares e policiais), escolas, igrejas para palestras sobre a prevenção de tratamento do VIH, e também a transmissão de mãe para filho. Estamos a incentivar as pessoas o uso da camisinha", disse Mbanco Matias, numa alusão aos contraceptivos que previnem a transmissão do vírus.
Apesar do estigma relacionado com a doença, um número significativo de pacientes acorre aos hospitais, dizem as autoridades, ressalvando, no entanto , que ainda há muito por fazer.
"Não fujam dos hospitais"
Fátima Matias deixa um apelo: "Que venham aos hospitais. Existe ética profissional e quando se faz tratamento cedo há maior probabilidade de vida."
Domingas Ndala residente em Menongue, tem 31 anos e é mãe de três filhos. Vive com a doença há seis anos. A discriminação inicial que sentiu quando soube da doença leva-a a não querer identificar-se, pelo que o nome é fictício.
Mas Domingas Ndala diz que, graças aos tratamentos, leva uma vida normal. "Não fujam dos hospitais”, diz. "Quando te diagnosticarem a doença, começa sem hesitar a tomar medicamentos, vais-te tornar saudável".
Ndala diz que que o seu marido sempre testou negativo, porque ela "cumpre o tratamento todo".