O futuro político dos independentistas da CASA-CE foi discutido, esta sexta-feira (22.02), num encontro em que o ainda líder da coligação, Abel Chivukuvuku, disse ser necessário encontrar uma solução para as autárquicas.
Publicidade
A CASA-CE de Abel Chivukuvuku, criada em 2012, enfrenta há muito uma crise política. No entanto, o ainda líder da coligação não baixa os braços. "Temos que estar prontos e desbravar, se assim for necessário. Temos que estar prontos em 2020 e em 2022. É a dívida que temos para com os angolanos. Não podemos permitir que a esperança que transmitimos em seis anos morra hoje, não é justo e nem é digno. Eu estou pronto e aviso já que vou ser cabeça de lista em 2022, de quê não sei", disse.
Presença nas autárquicas
Abel Chivukuvuku, que falava, em Luanda, na Iª Reunião dos Independentistas da CASA-CE, disse ainda que é necessário encontrar uma solução para as primeiras autárquicas no país, que se realizam no próximo ano. "Sejam quais forem as circunstâncias, temos que encontrar uma fórmula para estarmos presentes em 2020. Para as eleições autárquicas não é preciso ter um partido. Podemos ter um movimento de cidadania e avançarmos em 2020", disse.
Na mesma ocasião, discursaram representantes das regiões norte, leste, centro e sul de Angola. "Ruptura" [com a coligação] foi a palavra mais ouvida, quer dos delegados, quer dos seus representantes.
Sobre este ponto, Abel Chivukuvuku foi claro: "Neste momento, estamos numa encruzilhada que nos vai obrigar a tomar decisões difíceis, mas que precisam da coragem que sempre tivemos. Nunca ouvi na minha vida pronunciar-se uma palavra tantas vezes como tenho ouvido [ruptura] nos últimos tempos", afirmou Chivukuvuku, voltando a frisar, no entanto, que "quem rompeu a CASA-CE foi o Tribunal Constitucional quando determinou que os independentistas não eram mais membros do conselho presidencial, atualmente constituído apenas por militantes dos partidos da coligação".
A ruptura entre independentistas e a CASA-CE poderá confirmar-se nos próximos dias. Para já, o ainda presidente da coligação deixa recados aos seus "companheiros". "A CASA-CE teve três pilares: o primeiro pilar foi a legalidade dos partidos constituintes, o segundo pilar foi a força humana e a experiência política dos independentes e o terceiro pilar foi a qualidade da liderança. Aos que têm hoje a ilusão de que só um pilar conta, não é verdade", disse.
Angola: "Vou ser cabeça de lista em 2022", diz Abel Chivukuvuku
Cinco dos seis partidos que compõem a coligação interpuseram um processo judicial pedindo uma clarificação sobre a gestão dos fundos e a presença de independentes nos órgãos de direção da CASA-CE. Em resposta, o Tribunal Constitucional esclareceu que os independentes não podem fazer parte do Conselho Presidencial da coligação e proibiu Abel Chivukuvuku de criar um novo partido dentro da estrutura existente.
Recados também para João Lourenço
Parte do seu discurso foi também dirigida à nova governação de João Lourenço, que se propõe combater a corrupção em Angola. Mas, Chivukuvuku questiona: "a vida dos angolanos melhorou?". O político constatou, de seguida, que "mais de 50 por cento da população angolana é pobre e que para muitos a vida piorou nestes últimos 15 meses". "E piorou porquê?", questionou. Porque, entende Abel Chivukuvuku, "a estratégia de governação do atual governo enveredou pela desvalorização contínua da moeda nacional, que trouxe o aumento do custo de vida e da inflação, o que teve como consequência a perda do poder de compra do cidadão".
Eleições em Angola: Do combate à corrupção ao "Dubai africano"
A DW África analisou os principais factos que marcaram a campanha eleitoral angolana e as promessas mais faladas de cada partido concorrente às eleições gerais de 23 de agosto. Um resumo fotográfico.
Foto: privat
Pouco espaço para a oposição
Na pré-campanha, a oposição afirmou que nas ruas de Luanda só se viam cartazes do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Segundo a Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), as agências publicitárias recusavam-se a divulgar materiais da oposição, sob risco de perderem as licenças e os espaços publicitários atribuídos pelo Governo Provincial de Luanda.
Foto: DW/N. Sul de Angola
Propostas na rádio e televisão
Após a pré-campanha, a Comissão Nacional Eleitoral estabeleceu o período de 23 de julho a 21 de agosto para a campanha eleitoral. Além dos atos de massa, os partidos puderam apresentar as suas propostas nos meios de comunicação social do país. A oposição voltou a dizer que não teve o mesmo espaço que o partido no poder.
Foto: DW/B.Ndomba
Combate à corrupção
Combater a corrupção foi uma das metas apresentadas pelo MPLA. O partido no poder, que tem João Lourenço (foto) como cabeça-de-lista, reconheceu durante a campanha que o país "não pode mais sofrer com a corrupção". A ausência do candidato à vice-presidência, Bornito de Sousa, e do Presidente cessante José Eduardo dos Santos, que supostamente estavam doentes, também marcou a campanha eleitoral.
Foto: DW/ A. Cascais
"Interesse nacional"
Entre as propostas da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) está a gratuidade da educação até o ensino secundário. O maior partido da oposição também prometeu um Governo em que o "interesse nacional" esteja acima de "interesses partidários, setoriais ou pessoais". O partido liderado por Isaías Samakuva encerrou sua campanha eleitoral no Cazenga (foto), em Luanda.
Foto: DW/A. Cascais
Mudança depois de 42 anos
A CASA-CE, segundo maior partido da oposição, reuniu ao longo da campanha milhares de apoiantes em diferentes atos de massa nas províncias (foto em Benguela, a 29 de julho). No ato de encerramento, em Luanda, o candidato Abel Chivukuvuku pediu confiança dos angolanos para pôr fim aos "42 anos de sofrimento e má governação".
Foto: DW/N. S. D´Angola
Estados federados
A campanha do Partido de Renovação Social (PRS) foi marcada pela proposta de implantar um sistema federalista no país. O cabeça-de-lista Benedito Daniel (ao centro da foto) defendeu que só através dessa reforma as províncias angolanas – convertidas em estados – teriam autonomia para governar.
Foto: DW/M. Luamba
Angolano no "centro da governação"
A campanha da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) deu especial atenção à pobreza, saúde, educação e emprego. Liderado por Lucas Ngonda, o partido diz que é a "única formação partidária que tem o angolano como centro da sua governação". A abertura da campanha eleitoral aconteceu no Bié (foto), berço do antigo braço armado do partido, a União Para a Libertação de Angola (UPA).
Foto: DW/J. Adalberto
"Dubai africano"
A Aliança Patriótica Nacional (APN) é o partido com o candidato à Presidência mais jovem. Durante a sua campanha eleitoral, o ex-deputado Quintino Moreira (à esquerda na foto) prometeu criar um milhão de empregos – o dobro do que o MPLA prometeu nestas eleições. Além disso, disse que transformaria a província do Namibe num "Dubai africano".