A poucos meses das eleições em Angola, previstas para agosto, os angolanos dizem estar a acompanhar o processo com muita atenção. O "silêncio" de alguns partidos não passa despercebido. As campanhas de outros também não.
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Agosto aproxima-se a passos largos e os partidos não perdem tempo - principalmente os partidos que têm assento no Parlamento. A caça ao voto ainda não começou oficialmente, mas os políticos já correm o país, tentando cativar eleitores.
João Lourenço, o candidato do partido no poder, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), esteve no início do mês em Cabinda, por exemplo. Isaías Samakuva, o candidato da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), foi à província angolana do Zaire e o candidato da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), Abel Chivukuvuku, promoveu um ato de massas para assinalar os cinco anos de existência da coligação.
Todos prometem mudanças, se ganharem as eleições deste ano. Mas o cidadão angolano Domingos Gravata dos Anjos diz que é ao povo que cabe a decisão final. "Os partidos estão ali a concorrer e cada um está a procurar puxar a população para as suas propostas. Nós o povo é que vamos avaliar qual é o partido com a melhor proposta".
O silêncio dos partidos
Mas o "silêncio" de alguns partidos não passa despercebido aos cidadãos ouvidos pela DW África na capital angolana. Luciano Dala menciona os partidos históricos Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e o Partido de Renovação Social (PRS).
Dala diz que é preciso "afinar" a máquina partidária. "Devem tentar entrar nessa corrida com garra, porque é nesta fase que o povo angolano vai poder decidir, é nesta fase que o povo vai poder escolher os governantes através do voto".
Em Angola, sobretudo no sul do país, são frequentes os atos de intolerância política entre os militantes dos principais partidos.
Mas o cidadão José Benguela está contente por, este ano, ainda não se terem registado situações "de relevo". "Não há confusão, não há nada, com certeza absoluta que tudo vai correr muito bem", prevê o eleitor.
Em que dia se vota?
Angolanos atentos à pré-campanha eleitoral
Na terça-feira (18.04), o Ministério da Administração do Território entregou à Comissão Nacional Eleitoral (CNE) o Ficheiro Informático dos Cidadãos Maiores, onde estão os dados provisórios do registo eleitoral.
Por isso, Luciano Dala pergunta agora: "Queremos saber da própria CNE quando é que vai começar o voto. Queremos saber o dia do voto".
O dia do voto, segundo a Constituição angolana, é anunciado pelo chefe de Estado três meses antes do fim do seu mandato e dos deputados da Assembleia Nacional. Já falta pouco.
José Eduardo dos Santos deixará saudades?
Dos Santos anunciou no início de 2017 que deixará o poder ao fim de 38 anos. Será que os angolanos terão saudades? Os comícios e as manifestações no país e fora de Angola nos últimos anos não deixam chegar a um consenso.
Foto: Getty Images/AFP/A. Pizzoli
Setembro de 2008 - Luanda
Este comício do MPLA em Kikolo, Luanda, foi assistido por milhares de pessoas durante a campanha para as eleições de 2008, as primeiras em 16 anos. O MPLA obteve 82% dos votos, tendo conquistado 191 dos 220 lugares da Assembleia Nacional de Angola.
Foto: picture-alliance/ dpa
Março de 2011 - Angola
No entanto, e apesar da maioria conseguida nas eleições de 2008, nos anos seguintes realizaram-se várias manifestações, em Angola, e não só, contra o Governo. A 7 de março de 2011, teve início no país uma onda de manifestações inspiradas na Primavera Árabe. Na organização destas manifestações estava o Movimento Revolucionário de Angola, também conhecido como "revús".
Foto: picture-alliance/dpa
Março de 2011 - Londres
No mesmo dia (7 de março), cerca de 30 pessoas sairam às ruas em Londres para protestar contra o Presidente José Eduardo dos Santos. Os manifestantes exigiram a saída do pai de Isabel dos Santos gritando "Zédu fora!" e "Zé tira o pé".
Foto: Huck
Fevereiro de 2012 - Benguela
Em 2012, ano de eleições no país, o número de manifestações organizadas pelos não apoiantes de José Eduardo dos Santos continuou a crescer. O protesto retratado na fotografia teve lugar em Benguela, a 13 de fevereiro. "O povo não te quer", gritaram os manifestantes.
Foto: DW
Junho de 2012 - Luanda
A 23 de maio de 2012, o presidente angolano anuncia que as eleições legislativas se irão realizar a 31 de agosto. Sensivelmente um mês depois, a 23 de junho, o Estádio 11 de Novembro, em Luanda, encheu-se de militantes e simpatizantes do MPLA para aplaudir José Eduardo dos Santos e apoiar a sua candidatura.
Foto: Quintiliano dos Santos
Julho de 2012 - Viana
Cartazes a favor de dos Santos num comício da campanha para as eleições de 2012 em Viana, arredores de Luanda. A 31 de agosto, o MPLA vence as eleições com mais de dois terços dos votos. Depois de uma mudança da Constituição, o Presidente já não é eleito diretamente, mas sim indiretamente nas legislativas. Como cabeça de lista do MPLA, José Eduardo dos Santos é eleito Presidente de Angola.
Foto: Quintiliano dos Santos
Maio de 2015 - Benguela
Nos anos seguintes continuaram os protestos contra o Presidente. Foram-se somando episódios de violência e detenções. 2015 torna-se-ia um ano complicado no que às críticas a JES diz respeito. No aniversário do "27 de maio", em Benguela, por exemplo, 13 ativistas foram detidos minutos depois de começarem um protesto. No mesmo dia, também houve detenções em Luanda.
Foto: DW/N. Sul d'Angola
Junho de 2015 - Luanda
Em junho de 2015, tem início um dos episódios da governação de José Eduardo dos Santos mais criticados. 15 ativistas angolanos, entre eles Luaty Beirão, foram detidos sob acusação de planeaream um golpe de Estado. Para além de terem despoletado muitas manifestações, estas detenções tiveram mediatismo um pouco por todo o mundo devido às greves de fome levadas a cabo por muitos dos detidos.
Foto: DW/P. Borralho
Julho de 2015 - Lisboa
No dia 17 de julho realizou-se, em Lisboa, a primeira manifestação em Portugal a favor da libertação destes jovens. "Basta de repressão em Angola", ouviu-se na capital portuguesa. Dias mais tarde, em Luanda, a polícia reagiu violentamente contra algumas dezenas de manifestantes que protestaram no Largo da Independência.
Foto: DW/J. Carlos
Agosto de 2015 - Luanda
A 2 de agosto e sob o lema "liberdade já", cerca de 200 pessoas, entre as quais vários artistas angolanos - poetas, políticos, atores e artistas plásticos - juntaram-se, em Luanda, para pedir a libertação dos 15 ativistas angolanos detidos. Sanguinário, Flagelo Urbano, Toti, Jack Nkanga, Sábio Louco, Zwela Hungo, Mona Diakidi, Dinameni, Fat Soldie e MCK foram alguns dos artistas presentes.
Foto: DW
Agosto de 2015 - Luanda
Dias mais tarde foi a vez das mães dos ativistas se fazerem ouvir. Nas ruas de Luanda, pediram a libertação dos seus filhos, mesmo depois da manifestação ter sido proibida pelo Governo.
Foto: DW/P. Ndomba
Agosto de 2015 - Lisboa
Nem no dia do seu aniversário (28 de agosto), José Eduardo dos Santos teve "descanso". Cidadãos descontentes, quer em Lisboa, quer em Angola, voltaram às ruas. Na capital portuguesa, voltou a pedir-se liberdade para os ativistas. Exigiu-se ainda liberdade de movimento, de pensamento, de expressão e de imprensa em Angola.
Foto: DW/J. Carlos
Novembro de 2015 - Luanda
No dia em que se celebraram os 40 anos da independência de Angola, proclamada a 11 de novembro de 1975, pelo então Presidente António Agostinho Neto, vários jovens voltaram a fazer ouvir-se. 12 manifestantes foram detidos.
Foto: DW/M. Luamba
Março de 2017 - Cazenga
No início de 2017, José Eduardo dos Santos anunciou a saída da Presidência. O cabeça-de-lista do MPLA às eleições gerais deste ano será o atual ministro de Defesa João Lourenço. O candidato foi recebido por centenas de apoiantes naquele que foi o seu primeiro ato de massas da pré-campanha, no município do Cazenga, em Luanda, a 4 de março.