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Angolanos e quadros do MPLA despedem-se de JES

Lusa
27 de agosto de 2022

Apesar de muitas mais pessoas serem esperadas nas cerimónias fúnebres do ex-Presidente, centenas de angolanos despediram-se hoje de José Eduardo dos Santos em Luanda. Litígio entre Governo e família marcou reações.

Angola - Trauerfeier für José Eduardo dos Santos
Foto: António Cascais/DW

Numa moldura humana muito abaixo do esperado, como prova a quantidade de cadeiras vazias perto do Mausoléu Agostinho Neto, os angolanos que participaram no velório de corpo presente de José Eduardo dos Santos elogiaram o segundo Presidente do país, que morreu em Barcelona a 8 de julho e cujo processo de transferência do corpo opôs o Governo aos filhos mais velhos.

Paulo Paz foi um desses angolanos que veio "prestar homenagem a uma figura considerada muito forte a nível de África". No seu entender, José Eduardo dos Santos "assegurou o país no tempo da guerra, trouxe a paz e grandes benefícios, inclusive até na reconstrução do país".

Após a saída do poder, o MPLA "tratou muito bem" José Eduardo dos Santos, considerou Paulo Paz, que nunca se referiu às polémicas do atual Presidente sobre a anterior gestão ou os processos judiciais que visavam elementos da família.

Madalena Joaquim preferiu não discutir política e insistiu que estava na Praça da República apenas para prestar homenagem a José Eduardo dos Santos.

"Vim aqui homenagear o nosso pai, foi o nosso pai, um líder que liderou tantos anos" Angola, disse.

Apoiante do MPLA, Diamantino Mbarfungo considerou que a "perda deste presidente significa muito" para Angola porque "foi um grande líder".

Sobre a ausência das filhas mais velhas de José Eduardo dos Santos nas cerimónias, Diamantino Mbafungo foi mais lacónico: "Isso já não é connosco. Elas são angolanas, podem sempre vir" prestar a "sua homenagem ao pai em Angola".

Foto: António Cascais/DW

A urna com o corpo de José Eduardo dos Santos chegou, esta manhã, à Praça da República, local onde se encontra o Memorial António Agostinho Neto, num cortejo sem multidões.

Familiares de José Eduardo dos Santos, em particular a viúva Ana Paula dos Santos e os seus 3 filhos em comum, encontravam-se na tenda onde decorre a homenagem, tal como vários membros do executivo, dirigentes do MPLA e amigos do ex-Presidente.

"É um dia triste"

Em declarações à imprensa, o ministro das Relações Exteriores angolano, Téte Antonio, afirmou que "é um dia triste e de consternação para a classe diplomática".E lembrou eventos marcantes que se passaram em Angola e nos quais José Eduardo dos Santos teve um papel de relevo.

Para Téte António, José Eduardo dos Santos, foi a pessoa que levou Angola ao reconhecimento da comunidade internacional, numa presidência internacional que ficou marcada pelo papel "que teve na nossa própria região e pacificação da região", bem como "no acompanhamento das lutas mais difíceis" que se passaram na África Austral como independência da Namíbia e fim do 'apartheid' na África do Sul.

"Podemos citar muitos feitos", declarou, salientando que o ex-chefe de Estado, marcou as relações internacionais na política mundial.

Também o ministro de Estado e chefe da Casa Militar do Presidente da República, o general Francisco Furtado, destacou o papel do ex-Presidente angolano na conquista da paz no país.

"Com sabedoria, empenho e muita mestria, conseguiu trazer-nos a paz definitiva, infelizmente após a sua morte vivemos dias de enorme esforço do ponto de vista judicial para podermos ter a posse dos seus restos mortais", disse o general, considerando que as filhas mais velhas de José Eduardo dos Santos perderam "a última e melhor oportunidade" para homenagear o pai.

Outro dos membros do executivo presentes esta manhã nas cerimónias foi o ministro do Interior, Eugénio Laborinho, que destacou também a importância do "líder que, após a independência, substituiu, num momento difícil e ainda jovem, o Presidente António Agostinho Neto”.

Foto: António Cascais/DW

"Nos seus 38 anos de poder foi sempre incansável, uniu Angola e os seus filhos, fez um grande movimento de reconciliação nacional numa altura muito difícil de guerra contra a UNITA. Ele conseguiu, na forma como era, paciente, sereno, unir todos os angolanos", elogiou Eugénio Laborinho, considerando que "é uma perda irreparável".

O ministro escusou-se a comentar a desunião familiar que se seguiu à morte do antigo chefe de Estado, alegando que tem estado "dedicado" ao acompanhamento das eleições no que diz respeito à ordem e segurança pública.

Muitas ausências

Fora, no enorme recinto com muitas cadeiras vazias, ficaram algumas centenas de populares que vieram despedir-se do homem que governou o país durante 38 anos.

Ao contrário do que acontecia em vida, quando no dia do aniversário de José Eduardo dos Santos, a 28 de agosto, todos queriam estar presentes, tornando-se um dia de festa em que muitos angolanos se juntavam à celebração, hoje as cerimónias estão a ser marcadas por alguma falta de pessoas.

As exéquias acontecem também no rescaldo pós eleitoral em que os cidadãos aguardam ainda a saída dos resultados definitivos das eleições de quarta-feira, com os dados preliminares a apontar para uma vitória do MPLA já contestada pela UNITA.