1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Angolanos não temem repressão policial, afirma jornalista Reginaldo Silva

Cristiane Vieira Teixeira29 de novembro de 2013

Militantes da oposição e a população civil não se deixaram intimidar pelo forte aparato policial usado para reprimir as manifestações e o cortejo fúnebre esta semana, em Luanda. A tolerância dos angolanos estaria no fim?

O jornalista Reginaldo SilvaFoto: Reginaldo Silva

Esta semana, a repressão pelas forças de segurança angolanas a uma manifestação, no sábado passado (23.11), e à marcha do cortejo fúnebre de Manuel Hilberto Ganga, na quarta-feira (27.11), deixaram ainda mais óbvia a intolerância do Governo angolano em relação à manifestação de ideias e opiniões contrárias ao regime no país.

A este respeito, a DW África entrevistou o jornalista Reginaldo Silva que fez uma avaliação dos motivos de tamanho controlo da liberdade de expressão, em tempos de democracia. Silva diz que, como muitos angolanos, não entende o que teme o Governo do país.

DW África: Como avalia os acontecimentos da semana que se encerra? Por que o Governo angolano mobilizou tamanho aparato policial para reprimir as manifestações do último sábado (23.11), e o cortejo fúnebre de Manuel Hilberto Ganga, na quarta-feira (27.11)?

Reginaldo Silva: O Governo, por razões que às vezes não consigo perceber, entende que todas as manifestações que não sejam favoráveis ao Governo são ameaças à segurança, são ameaças à estabilidade. É esta leitura, é esta avaliação oficial das coisas que complica ainda mais a situação em Angola.

Polícia reprime manifestações levadas a cabo pela UNITA, principal partido da oposição em Angola, no dia 23.11Foto: Getty Images/Afp/Estelle Maussion

DW África: Nesta semana, acompanhamos a uma manifestação e um cortejo fúnebre que se tornou uma marcha que movimentaram uma grande quantidade de pessoas que demonstraram as suas insatisfações. Acha que as pessoas perderam o medo da repressão?

RS: Não há, no meu entender, medo das pessoas de se manifestarem. Mas há efetivamente um impedimento total, absoluto, à possibilidade de as pessoas se manifestarem - com meios policiais, inclusive meios não policiais, onde se utiliza as próprias Forças Armadas. É como se existisse uma barreira à minha frente, uma barreira de betão armado, e eu não posso andar.

DW África: A sociedade angolana está mudando?

RS: Sim, acho que os últimos acontecimentos traduzem algum aumento desta disponibilidade ou desta coragem dos militantes, das pessoas ligadas aos partidos e da própria sociedade civil em estarem mais decididos e mais determinados a utilizar o espaço público e, sobretudo, a afirmar que o país é um país democrático, não é?

DW África: Na sua opinião, o que levou as pessoas a essa maior disposição em resistir à repressão, mesmo com o uso de forte aparato policial?

Angolanos gritavam palavras de ordem no cortejo fúnebre do líder juvenil da CASA-CE, Manuel Hilberto Ganga, morto a tiro no dia 23.11. Mais tarde, a polícia usou gás lacrimigéneo para dissolver o cortejoFoto: Pedro Borralho Ndomba

RS: As pessoas acham que as autoridades, as forças de segurança e as forças políticas têm uma agenda que é uma chamada agenda subterrânea, onde as pessoas não sabem o que se está a passar, mas acreditam que efetivamente, nos bastidores, as forças atuam de forma ilegal e com objetivos políticos.

Como se viu, este tipo de ação encoberta das autoridades de segurança fez aumentar ainda mais o descontentamento e a vontade das pessoas de criticarem e exigirem o fim deste tipo de comportamento.

DW África: Foi um movimento meramente político ou a população angolana, o cidadão comum, se viu diretamente atingido com a repressão violenta das manifestações e até mesmo com a morte de Manuel Ganga?

RS: Acredito que todas as pessoas que quiserem participar deste funeral também quiseram manifestar o seu repúdio, a sua tristeza, pelo fato de um jovem com aquela idade, um jovem formado, ter sido assassinado de forma tão brutal, tão incompreensível.

DW África: A tolerância da população estaria chegando ao fim?

RS: Percebo uma mudança. Mas a mudança só não existe mais porque o poder político neste país é um poder muito forte. As pessoas estão de facto cansadas deste tipo de situação.

Angolanos não temem repressão policial, afirma jornalista Reginaldo Silva

This browser does not support the audio element.

Quero entender e quero acreditar que haja de facto uma mudança, não é? E que a partir de agora, os setores sobretudo ligados às forças de segurança entendam que não podem continuar a agir da forma que agem.

DW África: E quais seriam então as perspectivas para o futuro, em Angola, no que se refere à liberdade de expressão?

RS: Se o partido no poder, que suporta o Governo, mantiver esta recusa em aceitar que os manifestantes, que os partidos, que as organizações se pronunciem na via pública, vamos ter mais situações destas e espero que, de facto, não haja mais vítimas, pelo menos mortais. Penso que as coisas podem ainda tornar-se piores e evoluir de forma pior e, portanto, ninguém percebe porque há tanto receio do lado do Governo em proteger os manifestantes que não estão de acordo com o partido no poder.

Saltar a secção Mais sobre este tema

Mais sobre este tema

Ver mais artigos