O Presidente de Angola visita o Bengo pela primeira vez desde que tomou posse em 2017. A população não esconde o descontentamento com João Lourenço.
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A província fica a pouco mais de 60 quilómetros da capital, Luanda, mas esta é a primeira visita do Presidente João Lourenço à região. Nas ruas, os populares mostram-se desiludidos com o chefe de Estado.
Em Caxito, a capital da província do Bengo, muitos cidadãos ainda se lembram do que João Lourenço prometeu há quase quatro anos: transformar a "fazenda de Caxito" numa "cidade" – desenvolver as infraestruturas da região e criar mais postos de trabalho.
Volvidos todos estes anos, essas promessas ainda estão por cumprir, afirma o jovem Fernando Moniz. A avaliação que faz sobre a governação do Presidente João Lourenço é bastante negativa. "As promessas que se fazem no período eleitoral não são materializadas na fase de governação", disse Moniz à DW África.
Poucas expetativas
No Bengo, o Presidente tem encontros marcados com jovens, empresários, assim como representantes das autoridades tradicionais e religiosas. Visitará ainda empreendimentos agrícolas, uma fábrica e obras públicas. Na sexta-feira participa numa reunião do Conselho de Governação Local.
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Sobre a visita, João Lourenço disse que "o país tem 18 províncias, por esta razão algumas das províncias só agora são visitadas, mesmo aquelas que estão mais próximas da capital, que é o caso do Bengo, costuma-se dizer 'antes tarde do que nunca', portanto, vamos cobrir a totalidade do país. Todas as províncias serão visitadas."
Ao microfone da DW África, vários cidadãos criticaram João Lourenço por só se lembrar da região um ano antes das eleições gerais. Apesar do adágio popular que diz que "a esperança é a última a morrer", o jovem Garcia Miranda não tem dúvidas: não é a cerca de quinze meses de terminar o mandato que o Presidente conseguirá trazer as mudanças desejadas.
"Se em três anos ou quatro não conseguiu realizar as suas promessas, então não vai ser em meses que o vai fazer. Sinceramente, não acredito que vai cumprir as suas promessas", afirmou Miranda.
Onde está a estrada de Nambuangongo?
Uma das muitas promessas por cumprir, dizem os populares, é a construção da estrada no histórico município de Nambuangongo. Outra é a criação de 500 mil postos de trabalho a nível nacional. O Governo diz que, desde 2019, já criou mais de 45 mil empregos. Mas muitos cidadãos duvidam dos números, sobretudo por causa da crise económica e financeira no país, agravada pela pandemia.
As críticas não param diante do plano de combate à corrupção elaborado pelo Presidente, que é considerado demasiado seletivo.
Numa escala de zero a dez, o professor e sindicalista Admar Jinguma dá nota quatro ao grau de cumprimento das promessas eleitorais e deixa um recado ao Presidente: "Se quiser ser reeleito, vai ter que puxar dos seus galões para convencer o eleitorado".
Tingão Pedro, deputado do Movimento pela Libertação de Angola (MPLA, no poder), reconhece o incumprimento de várias promessas eleitorais, mas tem esperança que, até às eleições de 2022, alguns projetos possam avançar. "O senhor Presidente deixará algum indicativo de que o Executivo estará em condições de executar tais programas", referiu.
Angola: A luta contra o colonialismo em monumentos
Na província do Bengo, monumentos históricos retratam a luta angolana contra o domínio português e resgatam parte da cultura local. Alguns estão em estado de degradação.
Foto: António Ambrósio/DW
"Chalé", um antigo tribunal
Este edifício é popularmente conhecido como "chalé". Durante a era colonial, aqui era o local onde portugueses ditavam sentenças aos angolanos que tentavam reivindicar os seus direitos. Naquela época, foi uma espécie de tribunal e cadeia. Por isso, ganhou o nome de "casa da morte". Depois de algum tempo, passou por uma reforma e, atualmente, é sede do Governo Provincial do Bengo.
Foto: António Ambrósio/DW
"Cova da Onça"
Para este local vinham os restos mortais dos sentenciados à morte. É um cemitério que fica bem atrás da "casa da morte". Ali jazem os corpos de vários que lutaram pela pátria. Por isso, o local é conhecido como "Cova da Onça", mas também como Memorial aos Heróis da Pátria. Reabilitado em 2011, o monumento já está a carecer de obras de restauro.
Foto: António Ambrósio/DW
A resistência
Na luta contra o poder colonial, há quem se tenha destacado. Vários angolanos mostraram bravura e conseguiram sobreviver, o que levou os combatentes angolanos a cerrar fileiras para ir atrás dos colonizadores. Este monumento simboliza esse momento. Com se pode ver na imagem, um homem está a romper a corrente para a liberdade.
Foto: António Ambrósio/DW
Quebrar barreiras
A bravura do povo angolano aos poucos estendeu-se a outros pontos do país. Isto também está representado no monumento sobre a resistência. Na província do Bengo encontra-se a primeira região político-militar angolana.
Foto: António Ambrósio/DW
Hospital aos Heróis da Pátria
A doença preocupa qualquer ser humano, não importa se é colonizador ou colonizado. Em 1955, foi construído o hospital dedicado aos "heróis do Caxito" para acudir algumas situações ligadas à saúde. Hoje, o edifício continua funcional e ganhou a categoria de Hospital Municipal do Dande, comportando vários serviços.
Foto: António Ambrósio/DW
Jacaré Bangão
Este famoso monumento retrata uma lenda popular. O jacaré na imagem segura com os dentes uma bolsa de dinheiro. Reza a lenda que o animal terá pago um imposto ao chefe da vila de Caxito como forma de repúdio da população contra a imposição colonial. A lenda também relata a existência de um feitiço no Bengo, que terá sido o responsável pelo pagamento supostamente efetuado pelo réptil.
Foto: António Ambrósio/DW
"Porque não tentar?"
Este é o Museu da Tentativa. Trata-se de uma antiga propriedade, construída na década de 1930, onde se plantava cana-de-açúcar. O nome surgiu depois de os portugueses, na era colonial, tentarem plantar noutras regiões, sem sucesso. Ao chegarem aqui, perguntaram "Porque não tentar?" O sucesso foi certeiro e o nome vingou. Em 2011, com objetivo de preservar a história, foi criado o museu.
Foto: António Ambrósio/DW
Transporte de escravos e mercadorias
Este barco chama-se "batelão". Era usado para o transporte de escravos e produtos da "Tentativa" para Luanda, mas só chegavam até a barra do Dande. De lá, em embarcações maiores, os produtos seguiam para a alfândega de Luanda e depois para a Europa.