A OMS alertou que Angola está sob risco de transmissão do ébola. O Governo já começou a reforçar as medidas de prevenção. Muitos cidadãos estão pouco informados sobre a doença que fez 12 mortes na vizinha RDC.
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Na semana passada, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que Angola está na lista de países onde há "risco de contágio" do ébola. O que sabem os angolanos sobre as formas de contaminação e prevenção da doença?
A DW África saiu à rua para ouvir os cidadãos de Luanda. Filipe Joaquim António, residente na capital, diz que se surpreendeu com a informação que ouviu no táxi, "porque na verdade não estava informado" sobre o novo surto de ébola.
José Jaime, outro cidadão de Luanda, confessa que pouco sabe sobre a doença que já fez 12 mortos no mais recente surto na República Democrática do Congo (RDC). "Recentemente, ouvi que o Congo está a ser assolado por esta doença. O nosso país também teve um momento que passou por isso, é basicamente isso que sei", contou à DW África.
José Fernandes também tem pouca informação sobre o assunto, mas avança algumas formas de contágio. "Não se deve dar a mão a qualquer pessoa. E sempre que fizeres necessidades tens de lavar as mãos", explica.
Sensibilização da população
O vírus do ébola transmite-se entre humanos através do contacto com sangue ou secreções infetadas, tais como a urina, fezes ou vómitos, contaminação com material biológico infetado e por animais.
Angolanos pouco ou nada sabem sobre o ébola
O analista João Lucombo entende que é necessário reforçar as campanhas de sensibilização da população, sobretudo nas províncias fronteiriças. Segundo o especialista, o Governo tem de apostar na medicina preventiva, informando as populações sobre os sintomas do ébola.
"E como esta doença se tem expandido na RDC, nós, por sermos um país vizinho, estamos condenados a ter maior capacidade de precaução, caso contrário também vamos viver a doença no nosso país", alerta.
Governo toma medidas
O Governo angolano anunciou este domingo (27.05), em Cabinda, que estão a ser tomadas medidas de prevenção do surto da ébola que assola a RDC. Segundo o secretário de Estado da Saúde Pública, José Manuel da Cunha, já estão a ser distribuídos formulários nos postos de entrada, como aeroportos e portos, além da distribuição de fichas de notificação.
As províncias de Cabinda, Zaire, Uíge, Moxico, Malanje e Luandas Norte e Sul estão a merecer uma atenção especial por fazerem fronteira com a RDC, anunciou o governante. Segundo o Governo, existe em Luanda uma sala de crise que diariamente recebe informações de cada uma das províncias fronteiriças.
O analista João Lucombo diz que é necessário fazer mais. "Temos vindo a ter uma cooperação económica com a RDC, sobretudo nas fronteiras, e isso faz com que o contacto entre estes dois povos seja permanente e como não se pode evitar, há essa toda necessidade de aumentar os níveis de precaução, desde testes e consultas de quem entra e sai da nossa fronteira", defende.
Em finais de 2004, sete províncias nomeadamente, Luanda, Uíge, Malanje, Kwanza Norte, Kwanza Sul, Zaire e Cabinda, foram assoladas pela febre hemorrágica de Marburg. A epidemia também tinha afetado indivíduos de países vizinhos que fazem fronteira com Angola. Na altura, o relatório do Ministério da Saúde de Angola estimou que mais de 200 pessoas morreram vítimas da febre hemorrágica.
Ébola: luta contra o vírus mortal
Apesar das medidas preventivas, algumas pessoas já se contaminaram com o vírus na Europa e Estados Unidos. Cuidadores utilizam trajes para prevenir a propagação, mas na África a proteção ainda deixa a desejar.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Woitas
Traje de proteção
Na luta contra o ebola, roupas de proteção adequadas para médicos e enfermeiros são essenciais. Toda a pele deve ser coberta com material impenetrável pelo vírus. Mas trajes apenas não bastam, também é necessário seguir corretamente as prescrições de segurança.
Trabalho em conjunto
Os profissionais de saúde devem treinar a colocação correta dos trajes protetores. Como aqui, na unidade especial de isolamento de Düsseldorf. Novos trajes são utilizados a cada vez, para que não haja risco de contaminação no processo. Dessa forma, cuidadores sem proteção também podem ajudar os colegas a se vestir.
Foto: picture-alliance/dpa/Federico Gambarini
Isolamento total
Os quartos dos pacientes na unidade de isolamento em Düsseldorf são completamente protegidos do mundo exterior. O ar é filtrado e as águas residuais são tratadas separadamente. As vestes de proteção, que os cuidadores trajam permanentemente, são pressurizadas. Essas medidas de segurança vão além do necessário: o ebola pode ser transmitido por objetos contaminados, mas não pelo ar.
Após o tratamento dos pacientes, todo o traje é aspergido por fora com desinfetante, a fim de eliminar potenciais contaminações viróticas. Somente após essa ducha as vestimentas podem ser removidas, cuidadosamente.
Foto: picture-alliance/dpa/Sebastian Kahnert
Ajuda externa
Durante a remoção dos trajes protetores, os profissionais de saúde devem ser extremamente cautelosos. Luvas de proteção permanentemente instaladas nas aberturas da câmara permitem ajuda externa sem contato direto com o traje. Após o uso, estes são imediatamente descartados e incinerados.
Foto: picture-alliance/dpa/Federico Gambarini
Enfermeiras contaminadas
Apesar dos altos padrões de segurança, , na Espanha e Estados Unidos três enfermeiras contraíram a doença. As circunstâncias da contaminação ainda não foram esclarecidas. As residências das profissionais (na foto, Texas) foram isoladas e desinfetadas após a descoberta do contágio.
Foto: Reuters/City of Dallas
Proteção em África
Agora, médicos e enfermeiros na África Ocidental também foram equipados com trajes protetores. No entanto, estes nem sempre obedecem as normas para uma proteção efetiva. Por vezes, pequenas áreas da pele ficam descobertas ou o material usado é permeável. Além disso, colocar e retirar o traje pode ser arriscado.
Foto: picture alliance/AP Photo
Isolando os mortos
Os funerais das vítimas do ebola também requerem cuidados extremos. Na África Ocidental, a tradição de os familiares de lavarem os corpos dos mortos resultou em numerosas novas infecções. Para família e amigos, costuma ser difícil compreender e acatar as rigorosas medidas de isolamento.
Foto: Reuters/James Giahyue
Isolamento em barracas
Numa região onde os cuidados médicos são extremamente precários, uma epidemia das atuais proporções representa um enorme desafio. Os infectados são tratados em barracas improvisadas, como se vê na foto feita na Libéria. No entanto, até mesmo um país como a Alemanha ficaria sobrecarregado nessas circunstâncias. No momento, há apenas 50 leitos nas unidades de isolamento alemãs.
Foto: Zoom Dosso/AFP/Getty Images
Incineração em vez de sol
Em algumas regiões afetadas na África Ocidental, os trajes contaminados são pendurados para secar ao sol, numa tentativa de desinfetá-los para reutilização. No entanto, é muito mais seguro as roupas serem imediatamente incineradas após o uso, como ocorre na Guiné. Escassez e altos custos dos trajes dificultam essa medida: as roupas de proteção custam entre 30 e 200 euros.
Foto: Cellou Binania/AFP/Getty Images
Controles nos aeroportos
As viagens aéreas são a maior ameaça na transmissão de longa distância do vírus. Por esse motivo, a temperatura dos passageiros está sendo monitorada em alguns aeroportos. Entretanto, o método não oferece garantia absoluta, já que o período de incubação do ebola é de 21 dias.