Angolanos preparam manifestações
2 de março de 2011"Até admito que haja alguma manipulação do regime na emissão destes comunicados e portanto, esse movimento não está a funcionar como uma solução para o problema, mas sim como um problema para a solução. O que o povo angolano quer é pacificamente manifestar-se, mostrar ao regime e a comunidade internacional que algo tem de mudar em Angola" palavras de Orlando Castro, jornalista e analista de questões angolanas em entrevista à Deutsche Welle.
DW: Mas as convocatórias parece que estão a ser levadas a sério, o que leva então o governo a reagir às convocatórias?
Orlando Castro: O governo sabe concretamente o que o povo pensa, já lá vão nove anos de paz total e a população continua a ser gerada com fome, a nascer com fome e a morrer com fome e o MPLA (Movimento para a Libertação de Angola) como sabe desta realidade teme de fato, que o povo venha para a rua, porque os angolanos sabem perfeitamente que tem um presidente da República há 32 anos no poder e que nunca foi eleito, isto é tudo menos democracia, democracia de barriga vazia não é rigorosamente nada. Aliás, acenam com o expectro da guerra que sabem que é algo doloroso para todo o povo angolano de uma forma inábil, e de uma forma perfeitamente inconsistente, porque a manifestação não quer o regresso à guerra, mas sim que de fato o regime deixe de trabalhar para os poucos que tem milhões, e passe a trabalhar para os milhões que tem pouco.
DW: Pode lêr-se no comunicado do MPDA ( Movimento para a Paz e a Democracia em Angola ) que o assunto é: "santomense José Eduardo dos Santos, ditador clandestino fora de Angola". Assim sendo, pode-se então interpretar o fato de José Eduardo dos Santos ser filho de santomense como um dos argumentos para os protestos. Afinal de que se tratam as manifestações?
Orlando Castro: É estratégia de algumas organizações que se colaram à idéia da manifestação e é também uma estratégia indigna para o povo angolano, porque não está em causa se José Eduardo dos Santos é de origem santomense e não está em cima da manifestação questões étnicas. Isso é um aproveitamento de algumas organizações que estão, de fato, a apelar a algum extremismo contra o presidente do país, mas nada disso é de fato o cerne da razão da manifestação... a manifestação visa mais democracia, mais justiça social e acabar com um regime déspota que existe em Angola. Agora esses apelos, essas insinuações e acusações só estão a servir a causa do MPLA que passa a ter razão quando vê tantos argumentos perfeitamente irracionais.
DW: Nós vemos que são quatro cidades, Bruxelas, Londres São Paulo e Luanda. Não falta aqui uma outra ?
Orlando Castro: Qual? Lisboa? Não, está prevista também uma manifestação, embora em Portugal seja um pouco complicado fazer manifestações contra o regime angolano... este regime tem muito poder em Portugal. Tenho algumas dúvidas que uma manifestação em Portugal tenha algum tipo de adesão.
DW: Estas manifestações tem algum possibilidade de ter sucesso?
Orlando Castro: Pouco. Para além da contra-manifestação o MPLA tem a polícia, os militares e os serviços de informação ameaçando com tudo mais alguma coisa, se o MPLA quiser usar não a força da razão, mas a razão da força, as pessoas eventualemnte poderão reagir.
Autor: Marta Barroso
Revisão: Nádia Issufo/António Rocha