Angolanos ouvidos pela DW África queixam-se que produtos da cesta básica estão mais caros, pouco antes das festas de Natal e Ano Novo. Mas Governo promete conter a especulação de preços.
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Este é já o quarto ano em que os angolanos passam a quadra festiva em dificuldades. Desde 2015 que o país é assolado por uma crise económica e financeira que resultou da baixa do preço do petróleo no mercado internacional. Angola depende essencialmente da importação de bens e serviços, mas, no mercado, não há divisas e os produtos da cesta básica continuam escassos.
À semelhança dos anos anteriores, este ano também será difícil: "Desde que [a crise] começou até hoje, as coisas não correram nada bem", diz um residente de Luanda em entrevista à DW África.
"Podemos estar sossegados"
O ministro angolano do Comércio, Jofre Van-Dúnem Júnior, garante, porém, que não haverá rutura de "stock" dos produtos da cesta básica durante o Natal e o Ano Novo.
"Para esta quadra festiva e para o primeiro trimestre do próximo ano, nós teremos a garantia de eventualmente não haver falha nenhuma no que diz respeito ao abastecimento da cesta básica e, nesse último mês do ano, para produtos da quadra festiva. Podemos estar sossegados. Não só em Luanda, mas também noutras províncias, a cesta básica está garantida."
Angolanos prevêem dificuldades na quadra festiva
Não será o caso da região leste do país. Nelson Euclides, residente da província do Moxico, fala em escassez de bens e serviços na sua zona e afirma que os preços no mercado local dispararam.
"Uma vez que há dificuldades nas vias, não tem havido acesso total e as coisas aqui sobem de preço", comenta. "Nesta altura, uma caixa de peixe lambula [sardinha] está a 7.000 kwanzas [20 euros], o carapau está entre 350 e 400 kwanzas [1 euro] e uma coxa de frango está a 400 ou 500 kwanzas [1,40 euros]. As coisas ficam mais difíceis nesta altura."
Combate à especulação
No entanto, o ministro do Comércio, Jofre Van-Dúnem Júnior, garante que a especulação de preços por parte dos agentes económicos do setor privado será sancionada.
"A lei prevê quais são as sanções a aplicar no caso de comprovada especulação desta gente usa deste artifício para aumentar os seus preços neste período", afirmou o governante.
Durante a quadra festiva também se multiplicam as campanhas de ajuda às pessoas mais necessitadas, entre elas, crianças e doentes. Muitas pessoas e organizações levam bens aos hospitais, centros de acolhimentos e outras instituições.
Angola: Jovens desempregados marcham em Luanda
O elevado índice de desemprego levou os jovens angolanos novamente às ruas. Durante a caminhada de sábado (08.12) os "kunangas", nome atribuído aos desempregados, exigiram políticas para a criação de postos de trabalho.
Foto: DW/B. Ndomba
Caminhar por mais emprego
Onde estão os 500 mil empregos que o Presidente da República, João Lourenço, prometeu durante a campanha eleitoral de 2017? Foi uma das questões colocadas pelos jovens desempregados que marcharam nas ruas de Luanda. A marcha decorreu sob o lema "Emprego é um direito, desemprego marginaliza".
Foto: DW/B. Ndomba
Apoio popular
Populares e vendedores ambulantes apoiaram o protesto deste sábado, que foi também acompanhado pelas forças de segurança. Participaram na marcha algumas associações como o Movimento Estudantil de Angola (MEA) e a Associação Nova Aliança dos Taxistas. Os angolanos que exigem criação de mais postos de trabalho marcharam do Cemitério da Sant Ana até ao Largo das Heroínas, na Avenida Ho Chi Minh.
Foto: DW/B. Ndomba
Níveis alarmantes
O Governo angolano reconhece que o nível de desemprego é preocupante no país. 20% da população em idade ativa está desempregada, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgados no ano passado. Os jovens em Angola são os mais afetados - 46% não têm emprego.
Foto: DW/B. Ndomba
Palavras de ordem
Os manifestantes exibiram vários cartazes com mensagens dirigidas ao Presidente e ao Governo: "João Lourenço mentiroso, onde estão os 500 mil empregos?", "Ser cobrador de táxi não é minha vontade" e "Por kunangar perdi respeito em casa”, foram algumas das questões levantadas.
Foto: DW/B. Ndomba
Estágios, inclusão e subsídios
Além de empregos, os manifestantes exigem políticas de estágio - para que os recém formados tenham a experiência exigida pelas empresas – e programas que beneficiem pessoas com deficiência física. Este sábado, pediram também ao Governo que atribua subsídio de desemprego aos angolanos que não trabalham.
Foto: DW/B. Ndomba
Sem perspetivas de trabalho
O índice do desemprego piorou com a crise económica e financeira em Angola, desde 2015. O preço do crude caiu no mercado internacional, e, como o país está dependente das exportações de petróleo, entraram menos divisas. Muitas empresas foram obrigadas a fechar as portas e milhares de cidadãos ficaram desempregados.
Foto: DW/B. Ndomba
Formados e desempregados
Entre os manifestantes ouvidos pela DW África em Luanda, histórias como a de Joice Zau, técnica de refinação de petróleo, repetem-se. Concluiu a sua formação em 2015 e, desde então, não teve quaisquer oportunidades de emprego: "Já entreguei currículos em várias empresas no ramo petrolífero e nunca fui convocada", conta. Gostaria de continuar a estudar, mas, sem emprego, são muitas as dificuldades.
Foto: DW/B. Ndomba
É preciso fazer mais
Para a ativista Cecília Quitomebe, o Executivo está a "trabalhar pouco para aquilo que é o acesso ao emprego para os jovens". No final da marcha, a organização leu um "manifesto" lembrando que a contestação à política de João Lourenço começou a 21 de julho, quando o mesmo grupo de jovens exigiu mais políticas de emprego. Na altura, a marcha realizou-se em seis cidades. Este sábado, ocorreu em 12.