Angolanos querem fiscalizar ações dos parlamentares
José Adalberto (Huambo)
28 de setembro de 2017
Nesta quinta-feira (28.09.), aconteceu a cerimónia de tomada de posse dos 220 deputados eleitos para a IV legislatura. Para fiscalizar, angolanos pedem transmissão das sessões da Assembleia pelos meios de difusão.
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A cerimónia de tomada de posse e juramento dos 220 deputados eleitos para IV legislatura aconteceu em Luanda dirigida por Fernando da Piedade Dias dos Santos, reconduzido esta quinta-feira (28.09.) no cargo de presidente da Assembleia Nacional de Angola.
Ao abrir a reunião, Fernando da Piedade elogiou a "posição sábia e corajosa" de todos os partidos que concorreram às eleições gerais de 23 de agosto, ressaltando que "numa competição nem todos ficam satisfeitos com os resultados". Entre outras questões, foram discutidas a proposta de constituição da mesa provisória da Assembleia Nacional e da Comissão de Verificação de Mandatos.
Do lado de fora do encontro realizado a portas fechadas, o povo angolano se preocupa agora em como fiscalizar e cobrar os novos deputados. Para eles, a melhor forma de avaliar o desempenho de seus representantes na Casa das Leis seria a transmissão das sessões parlamentares feita pela televisão e rádio. Limitações e Censura
Online-deputados - MP3-Mono
O sociólogo Memória Ekulika acredita na possibilidade de os debates serem transmitidos pelos meios de difusão. No entanto, ele salientou que isso dependerá, em grande parte, da vontade e dos interesses políticos do Movimento Popular de Libertação Nacional (MPLA), partido que detém a maioria qualificada no Parlamento. "Não me parece que o MPLA venha aceitar isso com tanta naturalidade, se as discussões não o beneficiarem muito naquilo que são os seus programas. A não ser que seus programas sejam aceites. Então sim, eles vão liberar a transmissão do que acontece na Assembleia”, ponderou. Em outras palavras, o sociólogo receia que, caso haja uma transmissão, os conteúdos das sessões devam sofrer limitações e alguma censura.
Para o angolano Abraão Messamessa, a transmissão das sessões plenárias da Assembleia Nacional é necessária e urgente. Ele entende que só assim os eleitores terão uma ideia sobre o desempenho dos seus representantes no Parlamento. "Nas legislaturas anteriores, dizia-se que a Assembleia era de mudos. As pessoas querem saber se seus interesses estão sendo devidamente defendidos”, afirmou.
O professor Bento Bungui acompanha a vida política angolana com muito interesse. Assim como o Ekulika, ele também acredita que a transmissão dos debates da Assembleia Nacional dependerá unicamente da vontade do partido que possui o maior número de assentos, o MPLA. "A transmissão ao vivo dos debates na Televisão Pública de Angola (TPA) vai depender da vontade de uma só bancada parlamentar. O oposição pode se esforçar muito, mas não sei se isso surtirá efeito”, disse.
Outras Prioridades
Mas a transmissão dos debates não é a única prioridade na lista dos cidadãos para os novos deputados. Abel José defende, por exemplo, a revisão da Constituição da República durante este mandato; sete anos após a sua aprovação em 2010. "Seria bom que houvesse uma proposta do género e o Parlamento pudesse acolher esta proposta de revisão Constitucional. Há sempre novas ideias que precisam ser acrescidas”, pontuou José.
Já para Germana José, estudante do segundo ciclo, os novos representantes da Casa das Leis devem ouvir o que pensam os eleitores, independente da sua condição social. "A nossa Assembleia deveria ouvir mais a opinião dos cidadãos. O povo deve ser consultado; tanto os intetetuais quanto os não-intelectuais”. Dos 220 deputados eleitos no pleito de 23 de agosto, 59 são mulheres e 161 são homens.
Eleições em Angola: Do combate à corrupção ao "Dubai africano"
A DW África analisou os principais factos que marcaram a campanha eleitoral angolana e as promessas mais faladas de cada partido concorrente às eleições gerais de 23 de agosto. Um resumo fotográfico.
Foto: privat
Pouco espaço para a oposição
Na pré-campanha, a oposição afirmou que nas ruas de Luanda só se viam cartazes do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Segundo a Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), as agências publicitárias recusavam-se a divulgar materiais da oposição, sob risco de perderem as licenças e os espaços publicitários atribuídos pelo Governo Provincial de Luanda.
Foto: DW/N. Sul de Angola
Propostas na rádio e televisão
Após a pré-campanha, a Comissão Nacional Eleitoral estabeleceu o período de 23 de julho a 21 de agosto para a campanha eleitoral. Além dos atos de massa, os partidos puderam apresentar as suas propostas nos meios de comunicação social do país. A oposição voltou a dizer que não teve o mesmo espaço que o partido no poder.
Foto: DW/B.Ndomba
Combate à corrupção
Combater a corrupção foi uma das metas apresentadas pelo MPLA. O partido no poder, que tem João Lourenço (foto) como cabeça-de-lista, reconheceu durante a campanha que o país "não pode mais sofrer com a corrupção". A ausência do candidato à vice-presidência, Bornito de Sousa, e do Presidente cessante José Eduardo dos Santos, que supostamente estavam doentes, também marcou a campanha eleitoral.
Foto: DW/ A. Cascais
"Interesse nacional"
Entre as propostas da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) está a gratuidade da educação até o ensino secundário. O maior partido da oposição também prometeu um Governo em que o "interesse nacional" esteja acima de "interesses partidários, setoriais ou pessoais". O partido liderado por Isaías Samakuva encerrou sua campanha eleitoral no Cazenga (foto), em Luanda.
Foto: DW/A. Cascais
Mudança depois de 42 anos
A CASA-CE, segundo maior partido da oposição, reuniu ao longo da campanha milhares de apoiantes em diferentes atos de massa nas províncias (foto em Benguela, a 29 de julho). No ato de encerramento, em Luanda, o candidato Abel Chivukuvuku pediu confiança dos angolanos para pôr fim aos "42 anos de sofrimento e má governação".
Foto: DW/N. S. D´Angola
Estados federados
A campanha do Partido de Renovação Social (PRS) foi marcada pela proposta de implantar um sistema federalista no país. O cabeça-de-lista Benedito Daniel (ao centro da foto) defendeu que só através dessa reforma as províncias angolanas – convertidas em estados – teriam autonomia para governar.
Foto: DW/M. Luamba
Angolano no "centro da governação"
A campanha da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) deu especial atenção à pobreza, saúde, educação e emprego. Liderado por Lucas Ngonda, o partido diz que é a "única formação partidária que tem o angolano como centro da sua governação". A abertura da campanha eleitoral aconteceu no Bié (foto), berço do antigo braço armado do partido, a União Para a Libertação de Angola (UPA).
Foto: DW/J. Adalberto
"Dubai africano"
A Aliança Patriótica Nacional (APN) é o partido com o candidato à Presidência mais jovem. Durante a sua campanha eleitoral, o ex-deputado Quintino Moreira (à esquerda na foto) prometeu criar um milhão de empregos – o dobro do que o MPLA prometeu nestas eleições. Além disso, disse que transformaria a província do Namibe num "Dubai africano".