Angolanos sofrem nas estradas em viagens interprovinciais
José Adalberto (Huambo)
27 de março de 2018
Cidadãos da província do Huambo enfrentam longas filas para circular entre o interior e litoral angolano devido à degradação das estradas. Algumas empresas decidiram paralisar as atividades.
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Em Angola, é cada vez mais difícil circular entre o interior e o litoral por causa do estado avançado de degradação de várias estradas que foram reabilitadas há cerca de dez anos, no âmbito do crédito chinês. À DW África, alguns passageiros relataram estar sujeitos a longas horas de viagem por causa das filas. Muitas empresas já decidiram paralisar as suas atividades e as poucas que continuam reclamam dos danos causados.
A estrada nacional 120, que liga as províncias do Huambo e Luanda, passando pelas cidades de Wacu Kungo/Quibala, pela província do Kwanza, é um exemplo. Com uma extensão de cerca de 600 quilómetros, essa via apresenta-se quase inacessível para muitas viaturas. Os poucos que se arriscam reclamam das peripécias porque passam.
Chuvas agravam situação
João Dominos trabalha para uma empresa de transporte coletivo, uma das poucas a operar nesta rota. O motorista reclama do mau estado da via e diz que a situação agrava-se com a chuva. "A via está num estado péssimo e com a chuva a tendência é piorar. Antes, viajávamos em oito horas, agora precisamos de 14", relata.
Angolanos sofrem nas estradas em viagens interprovinciais
Kassinda Castro viaja regularmente para a capital do país e lamenta o tempo que leva para fazer o percurso. Ele pede a intervenção do poder executivo para a reabilitação da estrada o quanto antes. "A viagem para Luanda dura muito mais agora. Se sairmos daqui hoje, só chegaremos amanhã a Luanda. Antigamente, a viagem durava bem menos e chegávamos no mesmo dia. O Governo precisa reabilitar a via", desabafa.
O estado da via também dificulta a sua atividade de Bruno da Rocha. Segundo o motorista, chegar ao destino de todas as viagens tem sido um "milagre". Segundo relata,"a via neste estado representa um risco muito grande para os motoristas. Quando chegamos em casa, temos que dar graças à Deus".
Prejuízos elevados
João Domingos realça que sua empresa tem tido inúmeros prejuízos com avarias constantes dos autocarros, fruto do mau estado técnico de várias vias do país. "Temos tido problemas por causa da lama. As viaturas não estão preparadas para essa situação", explica.
A estrada nacional 120 foi inaugurada pelo então Presidente da República, José Eduardo dos Santos, em 2008, no âmbito das obras de reabilitação no país abrangidas pelo crédito chinês, logo após ao alcance da paz, em 2002.
Neste momento, vários troços da via estão encerrados para reparação. As obras estão a cargo da empresa CJR Angola. Contactado pela DW, o encarregado de obras recusou-se a prestar qualquer declaração, alegando falta de autorização para o efeito.
Dinheiro da China e um renascimento sobre trilhos em África
Para melhorar sua infraestrutura de transporte no exterior, a China está investindo maciçamente em África, dando uma nova vida a um velho meio de viajar.
Foto: Getty Images/AFP
O comboio rápido de Abuja a Kaduna
Desde julho, 175 quilómetros de trilhos interligam a capital da Nigéria, Abuja, ao estado de Kaduna, no norte do país. A construção custou cerca de 800 milhões de euros. O Banco de Exportação e Importação da China forneceu aproximadamente 450 milhões deste valor.
Foto: DW/U. Musa
O chefe de Estado nos trilhos
O Presidente Muhmmadu Buhari foi convidado especial na viagem inaugural do novo comboio. Um bilhete para a viagem de 2 horas e 40 minutos custará o equivalente a três euros para a classe económica e 4,25 euros para a primeira classe.
Foto: DW/U. Musa
Comboios em Addis Ababa
A primeira linha de comboio rápido na capital da Etiópia entrou em atividade em 2015. Foi construída pelo Grupo Ferroviário da China – também com financiamento da China EximBank. Até 2020, os chineses serão os responsáveis pela operação e manutenção destes comboios. Em seguida, a Etiópia Railways Corporation deve assumir.
Foto: picture-alliance/dpaMarthe van der Wolf
Interligando a África Oriental
Pelo menos 25 mil quenianos e 3 mil chineses devem participar na construção da rota de 472 quilómetros entre Mombasa e Nairobi. Cerca de 90 por cento dos custos de aproximadamente 3,6 mil milhões de euros serão financiados pela China. Mais tarde, cidades como Kampala e Juba devem ser ligadas.
Foto: Reuters/N. Khamis
Museu Ferroviário em Livingstone
O transporte ferroviário em África remonta a um longo caminho. Em 1856 a rota entre Alexandria e o Cairo foi aberta. Estima-se que estas máquinas de vapor trabalharam do início do século 20 até 1976 na Zâmbia. Agora os comboios são exibidos no Museu Ferroviário em Livingstone.
Foto: Getty Images/AFP/S. de Sakutin
Dilapidação no final do domínio colonial
Uma série de linhas ferroviárias foram construídas pelos colonialistas em África. Os comboios transportavam matérias-primas para a costa, onde seriam então enviadas para a Europa. Muitas dessas rotas estão em ruínas. As relíquias na foto pertencem à linha ferroviária original entre Swakopmund e Walvis Bay, construída em 1914, mas substituída em 1980.
Foto: picture-alliance/Ardea/K. Terblanche
Rede ferroviária em África
Numa declaração de 2015, o Banco Africano de Desenvolvimento enfatizou a importância da ferrovia para o continente. Permite o transporte barato de mercadorias e alivia o congestionamento urbano, de acordo com o banco. O relatório também critica o mau estado das redes ferroviárias. Elas se estendem principalmente ao norte e ao sul e muitas vezes não estão ligadas entre si.
Estações fechadas serão reabertas?
À medida que as economias crescem em muitos países africanos, uma nova ênfase é dada aos melhoramentos nos transportes. Se a China e outros patrocinadores continuarem a investir, estações de comboio desertas como esta em Adis Abeba poderão funcionar novamente.
Foto: Getty Images/AFP/M. Medina
Ferrovia na África do Sul
A rede ferroviária regional de Gautrain conecta Pretória e Joanesburgo com o maior aeroporto de África. Ela deve ser ampliada dos atuais 80 para 230 quilómetros nos próximos 20 anos. Com cerca de 21 mil quilómetros de via, a África do Sul tem, de longe, a maior rede ferroviária do continente. O Sudão tem 7,3 mil quilómetros, enquanto o Egito tem 5,1 mil.
Foto: imago/ZUMA Press
Comboios franceses em Tânger
Os comboios de alta velocidade do continente estão planejados no norte. O primeiro de 12 comboios TGV franceses foram entregues em junho passado. A viagem entre Tânger e Casablanca deve levar 2 horas 10 minutos a uma velocidade de até 320 quilómetros por hora, em vez de 4 horas e 45 minutos. A linha se estenderá mais tarde à Argélia e à Tunísia.