Informação foi avançada pelo Governo, que também reconhece a precariedade das infraestruturas escolares. Os professores criticam a falta de investimentos e ameaçam com nova paralisação para este ano escolar.
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O ano escolar em Angola, cuja abertura oficial é dia 31 de janeiro, deve começar com um défice de professores e infraestruturas no sistema de ensino do país, segundo declarações do próprio secretário de Estado para o Ensino Geral, Joaquim Cabral.
Em entrevista ao "Jornal de Angola" desta quarta-feira (03.01), Cabral avançou que, atualmente, estão no ativo 177 mil docentes, mas que Angola precisa de mais de 200 mil professores. No país há cerca de dois milhões de crianças que não vão à escola.
De acordo com o presidente do Sincato Nacional dos Professores angolanos (SINPROF), Guilherme Silva, há mais de três anos que não são contratados novos docentes no país. O Governo justifica a questão com a crise financeira.
Entretanto, o presidente do SINPROF aponta que "diminuiu o número de professores porque alguns passaram a reforma, há falecidos e há alguns, segundo o secretário de Estado, demitidos em função de comportamentos que levaram que alguns fossem demitidos do setor".
"Significa que precisamos de por volta de mais de 20 mil [professores], atualmente, para termos uma cifra de cerca de 200 e tal mil professores", pontua Silva.
Ano letivo vai iniciar com défice de professores em Angola
Qualidade do ensino
Uma das consequências do défice de docentes em Angola é a sobrelotação das salas de aula, o que prejudica a qualidade do ensino.
"Os professores que estão no setor estão sobrecarregados. Temos salas de aula superlotadas com 70, 80 alunos, e isso não facilita o próprio processo de ensino, no que tem a ver à qualidade", alerta o presidente do SINPROF, ressaltando que, se esta situação continuar, "não sairemos do fosso da má qualidade de ensino que temos no nosso país".
Infraestrutura educacional precária
Além da falta de professores, em entrevista ao Jornal de Angola o secretário de Estado para o Ensino Geral reconheceu que a infraestrutura do sistema educacional angolano é deficiente e que há muitas obras paralisadas que precisam ser recuperadas.
Guilherme Silva, denuncia que "ainda há crianças a estudar debaixo de árvores, outras em salas de aula construídas com chapas de zinco".
"Fundamentalmente no litoral, onde o clima é tão quente, imagine estar numa sala do chão ao teto feita de chapas de zinco, com o calor que faz, com a temperatura a rondar até quase 40 graus", indigna-se.
Segundo Guilherme Silva, nos últimos anos o Governo construiu algumas escolas, mas grande parte dessas escolas não foram acompanhadas por peritos para fazer a orientação da infraestrutura dos prédios.
Ele diz que "há escolas que às 16 horas estão escuras, porque durante a construção as próprias janelas não foram orientadas em função daquilo que manda a higiene escolar", e denuncia que há "ainda localidades onde construíram escolas e que não existe ninguém".
Greve dos professores pode ser retomada
No ano passado, o SINPROF suspendeu uma greve depois que o Governo cessante de José Eduardo dos Santos comprometeu-se em encaminhar uma série de demandas da categoria, entre elas a aplicação do novo estatuto da carreira docente. Estas demandas já estão a ser tratadas pelo novo Governo.
Entretanto, o sindicato afirma que "não está descartada a possibilidade de retomarmos a greve se o Governo não demonstrar disposição de aprovar o estatuto, regulamentá-lo e implementá-lo, de forma a tirarmos o manto da desmotivação".
De acordo com Guilherme Silva, milhares de professores do ensino primário têm os salários equiparados a aproximadamente 100 euros por mês. "No entanto, ninguém consegue sobreviver".
Investimento na educação ainda é baixo
Sem sinais de novas contratações de professores e com a infraestrutura escolar precarizada, o presidente do SINPROF mostra-se preocupado com os investimentos do Estado na educação, que, segundo a entidade, continua a ser inferior aos investimentos nos setores de defesa e segurança.
"A nossa exigência é de cerca de 20% do Orçamento do Estado devia ser direcionado para a educação, se quisermos, de facto, desenvolvimento no nosso país. Mas, pelo o que notamos da proposta do Orçamento do Estado, está aquém das nossas expetativas. Isto é, ainda há um desembolso maior para a defesa e segurança em detrimento do setor da educação", lamenta.
O aumento do número de salas de aulas e o recrutamento de professores foram promessas de campanha do Presidente João Lourenço.
A DW África entrou em contato com o gabinete do secretário de Estado para o Ensino Geral, Joaquim Cabral, para tentar uma entrevista, no entanto não obteve resposta.
Angola: Os contrastes de um gigante petrolífero
O "boom" do petróleo ainda não é para todos. Ao mesmo tempo que Angola oferece oportunidades de investimento a empresas nacionais e estrangeiras, mais de um terço da população vive com menos de um dólar por dia.
Foto: DW/R. Krieger
Lama no cotidiano
O bairro Cazenga é o mais populoso de Luanda – ali, vivem mais de 400 mil pessoas numa área de 40 quilômetros quadrados. Em outubro de 2012, chuvas fortes obrigaram muitos habitantes a andar na lama. Do Cazenga saíram muitos políticos do partido governista angolano MPLA. "Uma das prioridades de políticos pobres é a riqueza rápida", diz o economista angolano Fernando Heitor.
Foto: DW/R. Krieger
Dominância do MPLA
Euricleurival Vasco, 27, votou no MPLA nas eleições gerais de agosto de 2012: "É o partido do presidente. Desde a guerra civil, ele tenta deixar o poder, mas a população não deixa". Críticos dizem que José Eduardo dos Santos não cumpriu nenhuma promessa eleitoral, como acesso à água e à eletricidade. Mas o governo lançou um plano de desenvolvimento em novembro para dar esses direitos à população.
Foto: DW/R. Krieger
Economia informal em Angola
Muitos angolanos esperam riqueza do chamado "boom" do petróleo. Mas grande parte da população é ativa na economia informal, como estas vendedoras de bolachas na capital, Luanda. Segundo a ONU, 37% da população vivem com menos de um dólar por dia. Elias Isaac, da organização de defesa dos direitos humanos Open Society, considera este um "contrassenso" entre "crescimento e desenvolvimento".
Foto: DW/R. Krieger
Uma infraestrutura de fachada?
A capital angolana Luanda é considerada uma das cidades mais caras do mundo. Um prato de sopa pode custar cerca de 10 dólares num restaurante, o aluguel de um apartamento mais de cinco mil dólares por mês. A Baía de Luanda é testemunho constante do "boom" do petróleo: guindastes e arranha-céus disputam quem é mais alto.
Foto: DW/Renate Krieger
O "Capitólio" de Angola
Próximo à Baía de Luanda, surge a nova sede do parlamento angolano. O partido governista MPLA vai ocupar a maior parte dos 220 assentos: elegeu 175 deputados em agosto de 2012. Por outro lado, o MPLA perdeu 18 assentos em comparação à eleição de 2008. A UNITA, maior partido da oposição, ganhou 32 assentos em 2012 – mas tem pouco espaço...
Foto: DW/R. Krieger
O presidente no cotidiano de Luanda
…porque, segundo críticos, o presidente José Eduardo dos Santos (numa foto da campanha eleitoral) "domina tudo": o poder Executivo, o Judiciário e o Legislativo, diz o economista Fernando Heitor. José Eduardo dos Santos também parece dominar muitas ruas de Luanda: em novembro de 2012, quase todas as imagens eram da campanha do partido no poder, o MPLA.
Foto: DW/R. Krieger
Dormir nos carros
Os engarrafamentos são frequentes em Luanda. Por isso, muitos funcionários que moram em locais mais afastados já partem para a capital angolana de madrugada. Ao chegarem em Luanda, dormem nos carros até a hora de ir trabalhar – juntamente com as crianças que precisam ir à escola. A foto foi tirada às 06:00h da manhã perto do Palácio da Justiça em novembro de 2012.
Foto: DW/R. Krieger
A riqueza em recursos naturais de Angola
Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África, mas também tem potencial para se tornar um dos maiores exportadores de gás natural. A primeira unidade de produção de LNG – Gás Natural Liquefeito, em inglês – foi construída no Soyo, norte do país, mas ainda está em fase de testes. A fábrica tem uma capacidade de produção de 5,2 milhões de toneladas de LNG por ano.
Foto: DW/Renate Krieger
Para acabar com a dependência do petróleo...
A diversificação da economia poderia ser uma solução, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo angolano criou um fundo soberano do petróleo para investir no país e no estrangeiro, e para ter uma reserva caso haja oscilações no preço do chamado "ouro negro". Uma alternativa, segundo especialistas, poderia ser a agricultura, já que o petróleo só deve durar mais 20 ou 30 anos.
Foto: DW/R. Krieger
Angola atrai estrangeiros
Vêem-se muitas placas em chinês e empresas chinesas em Angola. Os chineses são a maior comunidade estrangeira no país. Em seguida, vêm os portugueses, que em parte fogem à crise económica europeia. Depois, os brasileiros, por causa da proximidade cultural. Todos querem uma parte da riqueza angolana ou investem na reconstrução do país.
Foto: DW/R. Krieger
Homem X Asfalto
Para o educador Fernando Pinto Ndondi, o governo angolano deveria investir "no homem e não no asfalto". Há cinco anos, Fernando e sua famíla foram desalojados da ilha de Luanda por causa da construção de uma estrada. Agora vivem nestas casas precárias. O governo constrói novas casas para a população. Porém, os preços, a partir de 90 mil dólares, são altos demais para a maior parte dos angolanos.
Foto: DW/Renate Krieger
Para onde vai o dinheiro?
O que aconteceu com 32 mil milhões de dólares lucrados pela empresa petrolífera estatal angolana Sonangol entre 2007 e 2011? Um relatório do FMI constatou, em 2011, que faltava essa soma nos cofres públicos. A Sonangol diz ter investido o dinheiro em infraestrutura. Elias Isaac, da Open Society, diz que o governo disponibiliza mais informações – o que "não é sinônimo de transparência".