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Escritores angolanos provam liberdade criativa

João Carlos (Lisboa)17 de junho de 2015

Os escritores angolanos não abandonam o seu papel de agentes ativos no processo de construção da identidade angolana, afirma o secretário-geral da União de Escritores Angolanos, entrevistado em Lisboa.

Luis do Carmo Neto
Foto: DW/J. Carlos

Quarenta anos depois da independência nacional, os escritores angolanos são confrontados com a problemática da identidade e continuam a discutir sobre o papel da literatura na formação da nova Nação.

"Angola é uma nação em construção e a consolidação da independência é um processo em curso, que ainda durará décadas", afirma António Francisco Luís do Carmo Neto, secretário-geral da União dos Escritores Angolanos (UEA), sustentando que uma das maiores riquezas da literatura angolana tem a ver com o facto de ela projetar "várias identidades assentes numa única matriz", a que chama de "angolanidade".

Construindo a angolanidade

Carmo Neto salienta que o humor e o sentido crítico sempre fizeram parte do conceito da angolanidade. De uma maneira geral os escritores sempre evidenciaram algum sentido crítico, mesmo nos anos depois da independência, em que prevalecia apenas uma ideologia, e era difícil manter esse sentido crítico: "Hoje, contráriamente ao que se diz e se pensa, o escritor angolano continua a olhar a sociedade com o habitual sentido crítico e também de aplauso, quando é tempo de entoar o hino. Continua a antecipar-se como sociólogo, continua a usar os semáforos. Há muitas obras que nos revelam essas matérias", afirma.

Segundo Carmo Neto,os literatas angolanos estão a cumprir o seu papel, promovendo o debate e confronto de ideias: "O belo e a harmonia nem sempre se constróiem com tranquilidade. Os escritores angolanos por vezes aparecem como aqueles que alertam para o que está mal, através das suas obras."

Através da crítica ou da sátira social, o escritor aponta caminhos, mas não é obrigado a apresentar soluções. Carmo Neto dá um exemplo paradigmático disso, recordando a obra emblemática “Quem me Dera Ser Onda”, do escritor Manuel Rui, que, através da crítica social, denunciava os atos dos detentores do poder público. O secretário geral da UEA, na entrevista que concedeu à DW em Lisboa, revela ainda que "brevemente se lançará uma obra com o título 'República do vírus'." Nessa obra, mais uma vez, se recorrerá à ironia e à sátira relacionada com algumas coisas menos conseguidas.

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Escritores angolanos lançam revista "Textos e Pretextos" em Lisboa

A questão da identidade, também suscitada pelo escritor José Eduardo Agualusa, na sua recente obra “O Livro dos Camaleões”, é o foco da última edição, a 19ª, da revista “Textos e Pretextos”, lançada na segunda-feira na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Carmo Neto é um dos escritores angolanos que dá o seu testemunho à publicação, através da qual se procura mostrar aos leitores uma Angola nas suas diferentes dimensões sócio-culturais.

Foto: Fotolia/Speedfighter/DW Grafik

Em novembro deste ano, a par com o lançamento pela UEA de um volume completo sobre a temática, está previsto um encontro de reflexão sobre a identidade nacional.

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