António Frangoulis, que saiu recentemente do MDM, nega categoriamente as acusações de que é um "agente secreto" do partido no poder. Segundo maior partido da oposição também parece desconfiar das intenções do ex-polícia.
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Se a saída de António Frangoulis do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), a segunda maior força da oposição no país, expôs a crescente crise no partido, por outro lado abriu uma brecha para ser alvo de críticas e de suspeitas.
Na hora de saída do MDM, António Frangoulis, entre outras coisas, acusou o partido de não ser verdadeiramente democrático. E as reações ao seu desligamento do MDM não tardaram em chegar: alguns setores e internautas nas redes sociais acusam Frangoulis de espiar a segunda maior força da oposição em Moçambique ao serviço da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), o partido no poder.
"Se eu fosse espião, se ainda fosse da FRELIMO, a senhora não estaria a falar comigo agora", respondeu à DW África quando confrontado com a acusação. "Quando se tem compromissos dessa natureza, pelo menos na nossa filosofia, na nossa maneira de ser, não se fica muito tempo em pé. Mas estou muito limpo e mais do que limpo, muito descansado, tranquilo porque isso que dizem não tem nada a ver comigo, ando de cabeça erguida", sublinha Frangoulis.
Polícia e ex-membro da FRELIMO
Antes de se filiar no MDM, António Frangoulis era membro da FRELIMO e foi também diretor da Polícia de Investigação Criminal (PIC) da cidade de Maputo e adjunto comissário da Polícia - cargos que costumam ser associados à confiança política.
António Frangoulis é "espião" da FRELIMO no MDM?
Reagindo à saída de António Frangoulis do MDM, o porta-voz do partido, Sande Carmona, deixa entender que o antigo membro tinha outros objetivos no partido. "Frangoulis entra no MDM em 2014 e o MDM foi fundado em 2009. Significa que Frangoulis entrou para apreciar a posição do MDM, a qualidade do MDM. E os seus interesses não foram acomodados, daí que pense o que pensa e diga o que disse. Não é o MDM que se responsabiliza pelo pensamento dele, esse é o pensamento dele pessoal", afirma.
Frangoulis, que se destaca publicamente pela sua frontalidade no debate de temas polémicos, argumenta que essa sua postura tem lhe valido problemas, já nos tempos em que era membro da FRELIMO. O ex-polícia garante que a sua postura é resultado da sua independência, que tanto preza.
Críticas à porta das eleições
A DW África perguntou a António Frangoulis por que motivo as suas críticas públicas e a saída acontecem só agora, quando se aproximam as eleições autárquicas.
"Era preciso que se desse tempo ao tempo", justifica. "Porque existe mais gente, que saiu [do partido], até certo ponto apreensiva com a posição tomada no II Congresso. Era preciso dar tempo porque havia uma réstia de esperança, que residia no Conselho Nacional. E este Conselho é que dirige os destinos do partido no intervalo dos dois congressos. E podiam ter chegado a uma conclusão de que houve uma falha e de que podiam concertar".
No II Congresso do MDM, Frangoulis defendeu que devia haver eleições internas para a indicação dos órgãos deliberativos e seus titulares. Entretanto, segundo alega, essa e outras propostas dos membros do partido foram rechaçadas.
Moçambique: Assassinato de figuras incómodas é uma moda que veio para ficar
O preço de fazer valer a verdade, justiça, conhecimento ou até posições diferentes costuma ser a vida em Moçambique. A RENAMO é prova disso, no pico da tensão com o Governo da FRELIMO perdeu dezenas de membros.
Foto: BilderBox
Mahamudo Amurane: Silenciada uma voz contra corrupção e má governação
O edil da cidade de Nampula foi morto a tiros no dia 4 de outubro de 2017. Insurgia-se contra a má gestão da coisa pública e corrupção no seu Município. Foi eleito para o cargo de edil através do partido MDM. Embora mais de sessenta pessoas já estejam a ser ouvidas pela justiça não se conhecem os autores do crime.
Foto: DW/Nelson Carvalho Miguel
Jeremias Pondeca: Uma voz forte nas negociações de paz que foi emudecida
Foi alvejado mortalmente a tiro por homens desconhecidos no dia 8 de setembro de 2016 em Maputo quando fazia os seus exercícios matinais. O assassinato aconteceu numa altura delicada das negociações de paz. Pondeca era membro da Comissão Mista do diálogo de paz, membro do Conselho de Estado, membro sénior da RENAMO e antigo parlamentar. Até hoje a polícia não encontrou os autores do crime.
Foto: DW/L. Matias
Manuel Bissopo: O homem da RENAMO que escapou por um triz
No dia 4 de janeiro de 2016 foi baleado depois de uma conferência de imprensa do seu partido na Beira. Bissopo tinha acabado de denunciar alegados raptos e assassinatos de membros do seu partido e preparava-se para se deslocar para uma reunião da força de oposição quando foi baleado. A polícia moçambicana até hoje não encontrou os atiradores.
Foto: Nelson Carvalho
José Manuel: Uma das caras da ala militar da RENAMO que se apagou
Em abril de 2016 este membro do Conselho Nacional de Defesa e Segurança em representação da RENAMO e membro da ala militar do principal partido da oposição foi morto a tiro por desconhecidos à saída do aeroporto internacional da Beira. A questão militar é um dos pontos sensíveis nas negociações de paz. Os assassinos continuam a monte.
Foto: DW/J. Beck
Marcelino Vilanculos: Assassinado quando investigava raptos
Era procurador foi baleado no dia 11 de abril de 2016 à entrada da sua casa, na Matola. Marcelino Vilanculos investigava casos de rapto de empresários que agitavam o país na altura. O julgamento deste assassinato começou em outubro de 2017.
Foto: picture-alliance/Ulrich Baumgarten
Gilles Cistac: A morte foi preço pelo conhecimento divulgado?
O especialista em assuntos constitucionais de Moçambique foi baleado por desconhecidos no dia 3 de março de 2015 na capital Maputo. O assassinato aconteceu após uma declaração que fortaleceu a posição da RENAMO de gestão autónoma na sua querela com o Governo da FRELIMO. Volvidos mais de dois anos a sua morte continua por esclarecer.
Foto: A Verdade
Dinis Silica: Assassinado em circunstâncias estranhas
O juiz Dinis Silica também foi morto a tiro por desconhecidos, em 2014, em plena luz do dia, quando conduzia o seu carro na capital moçambicana. Na altura transportava uma avultada quantia de dinheiro, cuja proveniência é desconhecida. O juiz da Secção Criminal do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo investigava igualmente casos de raptos. Os assassinos continuam a monte.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Deck
Siba Siba Macuacua: Uma morte brutal em nome da verdade
O economista do Banco de Moçambique foi atirado de um dos andares do prédio sede do Banco Austral no dia 11 de agosto de 2001. Na altura investigava um caso de corrupção na gestão do Banco Austral. Siba Siba trabalhava na recuperação da dívida de milhões de meticais, resultante da má gestão do banco. Embora tenha sido aberta uma investigação sobre esta morte ainda não há esclarecimentos até hoje.
Foto: DW/M. Sampaio
Carlos Cardoso: O começo da onda de assassinatos
Considerado o símbolo do jornalismo investigativo em Moçambique, Carlos Cardoso foi assassinado a tiros a 22 de novembro de 2000. Na altura investigava a maior fraude bancária de Moçambique. O seu assassinato foi interpretado como um aviso claro aos jornalistas moçambicanos para que não interferissem nos interesses dos poderosos. Devido a pressões internacionais o caso chegou a justiça.