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António Guterres apela à calma e ao diálogo no Mali

Reuters | AFP | Lusa | cvt
20 de junho de 2020

Secretário-geral da ONU fez o apelo após dezenas de milhares de manifestantes saírem à rua na capital Bamako, na sexta-feira (19.06), a pedir a demissão do Presidente Ibrahim Boubacar Keita.

Mali Imam Mahmoud Dicko | Forderung nach Rücktritt von Präsident Ibrahim Boubacar Keita in Bamako
Protesto de sexta-feira (19.06) em BamakoFoto: Reuters/M. Rosier

O Presidente maliano Ibrahim Boubacar Keita foi reeleito em 2018 para um segundo mandato de cinco anos, mas tem estado sob pressão - com uma crise de segurança que se arrasta há anos, o surto do novo coronavírus, uma greve dos professores e tensões políticas decorrentes de eleições locais disputadas em março passado.

Os protestos da sexta-feira (19.06) foram os segundos deste mês e os líderes da oposição apelaram à desobediência civil se certas demandas não foram atendidas.

"O secretário-geral apela a todos os líderes políticos para que enviem mensagens claras aos seus apoiantes para exercerem o máximo de contenção e se absterem de qualquer ação susceptível de alimentar tensões", disse Farhan Haq, porta-voz adjunto do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.

António GuterresFoto: AFP via Getty Images

Multidão nas ruas

Na sexta-feira (19.06), dezenas de milhares de pessoas manifestaram-se em Bamako para exigir a demissão do Presidente Keita, num protesto convocado por uma coligação heterogénea formada nas últimas semanas contra o chefe de Estado - o "Movimento do 5 de junho - Reunião das Forças Patrióticas" (M5-RFP).

Após uma oração dirigida por um imã na Praça da Independência, no centro da capital maliana, foi tocado o hino nacional, mas depois foram as vuvuzelas que mais se ouviram no protesto - durante o qual os manifestantes empunhavam cartazes onde lia-se, entre outras coisas, "IBK sai" ou "A ditadura não passará", relatou a agência de notícias France-Presse.

Nem a polícia nem os organizadores divulgaram o número de manifestantes, mas o protesto parece ser pelo menos tão grande como o de 5 de junho, de acordo com os correspondentes da agência noticiosa.

Mahmoud DickoFoto: Reuters/M. Rosier

Longa lista de insatisfação

Sinal das crescentes tensões políticas no Mali nas últimas semanas, o M5-RFP expressa a exasperação alimentada pelos milhares de vítimas nos últimos anos dos ataques 'jihadistas' e da violência intercomunitária, pelo sentimento de impotência do Estado, pela recessão económica, pela crise dos serviços públicos e das escolas e pela perceção de uma corrupção generalizada.

À frente do M5-RFP, que reúne líderes religiosos e personalidades da sociedade civil e do mundo político, está um homem de crescente influência, Mahmoud Dicko, um imã rigoroso e patriótico e antigo aliado do Presidente.

Negociações em curso

O protesto de sexta-feira foi convocado e realizado, apesar do compromisso assumido por Keita, na terça-feira (16.06), de formar um novo Governo de unidade que incluiria figuras da oposição.

Esta nova demonstração de força do M5-RFP surge após uma semana de conversações que não conseguiram aliviar as tensões.

Uma missão da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) reuniu-se esta quinta-feira (18.06) com o primeiro-ministro, o Presidente e o líder dos protestos no Mali para tentar dissipar a crise política no país, segundo agências noticiosas internacionais.

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