O secretário-geral da ONU acredita na capacidade da liderança africana para pôr fim ao impasse político na Guiné-Bissau. António Guterres também está confiante quanto ao processo de paz em Moçambique.
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A Organização Nações Unidas (ONU) vai continuar a apoiar as organizações regionais e sub-regionais, como a União Africana (UA) e a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), para que seja encontrada uma solução definitiva e duradoura que ponha fim à crise política que dura desde 2015 na Guiné-Bissau, assegura António Guterres.
"Sou um grande defensor da liderança africana para resolver os problemas africanos e entendo que as Nações Unidas devem ser um foco de apoio às iniciativas africanas e é assim que vemos a ação da CEDEAO na Guiné-Bissau", afirmou o secretário-geral da ONU quando questionado pela DW África, em conferência de imprensa, se as Nações Unidas iriam assumir uma posição mais firme que evite o arrastamento da crise política na Guiné-Bissau, depois das sanções aplicadas pela CEDEAO a figuras da classe política guineense, apontadas como responsáveis pela obstrução à solução do impasse.
Guiné-Bissau: CEDEAO quer ver Acordo de Conacri cumprido
02:25
"Temos uma visão clara de parceria com as instituições africanas. Temos com a União Africana uma relação de enorme cooperação e estamos a fazer o mesmo com as organizações sub-regionais como a CEDEAO", realçou o antigo primeiro-ministro português, queassumiu a liderança da ONU em 2017.
De acordo com a ONU, o prolongamento do diferendo político na Guiné-Bissau requer uma presença internacional contínua de apoio aos esforços dos líderes guineenses, visando a nomeação de um primeiro-ministro "aceitável", a criação de um Governo inclusivo, a organização de eleições - legislativas em 2018 e presidenciais em 2019 - e a implementação de reformas prioritárias abrangendo a administração pública, justiça, defesa e segurança, conforme estipulado no Acordo de Conacri.
Cumprimento do Acordo de Conacri
Há dias, reagindo a tais sanções, o Governo português, através do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, afirmou que a decisão de aprovar sanções e a lista de personalidades "é uma decisão da CEDEAO", visto que Portugal não é membro da CEDEAO.
Crises africanas devem ser resolvidas por líderes africanos
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"Em relação ao processo político guineense, continuamos a pensar que a solução para os problemas que estão à vista de todos é o cumprimento do Acordo de Conacri, o que implica a formação de um governo consensual encarregado, entre outras coisas, de preparar as próximas eleições", declarou o chefe da diplomacia lusa.
Portugal espera que haja consenso entre os partidos políticos para que o calendário eleitoral possa ser respeitado, disse Santos Silva aos jornalistas.
Paz em Moçambique
Na conferência de imprensa que António Guterres concedeu esta segunda-feira (19.02), a DW África também indagou o secretário-geral sobre os avanços para a consolidação da paz em Moçambique, à luz do entendimento já alcançado entre o Governo da FRELIMO, no poder, e a RENAMO, principal partido da oposição.
A resposta do secretário-geral da ONU é de otimismo: "Espero que Moçambique possa finalmente encontrar a paz a que tem direito, a que o povo moçambicano tem direito, para que todas as dificuldades económicas que o país atravessa possam ser enfrentadas de uma forma positiva e para que a qualidade de vida que os moçambicanos merecem se possa concretizar."
António Guterres falou à imprensa nacional e estrangeira à margem da cerimónia da sua distinção com o grau de doutoramento honoris causa, atribuído pela Universidade de Lisboa, por intermédio do Instituto Superior Técnico, onde foi aluno de engenharia.
No seu discurso, o líder da ONU sublinhou que o desafio central do nosso tempo é a questão das alterações climáticas, que "representam hoje a maior ameaça para os povos e para o planeta." Guterres disse que falta aos países ambição suficiente para aplicar os Acordos de Paris sobre o clima, que, como referiu, não são, por si só, suficientes face à dimensão dos problemas e às consequências drásticas do aquecimento global.
Além do primeiro-ministro português, António Costa, também presenciou a atribuição do referido título académico a António Guterres o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que esta terça-feira (20.02) inicia uma visita de Estado de dois dias a São Tomé e Príncipe.
Guiné-Bissau: O país onde nenhum Presidente terminou o mandato
Desde que se tornou independente, a Guiné-Bissau viu sentar na cadeira presidencial quase uma dúzia de Presidentes - incluindo interinos e governos de transição. Conheça todas as caras que passaram pelo comando do país.
Foto: DW/B. Darame
Luís de Almeida Cabral (1973-1980)
Luís de Almeida Cabral foi um dos fundadores do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e também o primeiro Presidente da Guiné-Bissau - em 1973/4. Luís Cabral ocupou o cargo até 1980, data em que foi deposto por um golpe de Estado militar. O antigo contabilista faleceu, em 2009, vítima de doença prolongada.
Foto: Bundesarchiv/Bild183-T0111-320/Glaunsinger
João Bernardo Vieira (1980/1994/2005)
Mais conhecido por “Nino” Vieira, este é o político que mais anos soma no poder da Guiné-Bissau. Filiado no PAIGC desde os 21 anos, João Bernardo Vieira tornou-se primeiro-ministro em 1978, tendo sido com este cargo que derrubou, através de um golpe de Estado, em 1980, o governo de Cabral. "Nino" ganhou as eleições no país em 1994 e, posteriormente, em 2005. Foi assassinado quatro anos mais tarde.
Foto: picture-alliance/dpa/L. I. Relvas
Carmen Pereira (1984)
Em 1984, altura em que ocupava a presidência da Assembleia Nacional Popular, Carmen Pereira assumiu o "comando" da Guiné-Bissau, no entanto, apenas por três dias. Carmen Pereira, que foi a primeira e única mulher na presidência deste país, foi ainda ministra de Estado para os Assuntos Sociais (1990/1) e Vice-Primeira-Ministra da Guiné-Bissau até 1992. Faleceu em junho de 2016.
Foto: casacomum.org/Arquivo Amílcar Cabral
Ansumane Mané (1999)
Nascido na Gâmbia, Ansumane Mané foi quem iniciou o levantamento militar que viria a resultar, em maio de 1999, na demissão de João Bernardo Vieira como Presidente da República. Ansumane Mané foi assassinado um ano depois.
Foto: picture-alliance/dpa
Kumba Ialá (2000)
Kumba Ialá chega, em 2000, à presidência da Guiné-Bissau depois de nas eleições de 1994 ter sido derrotado por João Bernardo Vieira. O fundador do Partido para a Renovação Social (PRS) tomou posse a 17 de fevereiro, no entanto, também não conseguiu levar o seu mandato até ao fim, tendo sido levado a cabo no país, a 14 de setembro de 2003, mais um golpe militar. Faleceu em 2014.
Foto: AP
Veríssimo Seabra (2003)
O responsável pela queda do governo de Kumba Ialá foi o general Veríssimo Correia Seabra, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. Filiado no PAIGC desde os 16 anos, Correia Seabra acusou Ialá de abuso de poder, prisões arbitrárias e fraude eleitoral no período de recenseamento. O general Veríssimo Correia Seabra viria a ser assassinado em outubro de 2004.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Bordalo
Henrique Rosa (2003)
Seguiu-se o governo civil provisório comandado por Henrique Rosa que vigorou de 28 de setembro de 2003 até 1 de outubro de 2005. O empresário, nascido em 1946, conduziu o país até às eleições presidenciais de 2005 que deram, mais uma vez, a vitória a “Nino” Vieira. O guineense faleceu, em 2013, aos 66 anos, no Hospital de São João, no Porto.
Foto: AP
Raimundo Pereira (2009/2012)
A 2 de março de 2009, dia da morte de Nino Vieira, o exército declarou Raimundo Pereira como Presidente da Assembleia Nacional do Povo da Guiné-Bissau. Raimundo Pereira viria a assumir de novo a presidência interina da Guiné-Bissau, a 9 de janeiro de 2012, aquando da morte de Malam Bacai Sanhá.
Foto: AP
Malam Bacai Sanhá (1999/2009)
Em julho de 2009, Bacai Sanhá foi eleito presidente da Guiné Bissau pelo PAIGC. No entanto, a saúde viria a passar-lhe uma rasteira, tendo falecido, em Paris, no inicio do ano de 2012. Depois de dirigir a Assembleia Nacional de 1994 a 1998, Bacai Sanhá ocupou também o cargo de Presidente interino do seu país de maio de 1999 a fevereiro de 2000.
Foto: dapd
Manuel Serifo Nhamadjo (2012)
Militante do PAIGC desde 1975, Serifo Nhamadjo assumiu o cargo de Presidente de transição a 11 de maio de 2012, depois do golpe de Estado levado a cabo a 12 de abril de 2012. Este período de transição terminou com as eleições de 2014, que foram vencidas por José Mário Vaz. A posse de “Jomav” como Presidente marcou o regresso do país à ordem constitucional no dia 26 de junho de 2014.