1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

António Guterres lamenta racismo sistémico atual

25 de março de 2025

Assinala-se hoje o Dia Internacional em Memória das Vítimas da Escravatura e do Tráfico Transatlântico de Escravos. Secretário-geral da ONU classifica tráfico como "uma mancha indelével na consciência da humanidade".

Secretário-Geral da ONU, António Guterres, falando sobre a situação financeira de Gaza após cortes de ajuda dos EUA
Foto: Bianca Otero/ZUMA Press Wire/picture alliance

O secretário-geral da ONU, António Guterres, que discursava perante a Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU), recordou que por mais de quatro séculos, os africanos foram "escravizados, sequestrados, traficados, desumanizados, abusados e explorados". 

"A profundidade e a escala da crueldade, desumanidade e depravação dessa prática são incompreensíveis. Assim também é o sofrimento, o medo, a dor e a miséria suportados por milhões de pessoas exploradas por lucro", afirmou, admitindo que os impactos resultaram em famílias dilaceradas e comunidades dizimadas. 

"Lamento profundamente que vários países - incluindo o meu - se tenham envolvido nesse comércio imoral", sublinhou Guterres, referindo o papel de Portugal nesse sistema. 

Guterres criticou o comércio "movido pela ganância e construído sobre mentiras - particularmente a mentira da supremacia branca -, um comércio possibilitado por seguradoras, banqueiros, companhias de navegação, sistemas legais e muito mais, que viu indivíduos, instituições e corporações acumularem riquezas inimagináveis às custas do sofrimento humano". 

Hoje, a humanidade enfrenta a escravatura moderna. Mulheres e crianças costumam ser as maiores vítimasFoto: Robert Geiss/picture alliance

Guterres questiona "lucros obscenos da escravidão"

O líder da ONU lembrou que quando a escravatura foi oficialmente abolida, não foram os escravizados que foram compensados, mas sim os escravizadores, que receberam reparações equivalentes a milhares de milhões de dólares. 

 "Numa reviravolta ainda mais cruel, alguns escravos foram forçados a pagar indemnizações", lamentou. Numa reflexão sobre a atualidade, o secretário-geral afirmou que os legados duradouros da escravatura e do colonialismo ainda estão presentes no mundo e pediu que se fortaleça a luta contra esses males. 

"Os lucros obscenos derivados da escravatura e as ideologias racistas que sustentavam o comércio ainda estão connosco. O racismo sistémico foi incorporado em instituições, culturas e sistemas sociais. E a exclusão profundamente enraizada, a discriminação racial e a violência continuam a minar a capacidade de muitas pessoas de ascendência africana de prosperar e atingir o seu potencial máximo", reforçou. 

Guterres afirmou que graças ao trabalho incansável de líderes e comunidades afetadas, algumas instituições e Estados estão a tomar medidas para reconhecer e abordar os impactos do seu passado colonial. "É um começo. Mas precisamos de muito mais", frisou. 

Além de instar os países a cumprir as suas obrigações internacionais, Guterres pediu que os líderes empresariais promovam a igualdade e combatam o racismo e que a sociedade civil continue a pressionar porjustiça e se posicione contra o racismo onde e quando surgir. 

Paulina Chiziane: "Houve coragem para sonhar com liberdade"

26:46

This browser does not support the video element.

Racismo e os dramas de hoje

Na cerimónia de hoje esteve também presente Salome Agbaroji, jovem norte-americana filha de pais nigerianos e vencedora do Prémio Nacional de Poesia Jovem de 2023, que lembrou que "a segregação, a gentrificação e a discriminação habitacional em todo o mundo contribuem insidiosamente para as disparidades raciais". 

Agbaroji comparou essas atitudes a "sistemas de racismo institucionalizado patrocinados pelo Estado" e observou que muitas pessoas negras como ela são "desqualificadas pela cor da pele antes mesmo de colocarem os pés na porta, assumindo a sua incompetência". 

Também o escritor nigeriano Wole Soyinka (vencedor do Prémio Nobel de Literatura em 1986) participou no evento e fez um discurso mais literário, sugerindo que a escravatura deveria ser sempre lembrada através de exposições dinâmicas que destaquem o que significou como "história interrompida de um continente (África)". 

Essas exposições, que chamou de "o navio da escravatura" - já que teriam um caráter itinerante, de capital em capital -, não deveriam apenas recolher objetos saqueados do continente africano, mas também estar abertas às criações da "diáspora africana". 

Devolução de estátua à RDC financia recuperação de floresta

03:20

This browser does not support the video element.

Lusa Agência de notícias
Saltar a secção Mais sobre este tema