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DesastresMoçambique

António Guterres pede 254 milhões de dólares para Moçambique

Lusa | cvt
14 de março de 2021

Secretário-geral da ONU pediu mais apoio internacional para Moçambique ultrapassar "tripla ameça, resultante da violência, das crises climáticas e da pandemia". Dois anos após passagem do Idai, ainda há desafios.

Mosambik Wirbelsturm Idai
Dois anos após a passagem do ciclone Idai por Moçambique, reconstrução ainda é desafioFoto: picture-alliance/dpa/INGC

Num vídeo em referência ao segundo aniversário da passagem do ciclone Idai por Moçambique, António Guterres lançou um apelo à comunidade internacional "para que intensifique os seus esforços e apoie o plano de resposta humanitária para Moçambique".

"O povo de Moçambique precisa da nossa ajuda urgente para enfrentar a tripla ameaça resultante da violência, das crises climáticas e da pandemia Covid-19", declarou o secretário-geral da ONU, depois de exclamar que "são catástrofes atrás de catástrofes".

Segundo Guterres, Moçambique precisa de 254 milhões de dólares (cerca de 212,5 milhões de euros) "para responder às crescentes necessidades humanitárias provocadas por esta tripla crise".

António GuterresFoto: Getty Images/AFP/A. Weiss

O secretário-geral da ONU recordou que "dois anos após o Ciclone Idai, muitas famílias ainda lutam para reconstruir as suas vidas", disse ainda que ficou "profundamente comovido" e "jamais" esquecerá o que viu na visita a Moçambique, logo após a passagem dos ciclones Idai e Kenneth, em 2019.

"Fiquei profundamente comovido com a força e a resiliência de todos aqueles que foram afetados e também inspirado pelo heroísmo das equipas de ajuda de emergência", declarou.

O antigo primeiro-ministro português (1995 -- 2002) alertou que a força dos ciclones, a intensidade e frequência das tempestades tropicais são provas de que "o tempo está a esgotar-se no combate às alterações climáticas".

"Há regiões em África que estão a aquecer a um ritmo duas vezes superior face à média global do planeta. Na verdade, o continente africano, sendo dos que tem menores responsabilidades na crise climática, é dos que mais sofre as suas consequências", lamentou o secretário-geral da ONU.

Guterres destacou que "é urgente adotar medidas imediatas destinadas a mitigar o aquecimento global e, ao mesmo tempo, apoiar as nações que estão na linha da frente das alterações climáticas para que vejam reforçada a sua resiliência e capacidade de adaptação".

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Apoio do Governo português à reconstrução

Cinco projetos financiados pelo Mecanismo de Reconstrução para Moçambique, acionado pelo Governo português, continuam no terreno a trabalhar na recuperação das zonas afetadas pelo ciclone Idai, que há dois anos atingiu o centro do país.

O fundo, constituído no âmbito na cimeira Portugal-Moçambique, em julho de 2019, foi cofinanciado pelo Orçamento de Estado de Portugal e por doações de entidades públicas e privadas no valor de 1,9 milhões de euros.

O mecanismo tem como objetivo financiar projetos de Organizações Não Governamentais para o Desenvolvimento (ONGD) vocacionados para a recuperação, reconstrução, apoio às populações mais afetadas e promoção da resiliência.

Os projetos foram selecionados a através de concurso e estão no terreno desde fevereiro de 2020 com duração prevista de dois anos.

Apoiar, Fundação Fé e Cooperação, Helth4Moz, Helpo e Oikos foram as organizações escolhidas, as quais se juntaram outras em consórcio, para a implementação das medidas no terreno.

Os projetos escolhidos são na área da saúde, com intervenções previstas na resposta às necessidades básicas, melhoria do acesso à saúde materna e infantil e recuperação de estruturas médicas, bem como na recuperação da produção agrícola e promoção de resiliência das comunidades aos desastres climáticos.

"Trata-se de uma iniciativa inovadora de envolvimento do setor público e privado na assistência à reconstrução de um país afetado por uma catástrofe natural, constituindo uma oportunidade de afirmação da cooperação portuguesa e de todos os doadores", considerou o instituto Camões. 

O instituto, que gere a cooperação portuguesa, disse estar a acompanhar o desenvolvimento dos projetos, adiantando que a dimensão dos danos causados pelos dois ciclones e a vulnerabilidade de Moçambique a choques climáticos "determinam a necessidade de reforçar também a gestão de risco de desastres naturais e a adaptação às alterações climáticas".

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Cenário desafiante

A organização portuguesa de cooperação para o desenvolvimento Oikos – que gere projetos de apoio à recuperação da produção agrícola nos distritos de Dondo e Nhamatanda, na província de Sofala, e Chiúre, em Cabo Delgado - apoiou 22.500 pessoas em parceria com Cáritas Portuguesa, Caritas Moçambicana, Associação de Defesa do Património de Mértola (ADPM) e associação Luarte.

"O cenário de recuperação pós-Idai está muito complicado porque a zona é muito vulnerável", sublinhou Dinis Chembene, coordenador de projetos da Oikos, considerando que este cenário "reforça a importância dos projetos" de promoção da resiliência que a Oikos tem no país.

"Não é só apoiar as famílias a terem uma nova casa e dar sementes, mas apoiar a comunidade toda a responder melhor a estes desastres", disse.

A somar aos desafios climáticos, a pandemia de Covid-19, gerou, segundo Dinis Chembene, "um clima de incerteza" e "restrições de vária ordem".

A organização promove a entrega de sementes e materiais agrícolas, bem como a formação das comunidades em novas técnicas de cultivo, melhoria da capacidade de armazenamento e criação de novas fontes de rendimento baseadas na agricultura.

"Várias famílias até produzem, mas perdem-se muitos alimentos entre o tirar das 'machambas' até ao armazenamento nos celeiros, muitos deles precários. Estamos a trabalhar essa componente para que as pessoas produzam mais e com qualidade, mas também tenham capacidade de armazenar estes produtos para terem alimentação durante o ano todo e algum excedente para comercialização", adiantou.

A Oikos está ainda a construir quatro escolas, num total 24 salas de aulas, com recurso a materiais disponíveis na região combinados com materiais industriais e a formar as comunidades sobre como construir de forma resiliente para responder a ciclones, cheias e inundações.

Além de servirem para as crianças aprenderem, a ideia é que, em momentos de desastre, as salas possam servir também como locais de abrigo para as comunidades.

Cabo Delgado: Governo moçambicano realoja deslocados

03:00

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Covid-19: ACNUR alerta para situação em Cabo Delgado

"Tem sido um desafio implementar medidas preventivas da Covid-19 em Cabo Delgado devido à capacidade e financiamento limitados do Governo e das organizações humanitárias para responder às crescentes necessidades", lê-se no mais recente relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). 

Um dos principais constrangimentos na prevenção da Covid-19 "é o facto de vários locais da província estarem sobrelotados, tornando a distância física um desafio significativo, juntamente com a falta de máscaras faciais e acesso limitado a sabão e água para lavar as mãos".

Por outro lado, o ACNUR continua "profundamente preocupado com a situação das comunidades deslocadas em áreas de difícil acesso". 

Seis distritos de Cabo Delgado, norte de Moçambique, permanecem inacessíveis a ajuda humanitária: Quissanga, Macomia, Meluco, Mocímboa da Praia, Muidumbe e Nangade.

"Garantir o acesso humanitário a essas áreas é uma prioridade para garantir que a assistência chegue aos necessitados", destaca o documento.

Palma está acessível, "apesar dos desafios logísticos e da segurança instável".

As operações do ACNUR continuam nos distritos de Pemba, Ancuabe, Chiure, Montepuez e Metuge.

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