António Guterres pede a líderes para ouvirem as pessoas
Lusa
26 de outubro de 2019
O secretário-geral das Nações Unidas apelou aos líderes mundiais "para darem ouvidos aos problemas reais das pessoas reais". Guterres pediu aos manifestantes para seguirem exemplos de não violência.
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O secretário-geral da ONU, António Guterres, citou exemplos como os de Mahatma Ghandi, ativista e pacifista indiano, e Martin Luther King Jr, líder do movimento de defesa dos direitos civis dos afro-americanos, e, avançou a agência de notícias Associated Press (AP), disse aos jornalistas que "a inquietação na vida das pessoas" desencadeou manifestações pelo mundo - desde o Médio Oriente à Europa, África, Ásia, América Latina e Caraíbas.
Reconhecendo que cada situação é única, Guterres declarou, nesta sexta-feira (25.10), ser "claro que existe um défice crescente de confiança das pessoas no sistema político, assim como ameaças crescentes ao contrato social".
"O mundo está também a lutar contra os impactos negativos da globalização e novas tecnologias, que aumentaram as desigualdades nas sociedades", afirmou António Guterres. "Mesmo onde as pessoas não estão a protestar estão a sofrer e querem ser ouvidas", acrescentou.
O secretário-geral da ONU notou que as pessoas querem respeito pelos direitos humanos, querem ter uma palavra a dizer nos processos de decisão que afetam as suas vidas e querem condições de igualdade nos sistemas sociais, económicos e financeiros.
Protestos violentos
António Guterres reiterou a sua profunda preocupação que alguns protestos se tenham tornado violentos e tenham levado à morte de pessoas, e sublinhou a obrigação dos governos em garantir a liberdade de expressão e reunião, de modo que "as forças de segurança devem agir com máxima contenção, em conformidade com o direito internacional".
"Não pode haver qualquer desculpa para a violência -- de qualquer parte", disse.
Em resposta a uma pergunta sobre as manifestações no Iraque que se tornaram mortíferas, Guterres adiantou que as mais recentes evidências recolhidas pelas Nações Unidas mostram "violações substanciais dos direitos humanos que têm de ser claramente denunciadas e condenadas".
Quanto aos protestos no Líbano assinalou que o país "tem de resolver os seus problemas com diálogo".
Guterres apelou à ação para criar uma globalização justa, para fortalecer a coesão social e responder à crise climática. E observou ainda que estes são os objetivos da ONU para 2030, que querem pôr fim à extrema pobreza, promover o desenvolvimento económico, preservar o ambiente e combater a desigualdade.
"Com solidariedade e políticas inteligentes os líderes podem mostrar que compreendem e apontar o caminho para um mundo mais justo", disse.
Zonas de guerra transformadas em locais de desenvolvimento
Regiões da província de Maputo testemunharam ataques e mortes durante a guerra civil em Moçambique. Antigos cenários de guerra tornam-se hoje palco para o desenvolvimento local do comércio e da indústria.
Foto: DW/R. da Silva
Um passado de mortes
A região onde fica a aldeia 3 de Fevereiro, a norte da província de Maputo, foi a mais dilacerada pela guerra civil. Na altura, a imprensa tinha como manchetes para as suas capas o sofrimento dos residentes desta região. Não há números exatos, mas houve muitas mortes na sequência de ataques atribuídos à Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o atual maior partido da oposição.
Foto: DW/R. da Silva
A escola mais atacada
Este estabelecimento de ensino, construído na época colonial, dedicava-se à formação de professores africanos. Durante a guerra civil, foram reportados ataques e os alunos muitas vezes deslocavam-se à vila da Manhiça. Hoje, a escola é a sede do Instituto Médio Politécnico Alvor.
Foto: DW/R. da Silva
Abrigo para os fugitivos
Esta varanda já tinha donos: os deslocados dos arredores da vila da Manhiça encontravam neste lugar o mais seguro apenas para passar a noite. A varanda foi atacada algumas vezes, o que os desesperou. Hoje, como se pode notar, no local há estabelecimentos comerciais.
Foto: DW/R. da Silva
Marcas da guerra
Há zonas, como Magude, cujos edifícios nunca mereceram reabilitações que possam fazer esquecer as marcas da guerra. Este edifício faz parte da missão católica de Magude, que foi atacado durante a guerra, e que nunca mais conheceu uma reabilitação.
Foto: DW/R. da Silva
Única entrada, única saída
Esta é uma ponte que desperta curiosidade aos que pela primeira vez visitam a vila de Magude. Pela mesma ponte passam peões, motociclistas, viaturas e locomotivas. Por baixo, passa o rio Inkomati, que não impedia ataques durante a guerra a esta pequena vila.
Foto: DW/R. da Silva
Repovoamento de animais
O distrito de Magude localiza-se mais a nordeste da província de Maputo. Esta zona foi severamente afetada pela guerra e a população bovina baixou drasticamente. Mas agora, com projetos de repovoamento destes animais, Magude é dos maiores produtores de carne na província.
Foto: DW/R. da Silva
Isolamento
O distrito de Magude é um dos mais isolados da província de Maputo. O seu desenvolvimento está a ser muito lento, apesar de a guerra ter terminado há mais de 20 anos. Falta muita coisa por melhorar. Esta loja, por exemplo, ainda apresenta marcas da guerra.
Foto: DW/R. da Silva
Coluna militar
A guerra abateu-se muito sobre Maluana. Este posto administrativo do distrito de Manhiça ficou conhecido pelos ataques que sofria. A coluna militar era a única que ajudava as pessoas a passar por esta zona. Pouco depois da guerra, as marcas eram ainda visíveis - como carcaças de viaturas queimadas. Agora, está a registar um desenvolvimento, com o comércio informal a ganhar força.
Foto: DW/R. da Silva
Centro de tecnologias
O Governo de Moçambique criou um centro de tecnologias nesta região severamente afetada pela guerra, o que antes era impensável. É um edifício que foi instalado no meio da mata, precisamente numa estrada de terra que dá acesso ao centro de formação de militares de Munguine, mais a leste da província de Maputo.
Foto: DW/R. da Silva
De cenário de guerra a pólo económico
A região de Bobole, no distrito de Marracuene, também foi uma zona de guerra. Aliás, as atrocidades começavam nesta região e o cenário era de "cada um por si e Deus por todos". As colunas militares começavam ou descansavam neste ponto. Hoje, a multinacional Heineken instalou aqui a sua empresa e Bobole está a ter novo rosto económico.
Foto: DW/R. da Silva
Estância turística
Esta é a entrada para a aldeia de Taninga. Tal como a 3 de Fevereiro, esta aldeia testemunhava frequentemente mortes e muitos dos residentes destas duas aldeias vizinhas acabaram por se refugiar na vila da Manhiça e outros na cidade de Maputo. Hoje, há uma estância turística que faz esquecer as marcas da guerra.
Foto: DW/R. da Silva
Proteção dos corredores ferroviários
Os que viveram os momentos de instabilidade e que precisavam frequentemente se deslocar contam que o comboio de passageiros era igualmente atacado. O corredor do Limpopo era crucial para o transporte de mercadorias para países vizinhos. A RENAMO e o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) acabaram por assinar um acordo para não atacar corredores ferroviários de todo o país.