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SociedadeVaticano

O cardeal Angelo Becciu é acusado de crimes financeiros

Lusa
3 de julho de 2021

O cardeal Angelo Becciu, destituído pelo Papa Francisco mais outras nove pessoas são acusados dos crimes de abuso de poder, extorsão, branqueamento de capitais, fraude, falsa escritura pública e privada e peculato.

Vatikan Kardinal Giovanni Angelo Becciu spricht zu den Medien in Rom
Foto: Guglielmo Mangiapane/Reuters

O cardeal Angelo Becciu, será julgado, juntamente com outras nove pessoas, por crimes relacionados com a venda de um edifício em Londres, informou hoje o Vaticano.

"O presidente do Tribunal do Vaticano ordenou a citação para o julgamento dos acusados no âmbito da matéria relacionada com os investimentos financeiros da Secretário de Estado em Londres.

O julgamento terá início a 27 de julho", explica o Vaticano em comunicado de imprensa.

Relativamente ao cardeal Becciu, o Vaticano adianta que responderá "pelos delitos de peculato e abuso de poder também em regime de concorrência, bem como por suborno".

 Angelo Becciu, prefeito da Congregação da Causa dos Santos, resignou ao cargo em setembro e aos seus direitos enquanto cardeal, depois de ter sido envolvido neste escândalo financeiro que envolve negócios imobiliários em Londres, no qual a sede da Igreja Católica perdeu milhões de euros em comissões pagas a intermediários.

Até 2018, o cardeal Becciu era o segundo mais alto funcionário da Secretaria de Estado do Vaticano, reportando diretamente a Bento XVI e, mais tarde, ao Papa Francisco.

Papa Francisco Foto: Reuters/A. Pizzoli

Em maio de 2018 o Papa Francisco nomeou o arcebispo italiano Angelo Becciu para prefeito da Congregação da Causas dos Santos, sucedendo ao cardeal Angelo Amato, no cargo desde 2008.

 Abuso de poder, extorsão, branqueamento de capitais (...)

Além do cardeal e de outras nove pessoas, o tribunal do Vaticano ordenou ainda a citação para julgamento de quatro empresas.

 Os arguidos são acusados dos crimes de abuso de poder, extorsão, branqueamento de capitais, fraude, falsa escritura pública e privada, violação do sigilo do cargo e peculato.

 Em 2014, a Secretaria investiu cerca de 244 milhões de dólares como parceira de um acordo para comprar um edifício de luxo em Londres. 

 Uma investigação ao negócio, iniciada em julho de 2019 na sequência de uma denúncia do Instituto de Obras Religiosas e do Gabinete do Auditor Geral, levou à suspensão de cinco funcionários do Vaticano, quatro deles da Secretaria tendo o Vaticano acusado os intermediários de extorsão.

Foto: Andrei Badau/Fotolia

Segundo o Vaticano, as investigações foram realizadas em estreita colaboração com o Ministério Público de Roma e a Unidade de Polícia Económico-Financeira - GICEF da Polícia Financeira de Roma, assim como com os procuradores de Milão, Bari, Trento, Cagliari e Sassari e respetivas secções da polícia judiciária.

"As atividades preliminares, também realizadas com comissões rogatórias em inúmeros outros países estrangeiros (Emirados Árabes Unidos, Grã-Bretanha, Jersey, Luxemburgo, Eslovénia, Suíça), permitiram trazer à tona uma vasta rede de relacionamentos com operadores do mercado financeiro que tem gerado perdas significativas para as finanças do Vaticano, depois de sacar também dos recursos destinados às obras de caridade pessoal do Santo Padre", adianta o Vaticano na nota de imprensa.

 A iniciativa judicial está diretamente ligada às indicações e reformas do Papa Francisco para maior transparência e recuperação das finanças do Vaticano, uma obra que, segundo a acusação, foi contrariada por atividades especulativas ilegais e lesivas da reputação da instituição.

 Em dezembro de 2020 e na sequência deste caso, o Papa Francisco assinou o 'motu proprio' (documento papal) no qual retirava ao Secretário de Estado a gestão de fundos, contas bancárias e investimentos imobiliários.

 A partir de 01 de janeiro de 2021, esses fundos passaram a ser geridos pela Administração do Património da Sé Apostólica (APSA), um marco da reforma da Cúria que está a ser realizada para conseguir maior transparência nas finanças.

 Com este 'motu proprio', Francisco reduziu o número de gestores económicos na Santa Sé e concentrou a administração, a gestão e as decisões económicas e financeiras nos dicastérios (ministérios) que têm essa tarefa.

Vítima de uma conspiração

Angelo Becciu acusado de crimes financeirosFoto: Stefano Spaziani/picture alliance

Reagindo as acusações que lhe são imputadas, Angelo Becciu disse em comunicado ser vítima de "uma conspiração deliberada contra mim e há muito tempo espero para saber das acusações, para que possa rapidamente negá-las e provar ao mundo a minha absoluta inocência", garantiu o religioso.

"Nestes longos meses tudo se inventou sobre mim, expondo-me a um pelourinho mediático ímpar ao qual não me entreguei, sofrendo em silêncio, também pelo respeito e proteção da Igreja, à qual dediquei toda a minha vida. Só considerando esta grande injustiça como um teste de fé, poderei encontrar forças para lutar esta batalha da verdade ", acrescentou.

O cardeal, que sempre negou as denúncias, sublinhou em comunicado que "finalmente chegou o momento do esclarecimento, e o tribunal poderá ver a absoluta falsidade das acusações contra mim e as tramas sombrias que evidentemente os sustentaram e alimentaram", concluiu Becciu.

Em conjunto com o cardeal, outras nove pessoas e quatro empresas foram indiciadas depois de a investigação judicial, iniciada em 2019, ter permitido estabelecer "uma ampla rede de relações com participantes dos mercados financeiros que gerou perdas consideráveis para as finanças do Vaticano, tendo também utilizado os recursos destinados às obras de caridade pessoal do Papa ".

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