Guerrilheiros pedem a fundadores do movimento "RENAM Democrática" que abandonem a ideia. E ameaçam: "Quem avisa, amigo é". Analista ouvido pela DW teme ressurgimento de discurso belicista.
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Victor Viandro disse esta terça-feira (30.08) que a "brincadeira" tem limites. O presidente da Associação dos Combatentes da Luta pela Democracia (ACOLDE) vê com maus olhos a criação do movimento RENAM Democrática. Apelou, por isso, aos fundadores que desistam da ideia e partiu diretamente para as ameaças.
"Quem avisa, amigo é. Recuem antes que seja tarde. Ao manterem [o vosso propósito] estão a nos desafiar, e quem nos desafia sabe o que lhe espera", disse Victor Viandro.
A tensão politico-ideológica aumenta desde que ex-membros da RENAMO decidiram criar um novo partido com um nome bastante semelhante, a RENAM Democrática. Um dos fundadores do movimento é Vitano Singano, antigo membro da comissão política da RENAMO.
"Não estão autorizados a usar os nomes dos nossos saudosos, nem da RENAMO, alterados ou adulterados", acrescentou Viandro. "Apelamos para pararem imediatamente".
Ameaçar "não é solução"
Várias individualidades do maior partido da oposição moçambicana têm frisado que o problema não é criar um novo partido, mas usar um nome semelhante, alegadamente para tentar confundir os eleitores.
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O secretário-geral do partido, André Majibire, ameaçou "tomar medidas" contra quem se atrever a manchar a imagem da RENAMO.
Mas para Lourindo Verde, esta não é a melhor abordagem. O analista político alerta para a necessidade de a RENAMO moderar o discurso e deixar de recorrer a ameaças.
"Esta nova abordagem que está a aparecer depois de a própria RENAMO assinar acordos de cessação das hostilidades e de reconciliação, para proteger os princípios democráticos, pode destruir o clima democrático, seja dentro da RENAMO ou fora", avisa.
O analista aconselha o partido de oposição a não perder o foco antes das eleições autárquicas de 2023 e das gerais de 2024.
"A RENAMO sabe como se chegou à paz", disse. "A única forma que existe é aceitar o surgimento do novo partido ou negociar a formação de uma força que possa estar em condições para desafiar o seu principal adversário, que é o partido Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO)", acrescentou.
DDR "muito avançado"
A conferência de imprensa da RENAMO na Zambézia, esta terça-feira, antecedeu uma reunião à porta fechada com os guerrilheiros do partido que ainda aguardam a desmobilização no âmbito do processo do DDR.
Pela primeira vez, o secretário-geral da RENAMO elogiou na semana passada a forma como o DDR está a decorrer, apesar da província da Zambézia estar no fim da lista.
"O DDR está muito avançado. No dia 17 deste mês fomos encerrar a base militar de Montepuez. O número de bases desativadas é maior do que o das bases que restam."
Majibire estima que o número de desmobilizados no país já ultrapasse os 4 mil, num total de 5.221 ex-guerrilheiros.
Afonso Dhlakama, homem de causas
O percurso de Afonso Dhlakama enquanto político e militar quase se confunde com a história de Moçambique independente. Em nome da democracia não hesitou em entrar numa guerra. Herói para uns, vilão para outros.
Foto: picture-alliance/dpa
Dhlakama, um começo na FRELIMO que não vingou
Afonso Macacho Marceta Dhlakama nasceu a 1 de janeiro de 1953 em Mangunde, povíncia central de Sofala, Moçambique. Entra para a FRELIMO perto da época da independência em 1975, mas não fica muito tempo. Em 1976 sai do partido que governa o país para co-fundar a RNM (Resistência Nacional de Moçambique), um movimento armado, com o apoio da Rodésia do Zimbabué. O objetivo: por fim a ditadura.
Foto: Imago/photothek
Dhlakama: Desde cedo líder da RENAMO
A guerra civil entre a RNM, depois denominada RENAMO, Resistência Nacional de Moçambique, e o Governo começou em 1976. Dhlakama assume a liderança da RNM depois da morte de André Matsangaíssa em combate em 1979. Já era líder quando o primeiro acordo que visava por fim a guerra foi assinado entre o Governo e o regime do apartheid na África do Sul em 1984. Mas o Acordo de Inkomati fracassou.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
AGP: Democracia entra no vocabulário com Dhlakama
Depois de 16 anos de guerra Dhlakama assina com o Governo o Acordo Geral de Paz de Roma em 1992 no contexto do fim da guerra fria e do apartheid na África do Sul. Começa uma nova era para o país, depois de uma guerra que fez perto de um milhão de mortos e milhões de refugiados. A democracia passa então a fazer parte do vocabulário dos moçambicanos, com Dhlakama a auto-intitular-se o seu pai.
Foto: picture-alliance/dpa
O começo das derrotas de Dhlakama nas eleições
Moçambique entra para a era do multipartidarismo e realiza as suas primeiras eleições em 1994. Dhlakama e o seu partido perdem as eleições. As segundas eleições acontecem em 1999 e Dhlakama volta a perder, mas rejeita a derrota. E desde então não parou de perder, facto que provocou descontentamento ao partido de Dhlakama. Reclamava de fraudes e injustiças. E nasceram assim as crises com o Governo.
Foto: Reuters/Grant Lee Neuenburg
Dhlakama: O regresso às matas como estratégia de pressão
O regresso do líder da RENAMO à Serra da Gorongosa em 2013, um dos seus bastiões militares, foi uma mensagem inequívoca ao Governo da FRELIMO. Dhlakama queria mudanças reais, que passavam pelo respeito integral do AGP, principalmente a integração dos militares da RENAMO no exército nacional, e mudança da legislação eleitoral. Assim o país voltou a guerra depois de mais de vinte anos.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Armando Guebuza e Dhlakama em braço de ferro permanente
A 5 de agosto de 2014 o então Presidente Armando Guebuza e Afonso Dhlakama assinaram um cessar-fogo. Estavam criadas as condições para o líder da RENAMO participar nas eleições gerais de outubro de 2014. Dhlakama e o seu partido participam nas eleições e voltam a perder. As crise volta ao rubro e Dhlakama regressa às matas da Gorongosa.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Emboscada contra Afonso Dhlakama
A 12 de setembro de 2015 a caravana em que seguia Afonso Dhlakama foi atacada na província de Manica. Ate hoje não se sabe quem foram os atacantes. A RENAMO considerou a emboscada como uma tentativa de assassinato do seu líder. A comunidade internacional condenou o uso da violência.
Foto: DW/A. Sebastião
Aperto ao cerco contra Afonso Dhlakama
No dia 9 de outubro de 2015, a polícia cercou e invadiu a casa de Afonso Dhlakama na cidade da Beira. As forças governamentais pretendiam desarmar a força a guarda do líder da RENAMO. Os homens da RENAMO que se encontravam no local foram detidos. A população da Beira, bastião da RENAMO, juntou-se diante da casa de Dhlakama manifestando o seu apoio ao líder.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Catueira
Dhlakama e Nyusi: Menos mãos melhores resultados
O líder da RENAMO e o Presidente da República decidiram prescindir de mediadores e passaram a negociar o acordo pessoalmente. Desde então consensos têm sido alcançados, um deles relativo à revisão pontual da Constituição, no âmbito do processo de descentralização em fevereiro de 2018. A aprovação da proposta pelo Parlamento é urgente, pois as próximas eleições de 2018 e 2019 dependem dele.
Foto: Presidencia da Republica de Mocambique
Dhlakama: Não foi a bala que ditou o seu fim
Na manhã de 3 de maio o maior líder da oposição em Moçambique perdeu a vida vítima de doença. Deixa aos seus correlegionários a tarefa de negociar outro ponto controverso na crise com o Governo: a desmilitarização ou integração dos homens armados da RENAMO no exército nacional. Há quase 40 anos à frente da liderança da RENAMO teve de negociar com todos os Presidentes de Moçambique independente.