Anular acusações de corrupção contra Zuma foi "irracional"
Thuso Khumalo | AFP | Reuters | tms
15 de setembro de 2017
Defesa reconheceu que a tentativa do Ministério Público de anular 783 acusações de corrupção contra o Presidente da África do Sul foi "irracional". Jacob Zuma poderá ter de se sentar no banco dos réus.
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As centenas de acusações de corrupção, extorsão e fraude fiscal contra o Presidente Jacob Zuma foram retiradas em 2009 pelo Ministério Público, por se suspeitar de interferência política no caso. Mas, no ano passado, o Supremo Tribunal da África do Sul anulou a decisão, negando a Zuma o direito de recorrer.
Esta quinta-feira (14.09), o advogado de defesa de Jacob Zuma tentou, mesmo assim, contestar a decisão do Supremo. Kemp J. Kemp defendeu que o seu cliente tinha o direito de explicar na Justiça por que as acusações não deveriam ser reinstauradas. Mas o advogado surpreendeu o tribunal ao admitir que a decisão do Ministério Público de retirar as acusações não tinha fundamento.
"Aceita que a decisão foi irracional e não se pode manter?", questionou um dois juízes.
"Sim", afirmou Kemp.
Depois destas afirmações, a sessão foi adiada. Não se sabe ainda quando o tribunal divulgará uma decisão final.
Anular acusações de corrupção contra Zuma foi "irracional"
Esperança
O facto de a defesa do Presidente ter, aparentemente, abandonado a luta contra o restabelecimento das acusações acalentou as esperanças da Aliança Democrática. Há sete anos que o partido da oposição luta pela reabertura do processo contra Jacob Zuma.
"Isso já deveria ter acontecido antes de Zuma ter sido eleito Presidente. Já nos teríamos livrado de um grande constrangimento, enquanto nação que defendia o indefensável", afirmou James Selfe, um dos dirigentes da Aliança Democrática.
Nos últimos meses, os partidos da oposição na África do Sul tentaram várias vezes retirar Jacob Zuma do poder, inclusive através de uma moção de censura. Mas o Presidente tem resistido à pressão e continua no cargo.
Em dezembro, o partido de Zuma, o Congresso Nacional Africano (ANC), deverá eleger um novo líder, que provavelmente será o candidato presidencial da força política às eleições de 2019. Mas uma reabertura do processo contra Zuma poderá minar o caminho da sua candidata preferida, a sua ex-esposa Nkosazana Dlamini-Zuma, que é apontada para a liderança do ANC. Face às acusações, Zuma poderá até ter de deixar a Presidência antes de 2019.
Famílias influentes em África
Para muitos, a política continua a ser um negócio de família: o filho recebe a Presidência de herança, a filha dirige a empresa estatal, a esposa torna-se ministra. Há vários exemplos.
Foto: picture-alliance/dpa
Filha milionária
Isabel dos Santos, a filha mais velha do Presidente angolano, é uma das dez pessoas mais ricas de África. Do império da empresária constam a maior empresa de telecomunicações do país e uma cadeia de hipermercados. Além disso, dos Santos lidera a petrolífera angolana Sonangol. O irmão José Filomeno dirige o Fundo Soberano de Angola, que gere mais de cinco mil milhões de dólares.
Foto: picture-alliance/dpa
O meu pai decide…
Teodoro Nguema Obiang Mangue é vice-Presidente da Guiné Equatorial – e o filho do chefe de Estado. O pai, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, dirige o país desde 1979. O seu enteado, Gabriel Mbaga Obiang, é ministro das Minas e Hidrocarbonetos. A petrolífera estatal GEPetrol é controlada pelo cunhado do Presidente, Nsue Okomo.
Foto: Picture-alliance/AP Photo/F. Franklin II
O meu filho, o guarda-costas
Muhoozi Kainerugaba é o filho mais velho do Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, que está desde 1986 no poder. Ele é um oficial superior no Exército ugandês e comanda a unidade especial responsável pela proteção do chefe de Estado. A mulher de Museveni, Janet, é ministra da Educação e do Desporto. O cunhado, Sam Kutesa, é ministro dos Negócios Estrangeiros.
Foto: DW/E. Lubega
Uma irmã gémea influente
Jaynet Désirée Kabila Kyungu é filha do ex-Presidente congolês, Laurent Kabila. Agora, é o seu irmão gémeo, Joseph Kabila, que governa o país. Jaynet está no Parlamento; além disso, tem uma empresa de comunicação. Os "Panama Papers" revelaram que ela foi co-presidente de uma empresa offshore que terá tido participações no maior operador móvel no Congo.
Foto: Getty Images/AFP/J. D. Kannah
De secretária a primeira-dama
Grace Mugabe é a segunda mulher do Presidente zimbabueano, Robert Mugabe. Começaram a namorar enquanto ela ainda era a sua secretária. Entretanto, Grace é presidente da "Liga das Mulheres" do partido no poder e tem bastante influência. Grace, de 51 anos, é vista como a sucessora do marido, de 92 anos, embora ela tenha afastado essa hipótese.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
A ex-mulher ambiciosa
Nkosazana Dlamini-Zuma foi a primeira mulher eleita como presidente da Comissão da União Africana. Antes, foi ministra dos Negócios Estrangeiros no Governo do Presidente sul-africano Thabo Mbeki. Foi também ministra do Interior no Executivo do ex-marido, Jacob Zuma. O casamento desfez-se antes de Dlamini-Zuma ocupar esses cargos ministeriais.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Prinsloo
A empresa familiar, o Estado
Nas mãos da família do Presidente da República do Congo, Denis Sassou Nguesso, estão numerosas empresas estratégicas e altos cargos na política. O irmão Maurice é dono de várias empresas, a filha Claudia (na foto) dirige o gabinete de comunicação do pai e pensa-se que o filho Denis Christel esteja já a ser preparado para assumir a Presidência.
Foto: Getty Images/AFP/G. Gervais
Autorizado: Presidente Bongo II
O autocrata Omar Bongo Ondimba governou o Gabão durante 41 anos até falecer, em 2009. Numas eleições polémicas, em que bastou uma maioria simples na primeira volta, o filho do ex-Presidente, Ali Bongo, derrotou 17 opositores. Ele foi reeleito em 2016. A família Bongo já governa o país há meio século.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Tal pai, tal filho
Dos cerca de 50 filhos do ex-Presidente do Togo Gnassingbé Eyadéma, Faure Gnassingbé foi o único a enveredar pela política. Entretanto, governa o país. Os pais dos atuais chefes de Estado do Quénia e do Botswana também já tinham estado na Presidência.