Após a passagem do Idai, surto de pelagra afeta Moçambique
Bernardo Jequete (Manica)
17 de janeiro de 2020
Doença está associada à deficiência nutricional que acabou sendo agravada pela passagem do ciclone Idai. Depois de Sofala, a província de Manica começa a ter aumento no número de casos.
Publicidade
As províncias moçambicanas de Manica e Sofala estão a ser assoladas por um surto de pelagra, uma doença causada por uma deficiência nutricional. A doença é associada à falta de vitamina B3, manifesta-se na pele e costuma ser acompanhada de sintomas como náuseas, fraqueza e diarreia.
Um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Governo de Moçambique alertava para o aumento dos casos de pelagra em Sofala entre julho e setembro devido à denustrição. O texto dava conta que a doença tornou-se mais frequentes depois da passagem do ciclone Idai, em abril e 2019.
Ciclone Idai devasta cidade da Beira
01:12
As autoridades de saúde já diagnosticaram 66 casos de pelagra na província de Manica e informam que o número tende a subir. Somente em Sofala, já foram diagnosticados mais de 3,5 mil casos, segundo as autoridades de saúde.
O filho de Sofia Saguate ficou doente com pelagra. A família mora em Sussundenga, um dos distritos que mais sofreram os efeitos do ciclone Idai. Quando Saguate notou manchas no pescoço e no peito do filho, foi de imediato ao centro de saúde. "Eu nunca vi uma doença deste tipo, que queima o corpo, deixando manchas na pele", disse.
A recomendação dos agentes de saúde foi consumir alimentos que possuam vitaminas, como vegetais. Segundo o chefe de Saúde Pública em Manica, Xavier Isidoro, há muito tempo não eram registados casos da doença na província.
"A pelagra é uma doença causada pelo défice de vitamina B3 e também é associada à falta de um aminoácido essencial, o triptofano. Não é muito comum verificarmos essa doença nas nossas comunidades, mas desde que identificámos o primeiro caso começamos a fazer buscas e enviámos notas informativas sobre a doença para todos os distritos", explica o profissional de saúde.
Após a passagem do Idai, surto de pelagra afeta Moçambique
This browser does not support the audio element.
Providências do Governo
Isidoro garante que os técnicos estão atentos a possíveis casos de pelagra que possam dar entrada nas unidades sanitárias que cobrem os 12 distritos da província. Além disso, os órgãos de saúde pública rastreiam casos nas comunidades. Os doentes são encaminhados para um tratamento à base de reposição vitamínica.
"Estamos a fazer atividades nas unidades sanitárias e nas comunidades de demonstrações culinárias, usando produtos locais. Também fazemos uma mistura que pode tornar-se [uma refeição rica] em nutrientes. Com isso podemos melhorar a saúde da nossa população", revela o chefe de Saúde Pública de Manica.
As autoridades aconselham a população a deslocar-se à unidade sanitária mais próxima sempre que haja uma suspeita da doença. Em entrevista à Rádio Moçambique, a diretora nacional adjunta para Saúde Pública, Maria Benigna Matsinhe, alertou que, caso não se altere o quadro nutricional da população em Manica e Sofala, estima-se que 60 mil pessoas poderão desenvolver pelagra até maio deste ano.
Relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou no quarto trimestre do ano passado a gravidade da incidência de pelagra em Sofala. A OMS apoiou a formação sobre a doença como resposta ao surto. O relatório identificou casos entre 17 de Junho a 22 de Setembro, na maioria das vezes envolvendo pessoas com mais de 15 anos de idade.
Feridas do ciclone Kenneth não cicatrizaram, seis meses depois
O ciclone Kenneth devastou o norte de Moçambique, em abril. 45 pessoas morreram e 250 mil foram afetadas pelo ciclone. Seis meses depois, muito já foi feito, mas muito continua por fazer na província de Cabo Delgado.
Foto: Reuters/OCHA/Saviano Abreu
Salas de aula por reconstruir
Mais de 500 salas de aula ficaram destruídas depois da passagem do ciclone Kenneth. Com apoio financeiro, recuperaram-se cerca de 100 salas. Em alguns casos, foram alocadas tendas às escolas destruídas para permitir o decurso das aulas. Entretanto, há várias escolas por reconstruir. Um exemplo é esta escola primária na Ilha das Quirimbas, distrito do Ibo, cuja cobertura foi arrasada.
Foto: DW
"Comida pelo trabalho"
O Programa Alimentar Mundial (PAM) em Cabo Delgado, chefiado por Enrique Alvarez, continua a prestar assistência alimentar às famílias afetadas pelo ciclone. Em agosto, iniciou uma nova etapa de reconstrução, denominada "Comida pelo trabalho", onde cerca 70 mil pessoas beneficiarão de apoio alimentar ou material de construção, mediante a prestação de trabalhos na comunidade.
Foto: DW
Setor da pesca atingido
O ciclone Kenneth destruiu ou danificou muitos barcos de pesca artesanal, e a atividade piscatória ficou paralisada. O motor deste barco ficou avariado com o ciclone e o proprietário e os seus sete trabalhadores viram-se obrigados a paralisar a atividade durante cinco meses.
Foto: DW/D. Anacleto
Lonas para cobrir as casas
Várias habitações devastadas pelo mau tempo em Cabo Delgado continuam por reabilitar. O Governo ofereceu tendas às famílias que tiveram as casas totalmente destruídas. Para muitas casas onde só o tecto ficou destruído, foram oferecidas lonas.
Foto: DW/D. Anacleto
A longa espera pelo reassentamento
Na cidade de Pemba, depois da passagem do ciclone, em abril, cerca de 300 famílias que tiveram as suas habitações destruídas foram levadas para o centro de trânsito do bairro de Chuiba. Aguardam aqui a distribuição de terrenos para recomeçar uma nova vida. "Ainda não há sinal de luz verde", lamentam estes cidadãos.
Foto: DW
Sistema de drenagem obstruído
Em abril, as chuvas intensas que se fizeram sentir em Pemba durante a passagem do Kenneth alagaram os bairros de Natite, Josina Machel, Eduardo Mondlane e Paquitequite. Uma das causas para o fenómeno terá sido o deficiente sistema de drenagem, que estava obstruído. O edil de Pemba, Florete Simba Motarua, promete melhorá-lo.
Foto: DW
Família pede ajuda
Uma das casas da família de Fernando Fernandes foi destruída pelo ciclone. Com um agregado numeroso, os membros têm de partilhar o pequeno espaço na residência principal. Fernandes renova o pedido de apoio a pessoas de boa-fé: "Se eles realmente sentem pelo desastre que o povo sofreu, que venham dar um apoio, não digo financeiro, mas material, como ferros ou cimento…"
Foto: DW
Lixeira municipal foi transferida
A lixeira municipal de Pemba, que há 60 anos ficava na unidade residencial de Chibuabuare, no centro da cidade, está agora a 22 quilómetros da zona urbana. A lixeira terá soterrado seis pessoas durante a passagem do ciclone Kenneth, em abril passado.
Foto: DW/D. Anacleto
União Europeia apoia reconstrução
A União Europeia ofereceu 3,5 milhões de euros para apoiar a reconstrução da autarquia de Pemba, através de um programa denominado "Mais Pemba". O programa de apoio inclui a melhoria das vias de acesso destruídas, requalificação dos espaços públicos e a limpeza da cidade. A maior parte das estradas danificadas pelo Kenneth em Pemba já foi reconstruída.