Após a presidência de Moçambique, prevê-se que Guebuza continue na política
6 de julho de 2012 Esta é uma pergunta que ganha cada vez mais forma, numa altura de contagem decrescente para a realização do décimo Congresso do partido, que decorrerá em setembro, na província de Cabo Delgado, no qual poderá ser anunciado o candidato da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) às eleições presidenciais de 2014.
A propósito do futuro político de Moçambique e do seu atual Presidente, a DW África entrevistou o analista político Silvério Runguane, que traçou diversos cenários políticos possíveis.
DW África: Armando Guebuza irá abandonar a política ativa no final do seu mandato em 2013 ou irá continuar na liderança do partido?
Silvério Runguane (SR): Só o Presidente sabe o que vai fazer na prática. Pelo menos, o que dá a entender é que parece que, da parte dele, há uma vontade de abandonar o poder enquanto Chefe de Estado. Mas digo parece porque em processos políticos nem sempre o que parece é o que vai ser. Mas acredito que, de uma ou outra maneira, ele vai deixar de ser Chefe de Estado em 2014. Agora, se isso significa que ele deixe a cena política, creio que não. Portanto, as indicações que existem é que Guebuza vai continuar na cena política.
Uma das primeiras hipóteses é, realmente, a mudança da Constituição e a mudança de regime. Ora, no caso de haver uma mudança de regime, em que os poderes executivos passem para o governo (portanto, com um Presidente mais ou menos protocolar), penso que poderemos vir a ter uma situação como aquela que existiu na Rússia.
Outra hipótese é que Guebuza deixe de ser Chefe de Estado mas continue a ser o chefe do partido, FRELIMO. Mas isso implicaria uma engenharia política em que os partidos da oposição fossem reduzidos ao mínimo. E, assim, teríamos uma espécie de partido único em que, de fato, o presidente do partido teria poderes superiores aos de Chefe de Estado.
Mas há também uma terceira hipótese, que não é muito falada mas que acho que poderá vir acontecer, que é a de o Presidente encontrar dentro da sua família, do seu círculo político e de amizades, alguém da sua inteira confiança que lhe seja fiel.
DW África: A propósito de candidatos da confiança do Presidente, nos últimos tempos, tem-se falado em alguns nomes como possíveis candidatos para as eleições presidenciais de 2014. Por exemplo, o nome do atual ministro da Defesa, Filipe Jacinto Nhussi, tem vindo a público. Acredita que no Congresso que se vai realizar em setembro será eleito o candidato às próximas eleições presidenciais?
SR: O tempo urge. Se não for no Congresso será um pouco depois dele porque não há dúvida de que esta decisão, que vem sendo adiada, tem de ser tomada. Eu acredito que, normalmente, os candidatos são anunciados numa tentativa de desinformação. Os verdadeiros candidatos serão sempre uma grande surpresa.
DW África: Também algumas figuras da FRELIMO defenderam, nos últimos tempos, a recondução de Guebuza na liderança do partido?
SR: Exatamente. Nesse caso, penso que as pessoas estão a falar com sinceridade. Mas o espectro político internacional, sobretudo, desaconselha muito a manutenção do atual Presidente. Portanto, [essa hipótese vai] contra a tendência internacional e acredito que o preço político a pagar seria bastante alto. Adotar esta linha penso que seria [o mesmo que] entregar de bandeja os louros políticos e o próprio poder à oposição.
DW África: Na sua opinião como é que se perspetiva Moçambique sem Armando Guebuza, numa altura em que se multiplicam os investimentos no país?
SR: Moçambique tem 20 milhões de habitantes e Armando Guebuza é um moçambicano. Se Moçambique produziu um indivíduo como ele significa que também pode produzir muitos outros “Armandos Guebuzas” anónimos. Eu não vejo que seja um problema a existência de um novo Presidente.
Autora: Madalena Sampaio
Edição: Glória Sousa / António Rocha