Fontes diplomáticas dizem que Evaristo Carvalho está bem após passar por cirurgia em Portugal. "Ausência" do Presidente gerou rumores de crise política, mas fonte clínica diz que sua saúde exigia "cuidados inadiáveis".
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Evaristo do Espírito Santo Carvalho deve ficar internado por cerca de 25 dias depois da intervenção cirúrgica a que foi submetido esta segunda-feira (26.10) no Hospital Militar de Lisboa, devido "à patologia crónica múltipla".
Contactada pela DW África, fonte hospitalar não prestou mais detalhes de interesse público sobre o estado de saúde do Presidente são-tomense.
Carvalho viajou para Portugal no dia 3 deste mês para tratamento médico. O estado de saúde, segundo informação clínica, exigia "cuidados inadiáveis", mas a deslocação fomentou várias especulações de cunho político
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45 anos da independência de São Tomé e Príncipe
03:20
Observadores em São Tomé e Portugal criticam, em particular, o facto de a saída do chefe de Estado são-tomense ter sido alegadamente comunicada ao país apenas quinze dias depois da sua chegada a Lisboa, violando os procedimentos administrativos.
No entanto, de acordo com documentos da Presidência são-tomense a que a DW teve acesso, não é verdade que o gabinete só tenha informado oficialmente a Assembleia Nacional da sua deslocação a Portugal duas semanas depois.
Danilo Salvaterra, analista são-tomense radicado em Portugal, considera que há, neste contexto, falta de informação "porque o Presidente antes de sair fez uma comunicação à Assembleia Nacional a dizer que ia sair em viagem de tratamento médico por cinco dias. Foi o que aconteceu."
"Antes dos cinco dias, após verificar que a situação o obrigava a continuar fora [do país], fez uma comunicação de novo à Assembleia Nacional. Anexou a essa comunicação o seu atestado médico para justificar esta sua impossibilidade de estar no país", esclarece.
Roça Monte Café: Património histórico são-tomense
02:06
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Presidente não perdeu o cargo
De acordo com informações imprecisas postas a circular através das redes sociais, Evaristo Carvalho teria deixado o país sem o consentimento da Assembleia Nacional. Para o analista, não é relevante e objetiva a especulação de que o Presidente da República teria perdido o cargo, segundo alegou o jurista são-tomense Hamilton Vaz, por suposta falha de comunicação do seu gabinete.
"Eu não penso que tenha havido falha de comunicação do gabinete do Presidente. O que penso, sim, é que provavelmente o jurista quando fez a análise o terá feito sem ter estas informações", interpreta.
O referido jurista fez a "análise correta da situação face à Constituição", adianta Danilo Salvaterra, para quem, entretanto, "não faz sentido nenhum o comentário" por ele suscitado. Na sua opinião, "o que deve imperar é o bom senso" na interpretação da lei magna da República.
Segundo a Constituição são-tomense, é o presidente do Parlamento quem assume o cargo interinamente por "impedimento temporário" do chefe de Estado. Ainda de acordo com a Constituição, no seu artigo 85.º, "o Presidente da República não pode ausentar-se do território nacional sem assentimento da Assembleia Nacional ou da sua Comissão Permanente se aquela não estiver em funcionamento."
Lacunas da Constituição
O texto refere ainda que "o assentimento é dispensado nos casos de viagem sem carácter oficial, de duração não superior a cinco dias, devendo, porém, o Presidente dar prévio conhecimento dela à Assembleia Nacional."
"Não está em causa o poder presidencial". Danilo Salvaterra concorda, por outro lado, que esta polémica traz a baile algumas das lacunas da Constituição são-tomense, as quais estão na base das várias crises políticas e institucionais vividas no país ao longo de vários anos.
"Esta é a parte boa desta reflexão que o jurista trouxe para nós repensarmos, de facto, a nossa Constituição. Ela tem de ser modernizada, até porque já temos experiências dos vários conflitos. Para não estarmos aqui sempre de conflito em conflito", analisa.
A DW África tentou ouvir a perspetiva de um jurista em São Tomé, mas sem sucesso até ao momento.
Património histórico - Roças de São Tomé e Príncipe
As roças de São Tomé e Príncipe foram a base económica das ilhas até à independência em 1975, altura em que se deu a sua nacionalização. Esta galeria apresenta o património histórico das roças do arquipélago.
Foto: DW/R. Graça
Nas montanhas: a Roça Agostinho Neto
A roça organiza-se através da artéria principal que é fortemente marcada pelo imponente hospital, implantado na extremidade mais elevada, bem como pelos terreiros e socalcos que acompanham o declive. Na era colonial era esta roça que possuia o sistema ferroviário do arquipélago, a partir do qual se estabelecia a ligação e o abastecimento entre as suas dependências e o porto na Roça Fernão Dias.
Foto: DW/R. Graça
Uma roça memorial e emblemática
A Roça Agostinho Neto recebeu este nome após a independência nacional em 1975, em memória do primeiro Presidente de Angola. É uma das mais emblemáticas e impressionantes estruturas agrícolas do país. Situa-se no distrito de Lobata, norte da ilha de São Tomé, a 10 quilómetros da capital. Foi fundada em 1865 pelo Dr. Gabriel de Bustamane e foi explorada a partir de 1877, pelo Marquês de Vale Flor.
Foto: DW/R. Graça
Aqui começou a cultura do cacau
Fundada nos finais do século XVIII, a Roça Água-Izé foi a primeira da Ilha de São Tomé que implementou a cultura de cacau. José Ferreira Gomes trouxe a planta do Brasil para a Ilha do Princípe, inicialmente como uma planta ornamental, mas a cultura do cacau prosperou no arquipélago e tornou as ilhas o maior produtor de cacau a nível mundial. Esta roça é composta por nove dependências.
Foto: DW/R. Graça
O hospital da Roça Água-Izé
Implantada numa zona litoral, a Roça Água-Izé é o exemplo mais representativo da necessidade de expansão. Essa urgência levou à construção de um segundo hospital, de novos blocos de senzalas e edíficios de apoio à produção, como armazéns, fábricas de sabão e cocheiras.
Foto: DW/R. Graça
A Roça Uba Budo
Localizada na parte leste da ilha de São Tomé, no distrito de Cantagalo, esta roça foi fundada em 1875. Pertenceu à Companhia Agrícola Ultramarina, administrada na altura pelo general português Humberto Gomes Amorim. A principal cultura na Roça Uba Budo era o cacau.
Foto: DW/R. Graça
Cenário de televisão
Nos anos 90, a Roça Uba Budo foi o cenário escolhido pela RTP Internacional, o canal internacional da televisão pública de Portugal, para rodar uma série televisiva. Retratava a história de amor entre uma escrava e o seu patrão.
Foto: DW/R. Graça
Uma das mais antigas: a Roça Monte Café
A Roça Monte Café localiza-se numa zona bastante acidentada, na região de Mé-Zóchi, no centro da Ilha de São Tomé. É uma das mais antigas roças do país, tendo sido fundada em 1858, por Manuel da Costa Pedreira. A 670 metros de altitude, em terrenos bastante propícios para a cultura de café arábica, assumiu o lugar de destaque como a maior produtora de café, entre as restantes roças são-tomenses.
Foto: DW/R. Graça
Uma pequena cidade: Roça Roca Amparo
O desenvolvimento e a modernização das estruturas das roças, originaram um contínuo crescimento de espaços e equipamentos, e a Roça Roca Amparo é um exemplo disso. Esta evolução permitiu que se criasse uma malha de ruas, jardins e praças, cada qual com a sua função e importância. O processo de crescimento correspondia ao de uma pequena cidade.
Foto: DW/R. Graça
Uma noite na roça
A Roça Bombaim localiza-se em Mé-Zóchi, um dos distritos mais populosos de São Tomé. Bombaim é uma das unidade hoteleiras de referência do arquipélago que promove o turismo rural. Encravada no meio de uma floresta densa, a sua estrutura arquitetónica faz dela um espaço único para quem procura paz. Para se aceder à roça passa-se pela Cascata S. Nicolau, um dos encantos são-tomenses.
Foto: DW/R. Graça
A Roça Vista Alegre
A casa principal da Roça Vista Alegre constitui um dos exemplos arquitetónicos de maior interesse. Desenvolve-se sobre uma planta retangular em dois pisos, parcialmente elevada e um terceiro, formando apreendas apoiadas em pilares contínuos de madeira. Conserva-se ainda em estado razoável, devido às intervenções na casa principal, sendo que os restantes edifícios requerem obras de restauro.
Foto: DW/R. Graça
As senzalas - antigas casas dos escravos
Representa a casa do africano, oriunda do quimbundo angolano e referenciada nas pequenas povoações autóctones, formadas por cubatas (pequenas casas de madeira com cobertura de colmo). Com a exportação de mão de obra africana para o Brasil ao longo do século XVI, a dominação "senzala" foi aplicada ao conjunto habitacional onde residiam os trabalhadores escravos nas estruturas agrárias.
Foto: DW/R. Graça
Na Roça Boa Entrada, a maioria é pobre
Hoje, a Roça Boa Entrada é habitada por pessoas de diversas proveniências. Umas vieram de outras roças do país e outras vieram de outros países de África, principalmente de Cabo Verde. A maioria da população de Boa Entrada é pobre. A roça tem uma forte densidade populacional e uma grande concentração de pessoas num espaço relativamente reduzido e organizado em torno da antiga casa senhorial.
Foto: DW/R. Graça
O abandono das roças
A Roça Porto Real, localizada na Ilha do Princípe, faz parte das 15 grandes unidades agro-industriais criadas depois da independência e sucessivamente abandonadas. Antigamente, a roça tinha uma produção agrícola variada. Há quem diga que produzia o melhor óleo da palma de toda a ilha.