Burkina Faso: Mais de 50 mortos em ataques jihadistas
com agências | tm
26 de dezembro de 2019
Combates entre radicais islâmicos e militares no norte de Bukina Faso deixam mais de 50 mortos em dois dias. Governo decreta luto oficial após execução de 35 civis na terça-feira.
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A ofensiva de radicais islâmicos no norte do Burkina Faso fez pelo menos 52 mortos nos últimos dois dias.
Nesta quarta-feira (25.12), pelo menos dez militares foram mortos numa emboscada em Hallalé, no norte do país. Na terça-feira (24.12), outro ataque também perpetrado por radicais islâmicos causou a morte de 42 pessoas, entre civis e militares. O alvo foi o posto militar na província de Soum, também no norte do país.
Segundo comunicado do exército, depois de horas de confronto, "80 terroristas" foram mortos, e as forças de segurança apreenderam armas e veículos. Durante a fuga, jihadistas mataram 35 civis, a maioria mulheres.
Este é o pior ataque jihadista em cinco anos no Burkina Faso. O Presidente Roch Marc Kabore declarou dois dias de luto nacional durante o Natal. O ministro da Defesa, Chérif Sy, prometeu segurança aos civis.
"Os militares estão a enviar uma mensagem forte. Estão a dizer aos civis que estaremos juntos, e juntos venceremos esta batalha. Se nos garantirem que os civis estão conosco, seremos vitoriosos", disse Sy.
O ataque jihadista no norte do Burkina Faso desencadeou várias mensagens de solidariedade, entre as quais das Nações Unidas e do Papa Francisco, que pediu "consolo às vítimas".
O levante jihadista em Burkina Faso
Há alguns anos, o Burkina Faso é palco de ataques extremistas nas áreas fronteiriças com o Mali e Níger. A insurgência islâmica revigora tensões étnicas e torna grande parte do território do Burkina Faso ingovernável.
Burkina Faso: Mais de 50 mortos em ataques jihadistas
Segundo a ONU, mais de 700 pessoas morreram e 560 mil tiveram de se refugiar em outras áreas do país. A violência espalhou-se pela vasta região do Sahel, especialmente no Burkina Faso e no Níger, quando grupos islâmicos armados revoltaram-se no norte do Mali, em 2012.
Existem 4,5 mil tropas francesas destacadas na região, bem como uma força de manutenção da paz da ONU com 13 mil soldados no Mali para combater o levante jihadista.
No início de dezembro, líderes das nações do "G5 Sahel" realizaram um encontro no Níger para discutir cooperação e apoio internacional contra a insurgência radical. O grupo G5 é formado pelo Chade, Burkina Faso, Mali, Mauritânia e Níger. Esses países contam com o apoio das forças francesas e da ONU no Mali.
O que é o Estado Islâmico?
As origens do grupo terrorista remontam à invasão americana do Iraque, em 2003. Nasceu como oposição sunita ao domínio xiita. Inicialmente chamou-se "Estado Islâmico do Iraque e do Levante" e virou ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com o derrube do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo surgiu da união de diversas organizações extremistas sunitas e grupos leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra o domínio dos xiitas no Governo do Iraque.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al-Qaeda
A insurreição tornou-se cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi (foto), fundador da Al-Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram as suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
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Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea. Foi então sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Abdullah ar-Raschid al-Baghdadi (ambos mortos em 2010). A Al-Qaeda no Iraque (AQI) mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). Nos anos seguintes, Washington intensificou a sua presença militar no país.
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Regresso dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a reagrupar-se, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
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Ruptura com Al-Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o Estado Islâmico atravessou a fronteira para participar da luta contra o Presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram uma fusão com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al-Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EI e a central da Al-Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do desentendimento com a Al-Qaeda, o EI fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando a sua segunda maior cidade, Mossul, a 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já tinha sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana de Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista estratégico quanto económico. Ela é um importante ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Com a tomada de Mossul, o EI também conquistou 429 milhões de dólares na filial local do Banco Central do Iraque. Assim sendo, o Daesh - como é conhecido em árabe - tornou-se um dos grupos terroristas mais ricos.
Foto: Getty Images
O califado do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho de 2014, a organização declarou um califado, um estado islâmico que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e faz lembrar os califados muçulmanos históricos. Abu Bakr al-Bagdadi foi apresentado como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da sharia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado". Muitos foram executados, mulheres violadas e vendidas como escravas a jihadistas do EI. Os xiitas também têm sido alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o património histórico
O EI já destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. O EI diz que as esculturas antigas entram em contradição com a sua interpretação radical dos princípios do Islão. Especialistas afirmam, porém, que o grupo vende ilegalmente estátuas pequenas no mercado internacional, enquanto as maiores são destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Nas suas ofensivas armadas, o grupo tem saqueado centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupado diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Os seus militantes também se apoderaram de armamento militar de fabrico americano das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional. Seguidores da ideologia do EI perpetraram vários atentados terroristas na Europa.