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UNTG promete paralisar a Guiné-Bissau em 2022

8 de dezembro de 2021

A UNTG avisa que 2022 poderá ser mais um ano de greves na Guiné-Bissau, se o Parlamento não fizer nada para defender o povo. O líder sindical disse que hoje em dia o salário de um funcionário não chega para uma semana.

Julio Mendonca UNTG Generalsekretr in Guinea Bissau
Foto: Iancuba Dansó/DW

Em dezembro de 2020, começava aquela que seria uma das mais longas greves na história recente da Guiné-Bissau. A principal central sindical do país cumpre um ano de paralisação da Função Pública, acusando o Governo de criar subsídios milionários e taxas que empobreceram ainda mais os trabalhadores do Estado.

A União Nacional dos Trabalhadores da Guiné-Bissau (UNTG) acusa o Governo de Nuno Gomes Nabiam de insensibilidade perante a situação da classe trabalhadora e de abandonar a mesa das negociações sem nunca cumprir os poucos acordos alcançados. O Governo acusa a central sindical de estar a fazer política para beneficiar a oposição, disse o porta-voz do Executivo, Fernando Vaz, em entrevista à agência Lusa. 

Os trabalhadores exigem do Governo, entre outras reivindicações, a exoneração de funcionários contratados sem concurso público, melhoria de condições laborais e o aumento do salário mínimo. 

A UNTG convocou no final de novembro umanova paralisação para dezembro, que vai decorrer entre terça-feira e sábado de todas as semanas do mês. A paralisação tem afetado principalmente os setores da saúde e da educação.

Nesta quarta-feira (08.12), os trabalhadores tentaram realizar uma vigíliadiante do Parlamento, para pedir aos deputados que não aprovem o novo Orçamento Geral do Estado (OGE) tal como está, mas foram impedidos pelas forças de segurança.

A central sindical tem convocado, desde dezembro de 2020, ondas de greves gerais na Função PúblicaFoto: Iancuba Dansó/DW

Em entrevista à DW, o secretário-geral da UNTG, Júlio Mendonça, avisa que 2022 poderá ser mais um não de greves na Guiné-Bissau.

DW África: Após um ano de greves, o que tem falhado nas negociações com o Governo?

Júlio Mendonça (JM): Infelizmente, um ano depois, as nossas reivindicações não foram atendidas, apesar de serem reivindicações legais que respeitam a Constituição e as demais leis emanadas pelo próprio Estado da Guiné-Bissau. Um ano depois, percebemos que há uma insensibilidade total daquilo que são os princípios básicos para a governação de um país, que almeja ser democrático e de direito. Aquilo a que assistimos não passa de delapidação dos recursos do país por parte da classe governativa. Estamos a exigir que os que pagam impostos e criam riquezas no país sejam dignificados como tal. Mas infelizmente não aconteceu, porque os governantes priorizaram os seus interesses e os seus subsídios milionáriosem detrimento do sofrimento do povo. Infelizmente, é essa a realidade da nossa terra. 

DW África: Mas um ano depois do início da greve geral algo mudou?

JM: Na verdade, julgo que alguma coisa mudou e vai mudar mesmo. Porque as nossas reivindicações foram no sentido de consciencializar a população e a própria classe governativa. Por exemplo, agora já perceberam que se deve fazer concurso público para admitir alguém na Função Pública e não colocar diretamente o militante ou simpatizante do partido, achamos que é a medida imperativa que dever ser observada para quem governa o país. Uma coisa é certa, num país que foi mal governando ao longo de mais de 45 anos, não é fácil iniciar uma luta e conseguir mudar radicalmente a mentalidade dos governantes num ano ou dois. É preciso persistência, determinação por parte da população, dos trabalhadores e dos guineenses em geral. Temos a consciência clara de que não é uma batalha fácil, mas estamos convictos de que um dia sairemos vencedores.  

DW África: Porque é que tentaram realizar esta quarta-feira uma vigília diante do Parlamento e não na sede do Governo?

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JM: Porque queremos que os deputados analisem cuidadosamente o novo Orçamento Geral do Estado e que não permitam, desta vez, aumentos dos impostos e taxas, inclusive que sejam suprimidos os subsídios milionários atribuídos aos titulares dos órgãos de soberania. Porque, para nós, não passa de um insulto ao próprio povo, que não tem saúde, educação, não tem estradas em condições, não há infraestruturas e não tem nada.

DW África: Isto é um aviso ao Parlamento para as consequências que possam advir da aprovação do novo OGE?

JM: Sim, se aprovarem este Orçamento como está, infelizmente 2022 será mais um ano de greve. A nossa luta vai continuar, infelizmente. Se não assumirem a responsabilidade, enquanto representantes do povo, e não lutarem para suprimir o sofrimento que o povo enfrenta resultado da crise de governação do país e exploração completa da classe política, nós, enquanto legítimos representantes dos trabalhadores, continuaremos a exigir o nosso direito e defender os interesses nacionais. 

DW África: No seu comício, disse que este ano os trabalhadores estão mais pobres e os governantes mais ricos. Porquê?

JM: Isso, sem dúvidas! Não há margem para dúvida alguma. Hoje em dia, os trabalhadores não conseguem sobreviver com o salário durante uma semana. Foram mais empobrecidos porque os governantes aumentaram os seus rendimentos, razão pela qual todos os ministros compraram apartamentos em Portugal e têm condições de fazer tratamento médico na Europa com os familiares, enquanto o povo está a morrer por falta de oxigénio nos hospitais do país. Não há materiais de trabalho nos hospitais, não há nada. Vamos lutar até conquistarmos os nossos direitos e mudarmos o rumo do país.

DW África: Qual é o ponto de divergência que impediu um acordo com o Governo durante um ano?

JM: Isto tem que ver com o cumprimento integral do princípio da legalidade. Todas as leis devem ser implementadas, em primeiro lugar. Em segundo, que as riquezas sejam divididas de uma forma equitativa, através da dignificação de quem presta serviços ao Estado e paga impostos. Definição de um novo salário mínimo e abolição dos subsídios milionários atribuídos aos titulares dos órgãos de soberania. Não querem fazer isso, apesar das promessas, mas na prática não concretizam nada.

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