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PolíticaSão Tomé e Príncipe

"Apelamos para o combate ao terrorismo em Cabo Delgado"

Lusa | tms
25 de setembro de 2020

É o apelo do PR são-tomense, Evaristo Carvalho, no debate geral da Assembleia Geral da ONU. Esta quinta-feira, o PR guineense, Umaro Sissoco, também discursou e disse que "fará o melhor" para virar página de conflitos.

Foto: AFP/M. Longari

"Manifestamos a nossa apreensão e inquietação em relação à recrudescência da violência na província moçambicana do Cabo Delgado e apelamos para um maior envolvimento da comunidade internacional no combate às ações macabras de terrorismo nessa parcela do território moçambicano", afirmou esta quinta-feira (24.09) o Presidente de São Tomé e Príncipe, Evaristo Carvalho, no discurso gravado que enviou para o debate geral da 75.ª Assembleia Geral da ONU, a primeira a decorrer em modo virtual.

A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, é palco há três anos de ataques armados desencadeados por forças classificadas como terroristas. A violência provocou uma crise humanitária com mais de mil mortos e cerca de 365 mil deslocados internos.

O chefe de Estado são-tomense lamentou também os focos de tensão "com repercussões humanitárias de grandes dimensões um pouco por todo o planeta", referindo-se, nesse contexto, à "persistência" do conflito político-militar na República Centro-Africana, Republica Democrática do Congo, Sudão do Sul e na Líbia. Também condenou as ações de grupos terroristas no Sahel, do grupo extremista al-Shabab na África Ocidental e do Boko Haram na África Central e Ocidental.

Evaristo Carvalho, Presidente de São Tomé e PríncipeFoto: DW/J. Carlos

Multilateralismo

O Presidente são-tomense defendeu o multilateralismo como "via" para "vencer os randes desafios com que o mundo se confronta", tomando como exemplo a crise sanitária provocada pela pandemia de Covid-19. "É nossa convicção que o multilateralismo é a via mais adequada para que, numa conjugação de esforços, possamos todos juntos debelar os efeitos da situação económica e financeira imposta pala pandemia de Covid-19", disse o chefe de Estado são-tomense.

Evaristo Carvalho referiu que o multilateralismo "provou que, graças a conjugação de esforços e solidariedade a nível internacional, tem sido possível debelar os efeitos nefastos dela decorrente à escala internacional".

O chefe de Estado apelou à ONU para "não perder de vista" a luta contra a pobreza, que classificou como o "maior flagelo da humanidade". A pobreza é a "principal causa da fome, da degradação dos solos, da exploração desenfreada dos recursos naturais, dos conflitos armados, das deslocações das populações e dos fluxos migratórios que continuam a ceifar vidas", reforçou Carvalho.

Para o governante, o apoio da comunidade internacional ao combate à pandemia de Covid-19 "afastou a hipótese de uma eventual hecatombe". Evaristo Carvalho recordou os "efeitos devastadores" da pandemia nas economias dos países frágeis e particularmente de São Tomé e Príncipe como pequeno Estado insular, tendo apelado os parceiros para continuarem a "observar o espírito de solidariedade e apoio ao processo de recuperação económica pós-covid-19, que se anuncia deveras difícil".

Apelo à ajuda internacional 

Por seu turno, o Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, durante a sua intervenção através de um vídeo trasmitido no debate geral da Assembleia Geral da ONU, esta quinta-feira (24.09), pediu a continuação da assistência internacional para as reformas e desenvolvimento no país.

Foto: Eskinder Debebe/United Nations /AP/picture-alliance

"Com a aproximação do fim do mandato da Missão das Nações Unidas no país (UNIOGBIS) (...) a assistência contínua e inequívoca da comunidade internacional, através da articulação e coordenação com as autoridades do país, é essencial para podermos concluir as reformas necessárias e seguir o nosso caminho de desenvolvimento", declarou Umaro Sissoco Embaló.

A missão das Nações Unidas na Guiné-Bissau, UNIOGBIS, que termina o mandato no final deste ano, está em processo de transferência de capacidades para o escritório da ONU no país e retirada completa até fevereiro.

"Virar a página da crise"

O Presidente que tomou posse em 27 de fevereiro unilateralmente, numa altura sem consenso sobre os resultados das eleições, prometeu "virar a página da crise" na Guiné-Bissau, dando mais oportunidades às mulheres, aos jovens e às gerações futuras para "um futuro brilhante".

"Gostaria de aproveitar esta nobre tribuna para reafirmar ao meu povo que sob a minha presidência, farei o meu melhor para virar esta triste página de crises e conflitos da nossa história e trabalhar de mãos dadas com todos os guineenses para a construção de uma nova Guiné-Bissau", disse o Presidente, destacando o dia da independência nacional, celebrado no mesmo dia da sua intervenção no debate das Nações Unidas.

"Nestes 47 anos da nossa história, o nosso país tem vivido momentos difíceis em busca do caminho da estabilidade e desenvolvimento sustentável para o bem-estar dos seus filhos", disse Umaro Sissoco Embaló, expressando profunda gratidão ao secretário-geral da ONU, António Guterres, e aos parceiros internacionais.

Presidente Umaro Sissoco Embaló durante as comemorações da independência em BissauFoto: Iancuba Dansó/DW

Desafios

O Presidente da Guiné-Bissau assumiu que o ano de 2020 trouxe muitos desafios principalmente para os países mais frágeis, "como a Guiné-Bissau, um país com extrema vulnerabilidade por ser um país africano emergente de conflitos, um dos países menos desenvolvidos e um pequeno estado insular em desenvolvimento, com enormes riscos resultantes das mudanças climáticas".

O antigo primeiro-ministro (2016 a 2018) sublinhou também a importância da cooperação multilateral com a comunidade científica, na melhoria dos sistemas de saúde e também no desenvolvimento e distribuição equitativa de tratamentos e vacinas.

Por outro lado, Sissoco Embaló congratulou-se com a participação "notória" das mulheres em todas as áreas sociais: "as mulheres estiveram sempre lado a lado com os homens nas decisões políticas", defendeu.

"As mulheres guineenses são os motores da mudança positiva. Elas são as melhores mediadoras de conflitos, promotoras de diálogo e pacificadoras", disse Umaro Sissoco Embaló, defendendo um "papel prioritário" para as mulheres no multilateralismo.

Teodoro Obiang, Presidente da Guiné EquatorialFoto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq

"Injustiça histórica"

Entretanto, "deve-se reparar a injustiça histórica para com África”. Esse foi o apelo do Presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema, no seu discurso no debate geral da Assembleia Geral da ONU. Obiang, que lidera o seu país desde 1979, também pediu uma voz do continente no Conselho de Segurança da organização.

"É irónico que, embora os assuntos africanos constituam 75% da agenda do Conselho de Segurança, África não tenha plena voz e esteja em inferioridade de condições nesse órgão quando é para abordar assuntos de importância vital para o continente", disse Obiang.

O chefe de Estado equato-guineense apelou também à comunidade internacional para "combinar os seus esforços para ajudar África a implementar" a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e a Agenda 2063 da União Africana, em particular na "construção de infraestruturas nas áreas da saúde, educação, economia e comércio", e na abordagem aos problemas no continente africano.

O Presidente da Guiné Equatorial instou o Conselho de Segurança das Nações Unidas a "aumentar a comunicação e a coordenação" com o Conselho de Paz e Segurança da União Africana, para "criar mecanismos para o planeamento conjunto".

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