Zungueiras voltam às ruas de Luanda
16 de setembro de 2015 Nos passeios e estradas de Luanda é visível o regresso das mulheres e crianças que comercializam frutas, roupas, calçado ou água em bidão, por exemplo.
Apesar de proibição de venderem nas ruas da capital angolana, as zungueiras dizem que não têm alternativa devido à falta de espaço e ao comportamento menos digno dos agentes de fiscalização dos mercados construídos pelo governo da província de Luanda, onde estão autorizadas a vender.
“Uma pessoa não consegue vender. Com o dinheiro do trabalho só se consegue entregar na ficha [um tipo de taxa de pagamento obrigatório para se poder vender nos mercados] e não chega para mais. Tem de se andar na estrada para se poder comprar pão”, lamenta uma vendedora.
“Se não há lugar [nos mercados] vamos fazer como? Ficar em casa? Os filhos precisam de comer, umas vendedoras têm marido outras não têm e tem de se dar de comer às crianças”, explica outra zungueira.
O presidente da associação cívica Mãos Livres, Salvador Freire, diz que tem acompanhado o assunto com preocupação. Segundo Freire, a venda ambulante “é um problema que deveria ser resolvido de forma mais célere, tendo em conta que arrasta não só adultos como também crianças que se encontram nas ruas sem a possibilidade de estudar, e sobretudo as pessoas que não têm recursos financeiros para poderem sobreviver. Então passam a vida a zungar, a vender os pequenos produtos para sobreviver e sustentar os seus lares”.
Zungueiras são constantemente vítimas da polícia
A Polícia Nacional tem estado a levar a cabo um conjunto de ações para acabar com a “zunga” em Luanda, às vezes, reprimindo e confiscando os bens das senhoras.
A violência e os abusos contra as vendedoras são frequentes. As zungueiras dizem que já estão acostumadas e afirmam ainda que a situação piorou no dia em que o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, completou 73 anos (28 de agosto).
“Nessa semana em que “Zedú” fez anos aqui estava mal, com muita polícia”, comenta uma vendedora. “Quando “Zedú” fez anos ninguém vendeu, meteram aqui batalhão da polícia”, corrobora outra mulher.
“Levaram muitas [vendedoras detidas]. Mesmo se você gritar muito quanto te dão [agridem], levam-te com eles [detidas].” – comenta a zungueira. “Sempre que a polícia está na rua nos dá em corrida”, conclui uma outra.
O advogado Salvador Freire condena a brutalidade policial contra as zungueiras. “O papel da polícia tem sido muito triste porque é conotado com repressão, como uma polícia que não cuida bem da população – e não devia ser esse o problema.”
Resolver o problema “não devia ser somente o papel da polícia, mas o papel da sociedade e outras instituições no sentido de congregarem esforços para se banir o fenómeno da zunga, de vermos crianças nas ruas, jovens a lavarem viaturas nas ruas, porque é um fenómeno social comum”, continua o Salvador Freire.
Nesse sentido, o jurista defende uma visão conjuntural, em que o fenómeno das zungueiras “devia ser visto por outros ministérios como o da Reinserção Social, do Trabalho, Educação, entre outros. A polícia aparece para reprimir essas pessoas, o que não é devia ser o seu papel. A polícia tem um papel educativo, um papel que devia ser desenvolvido no sentido de permitir que haja de facto ordem, tranquilidade.”