Erdogan diz que "foi bem sucedida" a sua visita à Alemanha
DPA | Reuters | Lusa | AFP
29 de setembro de 2018
Naquela que foi a última etapa da sua visita de três dias à Alemanha, o líder turco inaugurou oficialmente, este sábado (29.09), em Colónia, uma das maiores mesquitas da Europa. Antes, reuniu com Angela Merkel.
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O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, inaugurou, oficialmente, este sábado (28.09), a mesquita central da polémica União Turco Islâmica para os Assuntos Religiosos (Ditib), em Colónia. No seu discurso, Erdogan disse que, e apesar das diferenças entre os dois países, a sua visita à Alemanha "foi muito bem sucedida", acrescentando ter ocorrido "num período muito crítico".
"Precisamos de deixar de lado algumas diferenças [com a Alemanha] e focar nos nossos interesses comuns", afirmou o líder turco, acrescentando que, com Angela Merkel e com o presidente Frank-Walter Steinmeier, discutiu temas como o investimento, o conflito na Síria e formas para combater "o racismo e a xenofobia".
O líder turco voltou a exigir uma luta mais determinada contra o movimento Gülen. E exortou uma "luta mais forte" contra o terrorismo na Europa, incluindo o partido curdo PKK, do Partido dos Trabalhadores.
A inauguração da mesquita de Colónia está envolta em polémica por ser dirigida pela Ditib, que está a ser investigada por suspeitas de passar informações a Ancara sobre os seguidores do teólogo turco Fethullah Gülen, que a Turquia acusa de estar por detrás do golpe de Estado falhado de julho de 2016.
Protestos
Em Colónia, centenas de pessoas, incluindo várias da comunidade curda, protestaram contra a visita de Erdogan à cidade. Na manhã deste sábado, foram muitos os que se juntaram no centro de Colónia para lembrar, entre outros, a deterioração da situação dos direitos humanos na Turquia. Os manifestantes ergueram vários cartazes com mensagens: "Fim à ditadura de Erdogan" e "Erdogan - vá para casa" – foram alguma delas.
Apesar dos milhares de manifestantes, a situação permaneceu calma, disse a polícia. O líder turco contou também com o apoio de centenas de seguidores que marcharam no bairro onde está localizada a mesquita, hoje inaugurada.
Evento cancelado
Inicialmente, estava previsto um discurso de Erdogan no exterior da mesquita ao ar livre. No entanto, na noite desta sexta-feira (28.09), as autoridades de Colónia cancelaram os planos, por razões de segurança.
Num evento através do Facebook, o Ditib convidou milhares de visitantes - cerca de 25 mil - para a inauguração da sua mesquita. À ultima da hora, a autarca da Colónia, Henriette Reker, comunicou a alteração e anunciou que iria ter lugar apenas uma cerimónia de inauguração para convidados, no interior da mesquita.
Mais de três mil polícias estiveram envolvidas na operação de segurança do evento.
Tensões
A chanceler alemã, Angela Merkel, recebeu, este sábado (29.08), em Berlim, o presidente turco para um pequeno-almoço de trabalho. Um porta-voz de Angela Merkel adiantou que neste encontro, que durou cerca de duas horas e meia, os dois líderes exploraram formas de melhorar a "cooperação bilateral", abordaram a questão da imigração e "os interesses comuns na luta contra o terrorismo".
Já a noite desta sexta-feira (28.09) ficou marcada por tensões. No banquete de Estado de homenagem ao líder turco, o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, lamentou a deterioração do estado de direito e dos direitos humanos na Turquia. Por seu lado, Erdogan acusou a Alemanha de sediar "centenas, milhares" de terroristas.
Também nos encontros anteriores, os sinais de reaproximação entre a Alemanha e a Turquia eram tímidos. A chanceler Angela Merkel e o presidente federal Frank-Walter Steinmeier pediram o cumprimento da liberdade de imprensa e dos direitos humanos. No fim do seu primeiro encontro com o líder turco, Merkel frisou as"diferenças profundas" existentes entre os dois países.
Cronologia da Guerra na Síria
Começou com protestos pacíficos em 2011, mas tornou-se numa guerra civil que já matou 350 000 pessoas e fez milhões de refugiados. Um conflito complexo com vários atores e repercussões à escala internacional.
Foto: Getty Images/AFP/G. Ourfalian
2011: O início e uma Primavera que não foi
A “Primavera Árabe” estende-se à Síria e começam a emergir protestos contra a família Assad, que lidera o país há mais de quarenta anos. O movimento contra o Governo ganhou amplitude na cidade de Deraa, no sul, alargando-se a todo o país. Ao contrário de outros países, onde as manifestações resultaram em mudanças quase imediatas, na Síria marcavam o início de um conflito sem fim à vista.
Foto: picture-alliance/dpa
2012: Escalada de violência e formação da oposição
A violenta repressão por parte de milícias do Governo de al-Assad contra manifestantes desarmados fez escalar a onda de violência. Grupos da oposição, representativos das diferentes ideologias e fações religiosas, começam a organizar-se a partir de 2011, como o Conselho Nacional Sírio, o Comité de Coordenação Nacional, o Exército Livre da Síria (foto) e o Conselho Nacional Curdo.
Foto: AP
2013: Desmantelamento de arsenal químico
Um ataque químico em dois setores rebeldes perto de Damasco, atribuído ao regime de al-Assad, faz mais de 1400 mortos, de acordo com os Estados Unidos. O regime sírio desmente. O então Presidente dos EUA, Barack Obama, estabelece com a Rússia um acordo de desmantelamento de armas químicas da Síria. Em outubro, Damasco inicia a destruição do seu arsenal declarado de armas químicas.
Foto: picture-alliance/AP Photo
2014: A ameaça do "Estado Islâmico"
Apoiada por Washington, uma coligação de mais de 60 países realiza ataques aéreos contra as posições do autointitulado “Estado Islâmico” (EI) na Síria. Cerca de 2000 militares norte-americanos são colocados no norte da Síria, para combater o EI e treinar as forças locais. Em junho, o EI proclama "um califado", e torna a cidade síria de Raqa na sua capital.
Foto: picture-alliance/AP Photo
2015: Rússia entra abertamente no conflito
Em setembro, a Rússia, que desde o início fornecera ajuda militar ao Governo sírio, entra ativa e abertamente no conflito. Inicia uma campanha de bombardeamentos aéreos em apoio às forças de Bashar al-Assad, que leva o Governo sírio a recuperar território perdido para os rebeldes.
Foto: Reuters/Rurtr
2016: Governo controla Aleppo
Em setembro, num único fim de semana, a cidade de Aleppo é alvo de 200 ataques aéreos pelas forças pró-Assad. Em dezembro, após quatro anos de controlo desta cidade, a segunda maior da Síria, as milícias rebeldes acabam por perder Aleppo para as forças governamentais.
Foto: Getty Images/AFP/G. Ourfalian
2017: Ataque químico em Idleb
Um ataque de gás sarin mata mais de 80 civis em Khan Cheikhoun, localidade da província de Idleb, controlada pelos rebeldes e por 'jihadistas'. O regime de Bashar al-Assad é, uma vez mais, acusado de uso de armas químicas. O Presidente dos EUA, Donald Trump, ordena ataques à base aérea Síria de Al-Chaayrate, no centro do país.
Foto: picture alliance/AA/A.Dagul
2017 : Retoma de Raqa
Em outubro, depois de meses de luta, as forças democráticas sírias, dominadas por curdos e apoiadas pela coligação internacional, tomam o controlo de Raqa. A cidade esteve três anos sob o domínio do autointitulado “Estado Islâmico”.
Foto: DW/F. Warwick
2018: Turquia invade Síria e controla Afrin
Em janeiro, a Turquia, que mantinha um dispositivo militar no norte da Síria, lança uma grande ofensiva contra a milícia curda, as Unidades de Proteção do Povo (YPG), em Afrine. Em março, a Turquia acaba por tomar controlo desta cidade. As milícia curda YPG é considerada um grupo terrorista pelo Governo turco, pois é o braço sírio da organização curda da Turquia, o PKK.
Foto: picture alliance/AA/E. Sansar
2018: Forças pró-Assad bombardeiam e retomam Ghouta Oriental
O regime sírio lança uma ofensiva aérea e terrestre, de intensidade inédita, sobre o enclave rebelde de Ghouta Oriental, perto de Damasco. A ação resulta em mais de 1700 mortos, entre os quais crianças. Em abril, depois de bombardeamentos devastadores, mas também de acordos de evacuação patrocinados pela Rússia, o regime assume o controlo de Ghouta Oriental, último bastião dos insurgentes.
Foto: Getty Images/AFP/A. Almohibany
14 de abril de 2018: A resposta do Ocidente
EUA, França e Reino Unido realizam uma série de ataques contra alvos associados à produção de armamento químico na Síria, em resposta a um alegado ataque com armas químicas em Douma, Ghouta Oriental, por parte do Governo sírio. Trump justifica os ataques como uma resposta à "ação monstruosa" do regime de Assad contra a oposição e prometeu que a operação durará "o tempo que for necessário".