Apoio popular à imprensa livre cai para menos de metade
Maria João Pinto | Isaac Mugabi | Alex Gitta (Kampala) | Lusa
3 de maio de 2019
Há menos pessoas a apoiar uma imprensa livre em África. É a conclusão de um estudo do Afrobarómetro divulgado no âmbito do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, que se assinala esta sexta-feira.
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Cabo Verde, com uma diminuição de 27%, é o segundo país, atrás da Tanzânia, a registar a maior queda no apoio popular à liberdade de imprensa, desde que começou a ser seguido pelo Afrobarómetro, em 2011. Também em Moçambique o apoio à comunicação social livre caiu 15 pontos percentuais.
Os dados, baseados em inquéritos realizados em 34 países, revelam que os apoiantes de uma imprensa sem restrições são agora menos (47%) do que aqueles que acreditam que os governos devem ter o direito de proibir publicações que considerem prejudiciais (49%).
Gâmbia: liberdade de imprensa está de regresso
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A própria qualidade do jornalismo pode ser uma das razões por trás deste recuo, segundo Jeff Conroy-Krutz, que liderou o estudo da rede de investigação pan-africana: "Muitos meios de comunicação são tendenciosos, apresentam perspetivas muito limitadas", refere.
"Há preocupação quanto à queda da qualidade do jornalismo à medida que o número de atores nos média aumenta. Também há o aumento do discurso de ódio em muitos países e toda a atenção dada à desinformação - as 'fake news'. As pessoas podem não estar a reagir bem ao que vêem na comunicação social", comenta Conroy-Krutz.
Os ataques políticos à imprensa, diz o autor do estudo, podem também ter um papel relevante na queda do apoio popular à liberdade da comunicação social.
"Cada vez mais políticos poderosos, dirigentes africanos, mas também em todo o mundo, estão a atacar a imprensa, porque se sentem ameaçados por esta comunicação social com um novo fôlego. Os cidadãos podem estar a responder a estes ataques, a assumir posições mais negativas em relação aos média, e estão mais dispostos a apoiar as restrições governamentais", acrescenta.
Suspensos por falarem sobre opositor
Em destaque no relatório do Afrobarómetro, ao lado de Cabo Verde, surge também o Uganda, com um declínio significativo (21%) no número de apoiantes da imprensa livre.
Bobi Wine sonha com a liberdade no Uganda
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Este é um dado divulgado numa altura em que os jornalistas ugandeses ameaçam sair à rua em protesto ou mesmo recorrer ao Tribunal Constitucional depois da suspensão de dezenas de profissionais de várias rádios e canais de televisão pela cobertura do caso do músico e líder da oposição Bobi Wine.
A estrela da pop ugandesa foi libertada esta quinta-feira (02.05) sob fiança depois de passar três dias numa prisão de segurança máxima, acusado de organizar protestos ilegais.
Vários jornalistas que cobriram o caso foram suspensos pela Comissão de Comunicações do Uganda. Outros dizem estar a ser alvo de ameaças e intimidações.
"Os jornalistas estão a ser acusados de promover a oposição e a receber chamadas telefónicas", denuncia o diretor da Rede de Direitos Humanos para os Jornalistas do Uganda, Robert Sempala.
Apoio popular à imprensa livre cai para menos de metade
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"É um desenvolvimento lamentável para semear o medo entre os meios de comunicação social e impedi-los de fazerem uma cobertura justa e objetiva da oposição e visões dissidentes", afirma.
Bobi Wine deverá ser julgado pela organização de um protesto, em julho passado, contra o imposto cobrado para a utilização das redes sociais, uma lei aprovada pelo Governo do Uganda em 2018 que o Afrobarómetro aponta como exemplo das crescentes medidas de restrição das liberdades e do acesso aos média adotadas no continente africano - medidas que muitos acreditam servir, sobretudo, para silenciar mensagens anti-Governo e pró-oposição, refere o relatório divulgado pela rede pan-africana.
Ainda assim, o estudo diz que, globalmente, há mais africanos a considerarem que a liberdade de imprensa para investigar e criticar os governos está a aumentar. Mas aponta um "paradoxo preocupante": os resultados revelam que aqueles que referem um aumento da liberdade de imprensa têm uma maior tendência para apoiar as restrições do Governo aos média.
Noutras palavras, a maioria dos africanos inquiridos pelo Afrobarómetro parece olhar para o aumento da liberdade de imprensa como um desenvolvimento negativo, dizem os autores.
Nelson Mandela: Uma vida pela liberdade
Sorridente: assim a maior parte dos sul-africanos pensa em Mandela. Carinhosamente apelidado de "Madiba" (seu nome xhosa), foi símbolo da nova África do Sul, de paz e tolerância. No dia 18/7/2018 teria cumprido 100 anos.
Foto: Getty Images
Primeiro escritório de advocacia para negros
Nelson Rolihlahla Mandela nasceu em 18 de julho de 1918 na província do Cabo Oriental, na África do Sul. Já durante os estudos de Direito, mostrava-se politicamente ativo, lutando contra o sistema de segregação racial apartheid. Em 1952, passou a trabalhar no primeiro escritório de advocacia do país dirigido por negros – que oito anos mais tarde seria consumido por um incêndio.
Foto: AP
Apartheid
O apartheid – a separação estrita entre negros e brancos na África do Sul, na época governada pela minoria branca – marcou a infância e juventude de Nelson Mandela. Seu pai lhe deu o nome Rolihlahla, que na língua xhosa significa "o que quebra ramos", ou, figurativamente, "agitador". A placa mostra uma "área branca" numa praia sul-africana.
Foto: AP
O boxeador
Na juventude, Mandela foi um entusiasta do boxe. "No ringue, classe, idade, cor da pele e prosperidade não representam nada" – assim ele explicava o seu amor pelo esporte. Mesmo durante os anos de prisão, ele se manteve em boa forma física. Treinamento com pesos, abdominais e flexões faziam parte de seu programa diário.
Foto: Getty Images
Prisão perpétua
A polícia contém uma multidão reunida diante do tribunal onde se realizam as audiências contra Mandela e outros ativistas anti-apartheid, em 1964. No chamado Processo Rivonia, Nelson Mandela é condenado à prisão perpétua por suas atividades políticas.
Foto: AP
Décadas de confinamento
A vida em cinco metros quadrados: nesta pequena cela na Ilha de Robben, Mandela passa 18 de um total de 27 anos de pena. Ele é o detento número 46664. "Lá, eu só era conhecido como um número", comentou, após sua libertação em 1990.
Foto: cc-by-sa- Paul Mannix
A luta continua
Enquanto Nelson Mandela estava na prisão, outros faziam avançar a luta contra o apartheid, sobretudo a sua então mulher, Winnie Mandela (c.). Ela se tornou líder ativista contra o governo minoritário branco.
Foto: AP
Apoio mundial
No Estádio de Wembley, em Londres, promove-se em julho de 1988 um concerto beneficente por Mandela. Músicos de renome internacional celebram seu 70º aniversário e protestam contra a segregação racial. Cerca de 70 mil espectadores assistem no estádio às dez horas de show, outras centenas de milhares acompanham pela televisão o evento transmitido para 60 países.
Foto: AP
Enfim, livre
Após 27 anos de prisão, Nelson Mandela é libertado em 11 de fevereiro de 1990. Ele e a esposa Winnie erguem os punhos em sinal de orgulho pela luta de libertação negra contra o regime de minoria branca do apartheid.
Foto: AP
Retorno à política
De volta à liderança do Congresso Nacional Africano (CNA), em maio de 1990 Mandela inicia as primeiras conversas com o então presidente sul-africano, Frederik Willem de Klerk (e.). Juntos, eles preparam o caminho para uma África do Sul sem apartheid. Por esses esforços, ambos são laureados com o Prêmio Nobel da Paz em 1993.
Foto: AP
Companheiros de luta
Oliver Tambo (e) und Walter Sisulu (d) contam entre os companheiros mais próximos de Mandela. Em 1944, fundaram a ala jovem do CNA e organizaram manifestações contra o regime racista. Sisulu foi condenado à prisão perpétua, juntamente com Mandela; Tambo passou 30 anos no exílio, principalmente em Londres. Após 1990, todos os três ocuparam cargos de liderança no CNA.
Foto: AP
Posse como presidente
Em 10 de maio de 1994, a África do Sul escreve história: após as primeiras eleições livres e democráticas, Nelson Mandela é eleito primeiro chefe de Estado negro do país. Ele permanece no cargo até 1999, quando passa a presidência ao seu herdeiro político, Thabo Mbeki.
Foto: AP
Reconciliação em vez de vingança
Para esclarecer os crimes do apartheid, Mandela cria a Comissão da Verdade e Reconciliação em 1996. O arcebispo sul-africano e futuro Prêmio Nobel da Paz Desmond Tutu é indicado para presidi-la. A atuação da comissão não fica livre de críticas: muitas vítimas não conseguem aceitar que basta os criminosos admitirem seus atos publicamente para ficarem impunes.
Foto: picture-alliance/dpa
A caminho da Copa 2010
Em 15 de maio de 2004, a África do Sul é escolhida como sede da Copa do Mundo de Futebol de 2010. Orgulhoso, Nelson Mandela ergue a taça. O país inteiro o aclama, em júbilo, como aquele que abriu os caminhos para o grande evento esportivo. Tratou-se do primeiro Mundial de futebol realizado em solo africano.
Foto: AP
Sombras sobre a Nação do Arco-Íris
Em 2008, a xenofobia e a violência eclodem em diversos bairros pobres das metrópoles sul-africanas. A brutal caça aos imigrantes leva à morte de várias pessoas. Muitos se perguntam: terá fracassado a "Nação do Arco-Íris" fundada por Mandela, em que todos deveriam conviver em paz?
Foto: AP
Da política à família
Nos últimos anos de vida, Nelson Mandela ficou mais afastado dos palcos públicos, recolhendo-se cada vez mais ao círculo familiar. Aqui, em 2011, ele festeja seus 93 anos, ao lado dos netos e bisnetos.
Foto: dapd
Funeral de Nelson Mandela
A 5 de dezembro de 2013, "Madiba" morreu em Joanesburgo. Dez dias mais tarde, teve lugar a cerimónia de despedida de Mandela na localidade de Qunu onde passou a sua juventude. Velas iluminaram um perfil do líder sul-africano. O luto foi universal: nos EUA, o então Presidente Barack Obama mandou hastear as bandeiras a meio mastro. Em 18 de julho de 2018, teria festejado o seu 100° aniversário.