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App para monitorizar eleições em Angola com poucas denúncias

25 de agosto de 2017

Criada para monitorizar as eleições angolanas, a aplicação Zuela não recebeu muitas denúncias, como era esperado. Membro do projeto critica a falta de transparência do processo eleitoral. E promete continuar vigilante.

Foto: Getty Images/AFP/I. Sanogo

Zuela - que no idioma kimbundu significa "fala" ou "diz"- é uma aplicação para smartphones, telemóveis android ou computadores, criada para que irregularidades eleitorais ou violações de direitos humanos sejam levadas a conhecimento público. Além de registar denúncias, serve para que cidadãos participem na vida pública em seus países.

Era o que se esperava nesta quarta-feira (23.08), dia de eleições gerais em Angola, mas os registos e denúncias foram poucos.Ainda assim, Florindo Chivucute, um dos membros do projeto, prometeu, em entrevista à DW África, que os seus idealizadores continuarão a monitorizar as violações de direitos humanos, a violência e a corrupção em Angola.

Querem lutar por mais democracia, independente de quem ganhe a disputa nas urnas. Contudo, também critica a "falta de transparência" no processo eleitoral do país, uma das razões pelas quais a aplicação também existe.

Ativistas criam app para monitorizar eleições em Angola

01:16

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DW África: Como foi o acompanhamento das eleições pelo Zuela? Receberam denúncias? 

Florindo Chivucute (FC): Acompanhamos de perto o processo eleitoral em Angola a partir do Zuela. As mensagens entraram e algumas pessoas enviaram sms. Na sua maioria, as denúncias não foram graves. Um exemplo foi o de indivíduos que vivem em Viana, mas que receberam permissão para votar em Benguela, numa outra província. Um grande número de indivíduos que não foram credenciados. Nós também recebemos queixas vindas da província Huíla, de uma associação que desenvolve trabalhos lá e no Cunene. Foi uma queixa relacionada à intimidação. 

DW África: Como isso aconteceu, exactamente?

FC: Estavam a intimidar as pessoas que trabalham para essa organização na Huíla.

DW África: Há denúncias graves, então?

Idealizadores do app "Zuela", uma plataforma da ONG "Friends of Angola" (Amigos de Angola, em português)Foto: DW/M. Luamba

FC: A denúncia mais grave que documentamos com a app Zuela, antes do processo eleitoral, tem a ver com violação de direitos humanos. Foi a de um indivíduo, membro da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE) que terá sido esfaqueado pelo fato de carregar a sua bandeira. Também há o caso de um indivíduo preso. Ainda não sabemos detalhes, mas diz respeito a alguém que estava a reclamar e acabou preso. Uma outra questão que chegou até nós foi sobre o grande número de pessoas que estavam a manifestar perante os escritórios da Comissão Nacional Eleitoral (CNE). Eram jovens que estavam a pedir empregos, porque haviam sido treinados para trabalhar, mas nunca chegaram a ser empregados. Em Viana, há relatos de tiroteios; entretanto, ninguém foi morto.

DW África: Como avaliam o número de relatos recebidos? É menor do que o esperado?

FC: Os números não foram tão altos, como esperávamos. Gostávamos de ter tido mais participação, mas é um bom princípio para nós. Afinal de contas, a ferramenta é nova. Além disso, o Zuela não foi criado apenas para o processo eleitoral. Mas também para monitorar a corrupção e conflitos. Continuar a educar a população sobre a actualidade do Zuela. Penso que alcançaremos melhores resultados.

DW África: O que explica essa baixa adesão?

FC:  várias razões. Primeiro, o Zuela é uma nova ferramenta. Segundo, não tivemos uma grande campanha de educação. Somos uma organização pequena e os fundos que nos foram dados, através da National Endowment for Democracy (NED), nos EUA, é o único  que temos. Recebemos algo em torno de 50 mil dólares. Quer dizer, não tivemos capacidade logística para educar a população em todo país. Estávamos conscientes disso. Mas, com o pouco que temos, decidimos, em vez de ficarmos parados, continuar com o trabalho. E vamos continuar a educar a população em Angola. Afinal, seja lá quem ganhe as eleições, nós vamos ter der continuar a educar a população a participar de forma pacífica. É esse nosso objetivo.

DW África: O que farão com as informações até agora recolhidas?

App para monitorizar eleições em Angola com poucas denúncias

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FC: Evidentemente, estamos a verificar todos os dados porque talvez nem todos sejam credíveis e essa é uma das nossas preocupações. Teremos de analisar, como já fazem nossos colegas em Angola. Mas é uma parte do processo: vamos verificar a autenticidade das informações e partilhá-las com nossos parceiros. Depois, eventualmente, traçar um plano estratégico para o Zuela, para os próximos dois ou três anos, em termos de divulgação e educação. Mas essas informações não serão guardadas em gavetas. Vamos colhê-las para partilhar com organizações, incluindo o próprio Governo angolano, se estiverem interessados.

DW África: Acredita que houve transparência nessas eleições?

FC: Infelizmente, o processo eleitoral não foi transparente. 

DW África: Então, qual será a importância das redes sociais nessas eleições?

FC: Certamente que em Angola [as redes sociais] não foram uma exceção, mas teve grande impacto porque não temos liberdade de imprensa. As pessoas olharam para as redes sociais como uma alternativa para se comunicar. Jogaram um papel importante, porque mudaram a equação política; mas, de novo, os resultados não são tão significativos, pois, afinal de contas, o processo não foi transparente.

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