Apreensão na véspera de eleições gerais na Libéria
Lusa | AFP
9 de outubro de 2023
A Libéria realiza eleições presidenciais e legislativas na terça-feira, com organizações internacionais a mostrarem preocupação devido ao histórico de guerras civis. Violência marcou encerramento da campanha eleitoral.
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A antiga estrela do futebol George Weah, Presidente desde 2018 e candidato a um segundo mandato pela Coligação para a Mudança Democrática, prometeu eleições "pacíficas, justas e credíveis".
O seu principal rival nesta eleição é Joseph Boakai, do Partido Unidade, antigo vice-presidente (2006-2018), que conta com o apoio do "senhor da guerra" e atual senador Prince Johnson.
Mais de 2,4 milhões de eleitores estão recenseados para as eleições presidenciais, que contam com 20 candidatos, e para as eleições legislativas, às quais concorrem 46 partidos e que visam eleger 73 deputados e 15 senadores em fim de mandato, dos 30 existentes no país.
Apesar das atrocidades cometidas durante as guerras civis, entre 1989 e 2003, que causaram a morte de mais de 250.000 pessoas e incluíram massacres, mutilações, violações, canibalismo, e uso de crianças-soldado, ainda não houve qualquer julgamento na Libéria.
Em abril, sob a égide das Nações Unidas (ONU) e da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), todas as partes na corrida assinaram um compromisso de se absterem de violência e a utilizarem as instituições judiciais para resolver os litígios eleitorais.
Eleições na Libéria: conheça Joseph Boakai
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Campanha eleitoral violenta
Os concorrentes prometeram eleições pacíficas, mas durante a campanha eleitoral, que se iniciou em agosto e terminou à meia-noite deste domingo (08.10), três pessoas foram mortas em confrontos entre apoiantes dos dois principais partidos no noroeste da Libéria, na região de Lofa, alimentando, assim, os receios de violência eleitoral no país, que sofreu guerras civis consecutivas entre 1989 e 2003, que deixaram mais de 250.000 mortos.
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A CEDEAO e a ONU condenaram "com toda a veemência" os confrontos e apelaram aos líderes dos dois principais partidos "para que exortem fortemente os seus apoiantes a absterem-se de qualquer provocação e de qualquer outro ato de violência".
As organizações também instaram a Polícia Nacional da Libéria a restabelecer a calma e a "efetuar investigações rápidas e imparciais, tornar públicas as suas conclusões e assegurar que os autores dos crimes sejam levados à justiça". Os dois partidos políticos acusaram-se mutuamente dos confrontos.
Na quarta-feira passada, as Nações Unidas reiteraram a sua preocupação com a violência antes das eleições e apelaram a todas as partes para se absterem de qualquer incitamento ao ódio ou ao derramamento de sangue.
Jovens pedem uma vida melhor
A paz e o desenvolvimento estão entre as principais prioridades dos eleitores antes da primeira volta das eleições na terça-feira.
Os jovens, num país onde mais de 60% da população tem menos de 25 anos, pedem que quem ganhe assegure "um melhor sistema de saúde e de educação, uma vida mais barata, mais estradas, mais empregos e a preservação da paz".
Mais de um quinto da população vive com menos de 2,15 dólares (cerca de 2,04 euros) por dia, de acordo com o Banco Mundial, e o preço dos bens alimentares disparou.
Uma segunda volta das eleições está prevista para o início de novembro, se nenhum candidato obtiver maioria absoluta à primeira.
George Weah: De estrela do futebol a Presidente da Libéria
A sua vida dava um filme. O filho de um modesto mecânico tornou-se um futebolista de elite na Europa. Agora foi eleito Presidente da Libéria. A DW África revê a vida de Weah em imagens.
Foto: picture alliance/dpa/AP Photo/A. Dulleh
Uma nova estrela do futebol
Fora da Libéria, Georges Weah é muito mais conhecido como futebolista. Foi mesmo considerado um dos melhores pontas-de-lança da sua geração. O futebol fê-lo escapar a uma vida difícil. Filho de um mecânico, cresceu num dos bairros de lata da capital liberiana. A família mergulhou na pobreza após a prematura morte do seu pai. Felizmente, Weah foi descoberto por um clube liberiano de futebol.
Foto: picture-alliance/DPPI Media
Dos Camarões a França
George Weah foi o melhor marcador na Libéria em 1987, jogando no Invencible Eleven, a melhor equipa do país, à altura. Quando o seu clube defrontou os camaronenses do Tonnerre Yaoundé, os dirigentes, notando o seu talento, ofereceram-lhe um contrato. Mas a vida nos Camarões não foi fácil. Weah vivia com outros jogadores e teve dificuldades em adaptar-se ao francês, a língua nacional do país.
Foto: DW/M. Edwin
Em grande na Europa
Depois de seis meses nos Camarões, Weah transferiu-se para os franceses do Mónaco em 1988. Era o começo da sua carreira de sucesso na Europa que o levou aos principais clubes e ligas continentais. Foi o melhor futebolista do mundo em 1985 e foi três vezes eleito futebolista africano do ano. O antigo treinador do Milan, Arrigo Sacchi, disse sobre ele que "em cada momento Weah reinventa o futebol".
Foto: picture-alliance/AP Photo/C. Fumagalli
O sonho falhado de um Campeonato do Mundo
Mas enquanto Georges Weah tinha sucesso na Europa, o seu sonho de jogar uma fase final de um "Mundial" ficou por concretizar. Em 2002, a Libéria qualificou-se para a CAN no Mali. Weah era o diretor técnico e jogador, mas renunciou após a eliminação na fase de grupos.
Foto: picture-alliance/empics
Combatendo a pobreza e as violações dos direitos humanos
Weah usou o seu sucesso para ajudar os menos afortunados. Em 1997, o fundo das Nações Unidas para as crianças (UNICEF), nomeou-o representante especial para o desporto. Weah doou avultadas quantias para caridade, o que o tornou ainda mais popular no seu país, devastado pela guerra, e com o qual sempre manteve contacto próximo ao longo dos anos.
Foto: AP
Vida familiar
George Weah é casado com Clar, uma cidadã norte-americana com raízes jamaicanas. O casal tem três filhos. O seu filho mais velho seguiu as pisadas do pai como futebolista. Weah deu o nome da sua mulher a uma televisão liberiana que adquiriu: "Ela sempre me apoiou e motivou a fazer algo pelo meu país", referiu Weah à revista alemã "Stern" em 2008.
Foto: picture-alliance/DPPI Media
2005: candidatura surpresa a Presidente
George Weah teve de lidar com algumas contrariedades após o final da sua carreira. Tornou-se político e candidatou-se às primeiras eleições presidenciais democráticas liberianas depois do final da guerra civil, em 2005. Ficou em segundo lugar, perdendo para o antigo vice-presidente do Banco Mundial Ellen Johnson-Sirleaf, que venceu com 59,4 por cento dos votos. Weah conseguiu 40,6 por cento.
Foto: Getty Images/C. Hondros
O trabalho no Parlamento
Depois de uma candidatura sem sucesso para se tornar vice-presidente em 2011, Weah ganhou um lugar no Senado, a câmara alta do Parlamento, em 2014. Bateu o seu maior rival, o filho da Presidente Johnson-Sirleaf, por larga margem, conquistando 78 por cento dos votos. Mas, de acordo com os "media" liberianos, Weah raramente era visto no Parlamento, não dando o seu apoio a nenhuma legislação.
Foto: AFP/Getty Images/Z. Dosso
2017: Segunda tentativa
George Weah tinha já provado ser um lutador na política. Em 2017 ele concorreu de novo à presidência. Enquanto os seus apoiantes continuavam a seguir o líder, a decisão de Weah de escolher Jewel Taylor para o acompanhar chocou quer compatriotas quer estrangeiros. Ela é a ex-mulher de Charles Taylor, antigo Presidente liberiano, condenado em 2012 por crimes de guerra.
Foto: Getty Images/AFP/I. Sanogo
O novo Presidente da Libéria
George Weah venceu a primeira volta das eleições em outubro de 2017. A necessária segunda volta foi adiada pelo Supremo Tribunal liberiano após queixas de fraude interpostas por outra candidatura. Weah venceu a segunda volta, a 26 de dezembro de 2017, com 61,5 por cento dos votos, contra 38,5 do antigo vice-presidente Joseph Bokai, célere a reconhecer a derrota e a congratular Georges Weah.