1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW
SociedadeÁfrica do Sul

Arcebispo sul-africano Desmond Tutu morre aos 90 anos

Michael Hartlep | Madalena Sampaio | com agências
26 de dezembro de 2021

O arcebispo sul-africano Desmond Tutu morreu este domingo (26.12), aos 90 anos de idade. Foi um dos rostos mais visíveis da luta contra o apartheid, o regime racista na África do Sul.

Anglikanische Geistliche und Menschenrechtler Desmond Tutu verstorben
Foto: Paul Hawthorne/Getty Images

Desmond Tutu foi um dos rosto mais visíveis da luta contra o apartheid, o regime racista na África do Sul. Depois do fim da segregação racial no país, Tutu fez tudo para promover "o amor e o perdão".

Com os seus esforços, tornou-se um símbolo para muitos movimentos de libertação em todo o mundo.

O sul-africano venceu o prémio "Templeton 2013" pelo seu trabalho em prol do amor e do perdão e pelos seus princípios espirituais. O anúncio foi feito em abril de 2013 pela Templeton Foundation, a organização que atribui o galardão.

"Quando se está numa multidão e se sobressai dessa multidão normalmente é porque se está a ser carregado nos ombros dos outros", afirmou quando soube que o prémio lhe tinha sido atribuído.

Defensor da justiça

Arcebispo, reconciliador e defensor da justiça social, Desmond Tutu desempenhou muitos papéis ao longo da sua vida. Tornou-se mundialmente famoso nos anos 80 por causa do seu empenho na luta contra o regime do apartheid na África do Sul.

Tutu falava da injustiça sem incitar abertamente o ódio. Como aconteceu em fevereiro de 1991. Nessa altura, o país era um barril de pólvora. Depois de décadas de opressão do povo negro, o Presidente Frederik de Klerk liberta alguns presos políticos, como Nelson Mandela, e autoriza os seus partidos e organizações. Também nesta altura, Desmond Tutu encontra as palavras certas: "Seremos livres! Todos nós - negros e brancos juntos!"

Foi em momentos difíceis como este que Tutu mostrou a sua força e os seus ideais, em prol de uma "nação arco-íris”, pela paz e a reconciliação - contra a violência. Objetivos pelos quais lutou toda a sua vida.

Desmond Tutu ao lado de Nelson Mandela (arquivo)Foto: Walter Dhladhla/dpa/picture alliance

Percurso teológico 

Desmond Tutu nasceu em 1931 na cidade mineira de Klerksdorp. Mais tarde torna-se professor. Opta depois por uma carreira teológica, tornando-se no primeiro bispo anglicano negro de Joanesburgo e mais tarde arcebispo da Cidade do Cabo.

Politicamente, sempre lutou contra a segregação racial e simpatizava com os objetivos do partido de Nelson Mandela, o Congresso Nacional Africano (ANC), que pretendia construir uma África do Sul não-racista e democrática. Um marco na luta contra o regime deu-se em abril de 1994, quando Tutu vota nas primeiras eleições livres e democráticas no país.

"Este é um dia incrível para todas as pessoas aqui presentes. E refiro-me a todos, negros e brancos. A partir de agora já não teremos de falar num regime ilegal. Este será o nosso Governo!", disse.

Após a queda do apartheid, o Presidente Nelson Mandela pediu a Desmond Tutu para liderar a Comissão de Verdade e Reconciliação, formada para investigar os abusos dessa era. Uma forma de começar a sarar as feridas deixadas pelo apartheid.

Observador crítico

Depois disso, Tutu continuou a manifestar-se bem alto contra a injustiça no mundo - independentemente dos governantes. Acusou Tony Blair e George W. Bush de terem justificado a guerra com uma mentira e disse querer vê-los perante o Tribunal Penal Internacional, em Haia.

Desmond Tutu recebeu o prémio Nobel da Paz a 10 de dezembro de 1984 em Oslo (arquivo)Foto: dpa/picture alliance

Foi sempre um observador crítico do partido no poder na África do Sul. Protestou contra os contactos mantidos com o regime autoritário no Zimbabué e as excessivas elites políticas.

"Nos primeiros anos de liberdade, a maioria das pessoas tendia a votar no ANC. Isso agora já não é tão claro. As pessoas fazem perguntas e isso é algo bom. A democracia é exatamente isso", defendia o arcebispo.

Pela sua luta não violenta contra o apartheid, Desmond Tutu recebeu o Prémio Nobel da Paz em 1984. Entre os inúmeros prémios que lhe foram atribuídos também se incluem o Prémio Martin Luther King e o Prémio Gandhi da Paz, além de várias dezenas de doutoramentos honoris causa em todo o mundo.

"Novo capítulo de luto"

Num comunicado emitido, o Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, confirmou este domingo o falecimento e enviou as condolências à família. 

"A morte do arcebispo emérito Desmond Tutu é um novo capítulo de luto na despedida da nossa nação a uma geração de sul-africanos excecionais que nos legaram uma África do sul liberta", escreveu o chefe de Estado. 

Ramaphosa considerou Tutu "um homem de uma inteligência extraordinária, íntegro e invencível contra as forças do apartheid", mas que foi "também terno e vulnerável na sua compaixão por aqueles que sofreram a opressão, a injustiça e a violência" quer sob o apartheid quer sob opressores no mundo inteiro. 

O arcebispo anglicano estava debilitado há vários meses, durante os quais não falou em público, mas ainda cumprimentava os jornalistas que acompanhavam cada uma das suas saídas recentes, como quando foi tomar a sua vacina contra a Covid-19 num hospital ou quando celebrou os seus 90 anos em outubro. 

Saltar a secção Mais sobre este tema