Jovens reclamam da contratação de pessoas que não são da região pela mineradora que pretende explorar areias pesadas em Jangamo, no sul de Moçambique. ONG está a ajudá-los a formar uma associação para pedir trabalho.
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Artur Kamba, jovem residente no distrito de Jangamo, na província de Inhambane, disse à DW que os trabalhadores que foram contratados pela empresa Mutamba Mineral Sands, que vai explorar as areias pesadas de Jangamo, são, na sua maioria, oriundos de Maputo.
"Entre os que já foram contratados nem 20% de jovens locais estão lá. Estão a contratar pessoas que não são de Jangamo", lamenta.
"Nós pensamos fazer uma sessão com o governo e a empresa para podermos perceber porque não estão a contratar jovens locais e contratam pessoas de fora, porque isso é muito preocupante", confessa o jovem.
O projeto de exploração das areias será desenvolvido numa área de 25 mil hectares, onde está comprovada a existência de 4,4 mil milhões de toneladas de minérios. A produção experimental deveria ter arrancado em finais do ano passado, o que ainda não aconteceu.
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05:11
Jovens procuram oportunidades
Nilton António, residente em Jangamo, lembra que muitos jovens continuam desempregados, enquanto outros procuram novas oportunidades na vizinha África do Sul.
"Justamente o desemprego em Jangamo é um dos fatores que acontece muito. Fazemos negócios básicos, mas outros vão para a Africa do Sul e geralmente entregam-se à carpintaria e outros fazem biscates diários", relata.
A KUWUKA, uma organização não-governamental (ONG) que trabalha em advocacia em Inhambane, está a ajudar os jovens de Jangamo a organizar-se, para que consigam ter mais oportunidades de emprego.
"Não olhamos só para o emprego direto na mineradora, vemos também a questão do trabalho. Os jovens locais devem-se organizar em pequenas associações", defende Zito Covane, oficial de pesquisa da ONG.
Concurso para breve
José Jeremias, administrador do distrito de Jangamo, garantiu à DW África que a empresa que vai explorar areias pesadas prometeu lançar um concurso para contratar jovens na região.
"Eles prometeram lançar um concurso, só que ainda não tenho em mente o tipo de vagas. Assim que o lançarem, vamos anunciar aos nossos jovens e o concurso terá de ser público", explica.
A fábrica de processamento de areias pesadas terá a capacidade de processar 120 toneladas de minérios por hora e tem um investimento inicial previsto de dez milhões de dólares.
Moçambique: A polémica exploração de areias pesadas na Zambézia
A exploração de areias pesadas em Inhassunge, na província da Zambézia, continua a gerar polémica. Residentes não querem deixar as suas terras, mas muitos cedem à pressão do Governo e da empresa responsável.
Foto: DW/M. Mueia
Concessionária chinesa
A Africa Great Wall Meaning Company Development, uma empresa de capitais chineses, é a concessionária na prospeção e exploração das areias pesadas na província da Zambézia desde 2014. Segundo o Governo local, a Africa Great Wall atua nos distritos de Inhassunge e Chinde, onde detém propriedades de uso e aproveitamento da terra.
Foto: DW/M. Mueia
Moradores têm que deixar suas terras
A presença da empresa chinesa é polémica. Depois de confrontos violentos com a polícia, que resultaram na morte de pelo menos 4 pessoas em julho de 2018, a população de Inhassunge, que basicamente vive da agricultura, diz que aceita por imposição abrir mão das suas terras para a exploração das areias pesadas.
Foto: DW/M. Mueia
Terras rejeitadas
No entanto, o plano de reassentar as famílias abrangidas pelo projeto de exploração de areias pesadas fracassou. A população recusa-se a mudar para o novo espaço porque, segundo os moradores, as terras são áridas e não servem para a produção de qualquer alimento. Alé disso, não há no local condições para desenvolver a pesca, tal como existem nas suas zonas de origem.
Foto: DW/M. Mueia
"Recuso-me a ceder o meu espaço"
Albrinho Veloso vive na ilha de Mualane e não vê com bons olhos o projeto de exploração das areias pesadas pelos chineses: "Recuso-me a ceder o meu espaço. Há um ditado popular, na língua local, que diz que 'o futuro não é confiável', por isso, quero continuar a viver na minha terra com as condições favoráveis para a minha sobrevivência".
Foto: DW/M. Mueia
Sem energia elétrica
Há um ano, o Governo da Zambézia estendeu uma linha elétrica que parte de Quelimane, capital provincial, para a região de Inhassunge. Porém, a linha de média tensão ainda não cobre todos os lugares, como, por exemplo, as áreas onde estão a ser feitas as explorações de areias pesadas. Mais um problema que os habitantes põem em cima da mesa.
Foto: DW/M. Mueia
Acesso às ilhas
A vida nas ilhas daquela região não é fácil. Para chegar à Olinda e Mualane, em Inhassunge, onde as areias pesadas são exploradas, a principal portagem está ao lado de Quelimane, capital da Zambézia. Os bilhetes são vendidos por agentes da polícia marítima e alguns operadores privados que têm pequenas embarcações a motor. A viagem pode custar até 300 meticais (pouco mais de 4 euros).
Foto: DW/M. Mueia
Barcos de carga
As canoas a remo são os primeiros e únicos meios de transporte de mercadoria e carga para as ilhas. Os produtos de primeira necessidade para a população das ilhas em Inhassunge são adquiridos em Quelimane e transportados pelas canoas por jovens naturais do distrito. A viagem demora de 8 a 10 horas no mar.
Foto: DW/M. Mueia
Transporte de passageiros
Além do transporte de mercadorias, as canoas também são usadas para transportar passageiros. O custo deste transporte ronda entre 10 a 30 meticais (entre 0,10 e 0,40 cêntimos de euro). Além disso, há também serviços de aluguer diário de canoas, cujo preço é mais caro.