Milhares de pessoas saíram às ruas, em Argel, pela sétima sexta-feira consecutiva, e a primeira após a demissão do Presidente do país. Exigem demissão do primeiro-ministro e outros aliados do ex-chefe de Estado.
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Milhares de argelinos concentraram-se, esta sexta-feira (05.04), na capital para a primeira manifestação após a demissão do Presidente Abdelaziz Bouteflika, no início desta semana, e exigem agora a saída dos restantes dirigentes, com o apoio assumido do exército. Esta foi a sétima sexta-feira desde 22 de fevereiro, em que os argelinos se manifestaram contra a liderança política, que consideram "corrupta e repressiva".
Na manhã deste sábado (06.04), e depois da enorme afluência dos protestos de sexta-feira, os primeiros após a saída de Bouteflika, entra em campo a "operação limpeza". Uma parte fundamental para os organizadores do movimento à frente destas manifestações. Vários voluntários, juntamente com equipas de limpeza, recolhem as garrafas, papéis e todo o tipo de lixo que foram largados nas ruas, por ocasião dos protestos. O objetivo é claro: mostrar que estes protestos são diferentes, e acima de tudo, pacíficos.
Demissão dos "3B”
Após a saída de Bouteflika, os milhares de manifestantes querem agora a demissão do primeiro-ministo Noureddine Bedoui, do presidente do Conselho Constitucional Tayeb Belaiz, e do presidente da Câmara Alta do Parlamento, Abdelkader Bensalah, que designam por "3B" e a quem consideram serem membros "da máfia do poder" criada por Bouteflika.
"[A demissão de Bouteflika] é uma pequena vitória, mas os outros [dirigentes] devem sair também", afirmou Salim Mehdi à agência Associated Press, um manifestante de 40 anos que se dirigia com os restantes para o emblemático edifício dos correios, perto da sede do Governo no centro de Argel, capital da Argélia. Mehdi explicou que participava no protesto para mostrar a sua frustração perante um "sistema podre e corrupto", onde as mesmas caras estão no poder há demasiado tempo, e considerou ainda que as oportunidades económicas são limitadas fora das elites políticas, razão pela qual ainda vive com os pais e nunca se casou.
De regresso a casa...
Segundo a AFP, são vários os argelinos que têm regressado ao país nos últimos dias. "Tirei licença para estar aqui fisicamente", disse Chahrazade Kaci, que chegou de Londres poucos dias antes do presidente Abdelaziz Bouteflika se demitir. Para esta jovem, que passou quase metade da sua vida na capital britânica, estar, neste momento, na Argélia, "é um dever".
A partida de Bouteflika foi "apenas o começo", considera Kaci, afirmando que ainda "está para vir a partida do resto do 'bando' e a construção de uma segunda República".
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.