Na Argélia, cresce resistência ao quinto mandato de Abdelaziz Bouteflika. Estima-se 45 pessoas presas e mais de 180 feridos em protestos. Supõe-se serem as maiores manifestações anti-governo desde a Primavera Árabe.
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Na Argélia, milhares de manifestantes foram às ruas nesta sexta-feira (01.3), em várias partes do país, contra o plano de candidatura ao quinto mandato do Presidente Abdelaziz Bouteflika. Segundo informações de uma agência de segurança, estima-se que 45 manifestantes tenham sido presos durante os protestos e cerca de 56 policiais tenham sido feridos. O Ministério da Saúde reporta cerca de 183 feridos.
Neste sábado (02.3), a morte de um manifestante que participava dos protestos desta sexta-feira em Argel, capital do país, foi confirmada por um funcionário do Governo e um familiar. O ministro do Interior argelino, Nouredine Bedoui, informou que a vítima fora Hassan Ben Khedda, filho de um antigo político do país. "As investigações esclarecerão as causas e circunstâncias da morte ", disse o ministro através de um tweet.
Essa foi a primeira morte desde que protestos eclodiram pelo país, há uma semana. Um irmão da vítima culpou o que ele chamou de "gangue e seus bandidos" . Numa declaração pela internet, o familiar disse que Ben Khedda, que tinha cerca de 50 anos de idade, foi morto num confronto entre a polícia e "bandidos sem relação com o manifestantes".
Maiores protestos desde a Primavera Árabe
A polícia usou gás lacrimogêneo em vários pontos da capital para dispersar os manifestantes, relatam repórteres. Supõe-se que sejam os maiores protestos anti-governo desde a chamada Primavera Árabe, há oito anos.
Segundo agências de notícias, os manifestantes eram homens e mulheres de todas as idades, que acenavam bandeiras argelinas e gritavam "regimes de assassinato" ou "o povo exige a derrubada do regime". Fontes de segurança dizem que, somente na capital, milhares de pessoas saíram às ruas. Entretanto, houve protestos em quase dois terços das localidades a norte, a região mais povoada do país.
Os protestos desta sexta-feira foram os mais recentes de uma série de manifestações contra o Presidente Bouteflika e decorreram em resposta a chamadas de ativistas anônimos pela internet. Proibidas em Argel desde 2001, manifestações têm sido convocadas nas redes sociais como forma de protesto ao quinto mandato do Presidente.
Bouteflika, que completou 82 anos neste sábado, e que há cerca de 20 anos está no poder, sofreu um derrame em 2013 e raramente é visto em público. O organizador da sua campanha disse esta semana que o criticado líder apresentaria documentos para a candidatura às eleições de 18 de abril neste domingo (03.3), o último dia de inscrição.
Presidentes a todo o custo
São derrotados nas eleições, mas contestam os resultados. Mesmo depois de esgotarem todos os recursos, estes candidatos à mais alta magistratura continuam a reivindicar a Presidência.
Maurice Kamto: o auto-proclamado "presidente"
O candidato da oposição às presidenciais de 7 de outubro nos Camarões, Maurice Kamto, reivindica a vitória frente a Paul Biya. "Convido o Presidente da República a criar as condições para uma transição pacífica para proteger os Camarões de uma crise eleitoral desnecessária", declarou o líder do MRC - Movimento para o Renascimento dos Camarões.
Foto: AFP/Getty Images
Nelson Chamisa, o "presidente legítimo" do Zimbabué
O líder da oposição zimbabueana contesta a vitória do Presidente Emmerson Mnangagwa nas eleições de 30 de julho de 2018. Considera-se vencedor e reclama a cadeira presidencial numa cerimónia simbólica de tomada de posse, a 15 de setembro.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
Cissé rejeita a tomada de posse de Keïta
Soumaïla Cissé não marca presença na cerimónia e fala num vazio de poder no Mali depois da tomada de posse "nula e de efeito nulo" do seu rival, Ibrahim Boubacar Keïta, a 4 de setembro de 2018. A 20 de agosto, o Tribunal Constitucional do Mali declarou Keïta vencedor das presidenciais com 67,16% dos votos na segunda volta de 12 de agosto contra os 32,84% de Soumaïla Cissé.
Foto: DW/K. Gänsler
Raila Odinga, efémero "presidente do povo"
A 30 de janeiro de 2018, o opositor que tinha boicotado as presidenciais de outubro de 2017 contra Uhuru Kenyatta autoproclama-se "presidente do povo" perante milhares de apoiantes, numa cerimónia simbólica em Nairobi. O país é palco de violência pós-eleitoral, mas, a 9 de março, Odinga e Kenyatta surpreendem ao anunciar a sua reconciliação.
Foto: picture-alliance/Anadolu Agency/B. Jaybee
Jean Ping : "Exercerei o poder que me confiaram"
Dois anos após as presidenciais de agosto de 2016, o líder da oposição gabonesa continua determinado. A 31 de agosto, numa cerimónia de "homenagem aos mártires" da violência pós-eleitoral, em Libreville, diz que quer continuar a sua "luta" para "libertar" o Gabão. Jean Ping deposita esperanças nomeadamente no inquérito preliminar do Tribunal Penal Internacional sobre a crise pós-eleitoral no país.
Foto: DW/A. Kriesch
Kizza Besigye, o eterno rejeitado
Em fevereiro de 2016, o opositor histórico enfrenta Yoweri Museveni pela quarta vez no Uganda. Quando Museveni é declarado vencedor e se prepara para prestar juramento para um quinto mandato, Kizza Besigye toma posse como presidente numa cerimónia alternativa. Afirma "ter provas" da sua vitória. Detido e condenado por alta traição, é libertado algumas semanas depois.
Foto: DW/E.Lubega
André Mba Obame, o outro adversário de Ali Bongo
Inspirado pelos acontecimentos na Costa do Marfim, o antigo ministro "AMO" autoproclama-se presidente do Gabão, em janeiro de 2011, 17 meses depois de perder as presidenciais frente a Ali Bongo. Acusado de alta traição, refugia-se numa agência da ONU. Os problemas de saúde põem fim às suas ambições presidenciais. A sua morte, em abrir de 2015, aos 57 anos, leva a confrontos em Libreville.
Foto: cc-by-sa Ernest A. TEWELYO
Étienne Tshisekedi, duas vezes "presidente"
Em 2006 e 2011, o líder do principal partido da oposição congolesa (UDPS) declara-se vencedor frente a Joseph Kabila e "presidente eleito". Toma posse na sua residência em Limete, arredores de Kinshasa. O seu estado de saúde deteriora-se em 2014 e em 2017 morre com o eterno opositor o desejo de ocupar a cadeira presidencial.
Foto: picture-alliance/dpa/T. Roge
Laurent Gbagbo, opositor histórico
No ano 2000, o líder do FPI declara-se vencedor frente a Robert Gueï e pede aos costa-marfinenses que saiam à rua para fazer cair o general. Os manifestantes atacam os agentes de segurança do chefe da junta militar. Os protestos continuam até que a polícia e, mais tarde, o exército, começam a passar para o lado de Laurent Gbagbo.
Foto: AP
John Fru Ndi às portas do palácio presidencial
John Fru Ndi autoproclama-se presidente a 21 de outubro de 1992. Dois dias depois, o Supremo Tribunal declara Paul Biya vencedor do escrutínio presidencial. O fundador do SDF contesta estes resultados nas ruas. É declarado o estado de emergência no nordeste do país e John Fru Ndi fica em prisão domiciliária.