Argélia: Muda o Governo, mantêm-se as manifestações
Lusa
4 de janeiro de 2020
Os protestos voltaram, esta sexta-feira (03.01), às ruas de Argel. Mesmo com a nomeação do novo governo e a libertação de vários militantes do movimento "Hirak", no dia anterior, a manifestação mobilizou muitas pessoas.
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Nesta que foi a 46.ª sexta-feira consecutiva de protestos nas ruas da capital argelina, a adesão parece ter sido ainda maior do que as duas sextas-feiras anteriores, após a entrada em funções do novo Presidente argelino, Abdelmadjid Tebboune, eleito a 12 de dezembro, notou o repórter da AFP em Argel.
"A nossa marcha é pacífica, as nossas reivindicações são legítimas", entoaram os manifestantes que continuam a pedir o estabelecimento de um "período de transição" para desmantelar o "sistema" no poder na Argélia desde a sua independência em 1962.
Novo governo
Na quinta-feira (02.01), o novo presidente do país, Abdelmadjid Tebboune, que é também um ex-primeiro-ministro de Bouteflika, nomeou o seu primeiro Governo, composto por 39 membros. Abdelmadjid Tebboune tomou posse no dia 19 de dezembro, após as eleições impulsionadas por Gaid Salah, chefe do Estado Maior das Forças Armadas e considerado o homem forte do país desde a demissão do presidente Bouteflika, mas consideradas ilegítimas pelo movimento de protesto.
De acordo com a AFP, os três primeiros ministros anunciados -- Sabri Boukadoum para os Negócios Estrangeiros, Kamel Beldjoud para o Interior e Belkacem Zeghamti para a Justiça -- pertenciam ao executivo anterior de Noureddine Bedoui, que tinha sido nomeado em março por Abdelaziz Bouteflika, alguns dias antes de renunciar ao cargo devido à pressão ao movimento de contestação "Hirak", o movimento de contestação do regime iniciado a 22 de fevereiro e que levou em abril à demissão do Presidente Abdelaziz Bouteflika.
O novo Presidente argelino, eleito num escrutínio muito contestado e que registou uma taxa de abstenção superior a 60%, sugeriu ao "Hirak" um "diálogo para construir uma nova Argélia", que já foi recusado pelos manifestantes.
Também esta quinta-feira, numerosos militantes do "Hirak" foram libertados provisoriamente. Entre os 76 manifestantes libertados está Lakhadar Bouregaâ, veterano da Guerra da Independência, que se tornou um símbolo de repressão.
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.