Argélia: Eleições não prometem grandes mudanças políticas
Jennifer Holleis | Ismail Azzam
6 de setembro de 2024
A Argélia vai às urnas este sábado (07.09), para eleições que prometem trazer poucas mudanças políticas. Para a maioria dos observadores, já é claro que o atual Presidente Abdelmadjid Tebboune deverá ser reeleito.
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"Não há dúvida de que o atual Presidente Abdelmadjid Tebboune vai ser reeleito enquanto os militares continuarem satisfeitos com ele. Porque o poder na Argélia tem estado sempre nas mãos dos militares", afirma o investigador Hafed Al-Ghwell, da Universidade Johns Hopkins com sede em Washington.
O facto de não haver uma verdadeira oposição no país é outro forte indicador de que o atual Presidente será reeleito para um segundo mandato de cinco anos, defende o investigador.
Os países árabes em geral, ou os presidentes árabes, perceberam que a melhor maneira de se manterem no poder é através de eleições. Portanto, basicamente, vai ser mais ou menos um referendo sobre o presidente com resultados pré-determinados.
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Quem são os candidatos?
Apenas 16 dos 34 candidatos iniciais submeteram as suas candidaturas. Desses, apenas dois continuam na corrida para desafiar Tebboune, de 79 anos: Youcef Aouchiche, de 41 anos, da Frente das Forças Socialistas, e Abdellah Hassan Cherif, de 57 anos, do partido islamista Movimento para a Sociedade e Paz.
No entanto, os programas políticos dos três candidatos são bastante semelhantes, diz o analista político Zine Labidine Ghebouli
Os três diferentes candidatos estão a concentrar-se principalmente nos aspetos económicos dos atuais desafios que a Argélia enfrenta, como vias para alcançar a diversificação económica e para capacitar jovens empreendedores e atores económicos privados.
A economia da Argélia é largamente impulsionada pelas exportações de gás. A inflação no país ronda atualmente os 9% e, embora a Argélia não publique números oficiais desde 2019, a Organização Internacional do Trabalho sugere que a taxa de desemprego seja de 12%.
Maria Josua, investigadora do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (GIGA), sublinha que "os problemas que levaram a protestos em massa e à queda do anterior Presidente continuam a existir e até se agravaram”.
Estados autoritários que ignoram os interesses da população são apenas aparentemente estáveis e não conseguem resolver os problemas dos seus cidadãos a longo prazo. Por isso, o maior problema é o próprio Presidente: o desafio para o vencedor das eleições é governar sem legitimidade e a confiança do povo”.
O pesquisador Al-Ghwell não acredita que haverá grande afluência às urnas, dada a previsibilidade do resultado. No entanto, para o atual chefe de Estado, a participação será importante, pois já era baixa quando foi eleito em 2019, com menos de 40% dos votos .
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.