"Fora, Bensalah!", gritam os manifestantes nas ruas de Argel. Exigem a demissão do presidente interino do país, nomeado pelo Parlamento após a demissão de Abdelaziz Bouteflika. Polícia reprime protestos.
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Centenas de argelinos protestaram esta quinta-feira (11.04) no centro da capital contra o recém-nomeado presidente interino Abdelkader Bensalah. Os manifestantes exigiam a demissão de Bensalah, um dia depois de ele ter marcado as eleições presidenciais do país para 4 de Julho. Em Argel e na cidade de Bouira, a 100 quilómetros da capital, gritaram: "Vá embora, Bensalah!".
"Não queremos nem Bensalah nem aqueles que o nomearam. Não eles, mas o povo agora nomeia o Presidente. Nós decidimos em quem confiamos. E os outros - não precisamos deles, eles devem ir embora", afirmou um jovem manifestante em Argel.
A polícia usou gás lacrimogéneo contra manifestantes na capital. Os meios de comunicação social argelinos também relatam que a presença policial é muito mais forte do que nas semanas anteriores.
Na passada terça-feira (09.04), o Parlamento da Argélia nomeou Abdelkader Bensalah presidente interino do país, mas ele é considerado um produto do "sistema".
Bensalah, um seguidor de longa data do ex-chefe de Estado Abdelaziz Bouteflika, que se demitiu no início do mês, deve organizar uma eleição presidencial no prazo de 90 dias. Em consulta com os políticos e a sociedade civil, pretende criar uma instituição independente para garantir que as eleições sejam justas e transparentes.
Dedo em riste contra "influências estrangeiras"
A comissão eleitoral anterior estava sob o controlo do Governo e foi acusada pelos partidos da oposição de falsificar os resultados das eleições. Bensalah não adiantou de que forma a nova comissão eleitoral será formada ou quem especificamente estará envolvido.
Perante a continuação das manifestações no país, o chefe do exército Ahmed Gaid Salah afirmou que a fase de transição deve respeitar estritamente a Constituição do país. Atualmente, todas as posições importantes no Governo, no Conselho Constitucional e na presidência do Parlamento são ocupadas por seguidores de Bouteflika.
Argélia: Protestos contra o presidente interino
O general também falou de "influências estrangeiras" sobre o movimento de protestos. Sem nomear um Estado, Gaid Salah alertou contra as manipulações de um país que tinha uma história com a Argélia - provavelmente referindo-se à França: "Eles querem implementar seus planos de desestabilizar o país e semear a discórdia. Fazem-no através de exigências irrealizáveis, que conduziriam o país a um vazio constitucional e destruiriam as instituições do Estado. Querem provocar a declaração do Estado de emergência - algo que rejeitámos categoricamente."
A advertência contra "influências estrangeiras" sempre foi um dos argumentos padrão do regime argelino. O General Gaid Salah havia renunciado ao argumento durante algumas semanas. Em vez disso, enfatizou repetidamente que o exército está ao lado do povo. Mas, perante os contínuos protestos, o alerta contra a manipulação vinda do estrangeiro reaparece.
O chefe do gabinete argelino da agência noticiosa francesa AFP teve que abandonar o país, depois de ver rejeitada a renovação da sua acreditação, segundo a agência, qualificando a ação das autoridades como "inaceitável".
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.