Argelinos comemoram nas ruas demissão do Presidente
Reuters | AFP | Lusa | rl
3 de abril de 2019
Centenas de argelinos celebraram nas ruas de Argel a renúncia do Presidente Abdelaziz Bouteflika, que estava há 20 anos no poder. Demissão do chefe de Estado acontece após semanas de pressão popular e do Exército.
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Na Argélia, depois de seis semanas intensas de protestos, centenas de pessoas reuniram-se na noite de terça-feira (02.04) no centro da capital Argel para comemorar a renúncia do Presidente Abdelaziz Bouteflika.
Nas ruas, ouviram-se cantos e buzinas e agitaram-se dezenas de bandeiras nacionais. O sentimento é de esperança de uma nova era para o país.
"Vim para comemorar a renúncia de Bouteflika, conseguimos remover o maior pino, mas precisamos de remover todo o regime anterior e isso é difícil. É difícil fazê-lo pacificamente, mas estou confiante de que o povo argelino conseguirá fazê-lo em paz, se Deus quiser", disse Selmaoui Seddik, um dos cidadãos nas ruas.
"Estamos felizes com a demissão de Bouteflika. Eu estou do lado do exército", afirmou uma cidadã.
Argelinos comemoram nas ruas demissão do Presidente
O argelino Selim Sarar considerou que é preciso "continuar o movimento popular para que todas as reinvindicações do povo argelino sejam atendidas". Segundo este cidadão, "queremos um período de transição, com o povo no Governo, e não com o sistema atual, porque senão será como se este movimento nunca tivesse acontecido".
Abdelaziz Bouteflika renunciou, oficialmente, esta terça-feira ao cargo de Presidente, que ocupa há mais de vinte anos. O anúncio foi feito pela televisão, que citou fonte da Presidência.
Onda de manifestações
Esta é uma decisão que surge depois de uma onda de protestos nunca antes vista no país e à qual Bouteflika tentou responder com algumas promessas de mudanças.
Primeiro, a 11 de março, o gabinete da Presidência anunciou que Bouteflika iria retirar a sua candidatura a um quinto mandato. Anúncio este que não enfraqueceu os protestos nas ruas.
No último domingo (31.03), e em mais uma tentativa de acalmar as manifestações, o Presidente anunciou a nomeação de um novo Governo, que tinha como objetivo abrir a porta à renovação política no país.
No entanto, os argelinos não se mostraram agradados devido à óbvia proximidade entre alguns dos membros deste novo Executivo e a velha guarda de Bouteflika. Razões que pressionaram mais um anúncio, desta vez na segunda-feira, no qual Bouteflika garantia que abandonaria o cargo de Presidente antes de 28 de abril, data em que termina o seu mandato. Algo que acabou por se tornar oficial cerca de 24 horas depois.
Pressão do Exército
O anúncio da demissão de Bouteflika foi feito poucas horas depois do Ministério da Defesa do país ter exigido a sua retirada do poder. O chefe do Estado-Maior do Exército, o general Ahmed Gaid Salah, que foi em tempos um dos apoios do Presidente, afirmou que Bouteflika deveria ser declarado como inapto para o cargo. E grantiu que "a nossa decisão é clara e não há como voltar atrás. Estamos do lado das pessoas”.
O Conselho Constitucional deverá reunir-se, esta quarta-feira, para confirmar a renúncia de Bouteflika. De acordo com a Constituição da Argélia, em caso de renúncia do Presidente da República, o presidente do Conselho da Nação, neste caso Abdelkader Bensalah, deve ser conduzido ao cargo de presidente interino por um máximo de 90 dias, até que novas eleições possam ser organizadas.
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.