Armas, mortes e o início de um julgamento
6 de maio de 2011A NATO está muito bem informada sobre o local onde se encontra o dirigente líbio, Mouammar Kadhafi, escreveu o Süddeutsche Zeitung depois do bombardeamento efetuado contra a residência privada de um dos seus filhos, na qual também se encontrava o próprio Kadhafi. Daí que o jornal tenha concluído que, possivelmente, alguns "traidores" façam parte de um núcleo muito próximo do dirigente líbio.
Kadhafi e a esposa sobreviveram ao "raid", mas o seu filho mais jovem e três netos terão sido mortos. A Aliança Atlântica, que persegue Kadhafi, não confirmou essas mortes, escreveu o jornal, mas está claro que a NATO, mandatada pela ONU para proteger os civis, quer atingir Kadhafi e os seus próximos. Todos os filhos de Mouammar Kadhafi, nota mais à frente o diário, fazem parte do regime e exercem parcialmente funções oficiais. Mas, mesmo que Saif al-Arab, que terá sido morto no raid, tenha desempenhado um papel militar desde o início da insurreição, era certamente o menos importante do regime, conclui o Süddeutsche Zeitung.
A questão concernente ao fornecimento de armas aos rebeldes foi levantada num editorial do Tageszeitung, onde se lê que os ocidentais estão divididos sobre o assunto. O ceticismo do Governo alemão e de outros governos europeus é compreensível, destaca o jornal. Armar os rebeldes comporta riscos, tais como a possibilidade de uma parte das armas fornecidas chegar às mãos de extremistas anti-ocidentais. Por outro lado, será que os rebeldes não irão disparar contra civis ditos "inimigos"? As interrogações são justificadas, mas a estrita aplicação de um embargo mundial sobre as armas pode ter, na atual situação, consequências fatais.
Uma guerra não acaba quando terminam os fornecimentos de armas, pois quando ela começa, existe, no mínimo, um campo que estará muito bem armado. E no caso concreto da Líbia, este campo é o exército fiel a Mouammar Kadhafi. Por outro lado, um Governo tem mais facilidade em contornar o embargo e comprar armamento no mercado negro (ou com a ajuda de países amigos) do que os rebeldes. A neutralidade do embargo deverá pois beneficiar o ditador e agravar a situação dos rebeldes. O Tageszeitung conclui que os Estados ocidentais devem escolher o mal menor: aplicar o embargo das Nações Unidas sobre as armas unicamente contra o Governo líbio e não contra os rebeldes.
Início do julgamento de líderes das FDLR
Os jornais alemães também escreveram sobre os presumíveis crimes cometidos pela rebelião hutu ruandesa, das FDLR, Forças Democráticas de Libertação do Ruanda, no leste da República Democrática do Congo. O motivo foi a abertura, na passada quarta feira, em Estugarda, no sul da Alemanha, do processo de dois principais dirigentes das FDLR: o seu presidente, Ignace Murwanashyaka e o vice-presidente, Straton Musoni. Os dois são acusados de crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
"Fomentadores de guerras africanas domiciliados na Alemanha" - titulou o Frankfurter Allgemeine Zeitung ao recordar que os dois acusados vivem há cerca de 20 anos na Alemanha, de onde terão ordenado e coordenado, por telefone, massacres, violações e outros crimes de guerra. Este processo, lembra o diário, inaugura a aplicação do código sobre os crimes que violam o direito internacional e que entrou em vigor na Alemanha em 2002. A Alemanha não deu seguimento a um pedido de extradição apresentado pelo Ruanda, porque não tinha a garantia de um processo equitável naquele país africano, conclui o Frankfurter Allgemeine Zeitung.
Autor: António Rocha
Revisão: Marta Barroso